Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 31 OUT 2019 - 08H58

Principais afirmações da Reforma Luterana

O frade Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em Eisleben, cidade situada na atual Alemanha. Ele era filho de um administrador de minas que alcançou certa prosperidade.

Influenciado pelo pai, Lutero foi estudar direito, mas sua vontade era entrar para a vida religiosa. Em 1505, após quase ter morrido durante uma violenta tempestade, ingressou na ordem dos agostinianos que segue as ideias e as regras do teólogo e bispo Santo Agostinho.

Cidade de Eisleben e estátua de Martinho Lutero

Cidade de Eisleben e estátua de Martinho Lutero

Entre 1511 e 1513, Lutero aprofundou seus estudos religiosos e começou a amadurecer novas ideias teológicas. Numa das cartas escritas por São Paulo, ele encontrou uma frase que lhe pareceu fundamental: O Justo se salvará pela fé. Interpretando a frase, Lutero concluiu que os homens e as mulheres corrompidos pelo pecado original (segundo a doutrina cristã, o pecado cometido por Adão e Eva é transmitido a todos os seus descendentes, que nascem em estado de “culpa”), só poderiam salvar-se pela fé em Deus. A fé, e não as obras, segundo o pensamento que ele começa a desenvolver seria o único instrumento de salvação.

No dia 31 de outubro de 1517 Lutero escreveu ao Arcebispo de sua diocese, protestando contra a venda de indulgências, e expôs suas ideias a respeito, em um documento que ficou conhecido como as 95 teses. Este documento foi afixado na porta da igreja de sua cidade, lugar que era de grande visibilidade para todos.

A Doutrina Luterana tinha então três pontos principais:

  • Justificação pela fé: A pessoa é salva por meio da fé e não pelas obras que pratica. Justificativa seria o termo religioso para o perdão de Deus aos pecadores;
  • Sacerdócio Universal: Todos os crentes podem interpretar por si mesmos os textos sagrados. A leitura e interpretação das Sagradas Escrituras não eram competência só do clero e da hierarquia;
  • Negação da Infalibilidade da Igreja: A única fonte da verdade é a Bíblia, e não a tradição ensinada pela Igreja. Além do luteranismo não aceitar o culto aos santos católicos, a adoração de imagens religiosas e a autoridade do papa.

Lutero não pretendia opor-se à Igreja, muito menos criar uma nova religião; sua intenção era buscar o apoio do papa à sua condenação de venda de indulgências. O documento foi logo traduzido para o latim e impresso, transformando a disputa teológica em uma das primeiras polêmicas a ser difundida pela imprensa.

dieta de worms

A Dieta de Worms foi convocada para resolver a crise político-religiosa instaurada pelo movimento luterano

Entre 1517 e 1521, Lutero envolveu-se em discussões com os enviados do papa, que não aceitaram parte de suas teses. O embate terminou com a excomunhão de Lutero em 1521 e sua declaração como herético pelo Edito de Worms. O Imperador germânico Carlos V exigiu a prisão de Lutero, declarando como criminoso qualquer um que o abrigasse. Mas para demonstrar que não se importava com isso, Lutero queimou em praça pública o documento papal (bula) Exsurge Domine, que o condenava. Frederico III abrigou Lutero por quase um ano, e foi aí que ele começou a sua tradução da Bíblia.

 Expansão do movimento luterano

A importância da tradução de Lutero está no alcance de sua obra, que influenciou diversas outras edições posteriores, e no caráter político que ganhou por causa do movimento protestante. Em pouco tempo sua fama cresceu entre outros nobres da Alemanha, que se interessam pelas terras e riquezas que poderiam obter se apossando das terras e bens do clero católico, principalmente nas regiões do norte da Alemanha.

Grupos de camponeses e trabalhadores urbanos, por sua vez entenderam as ideias de Lutero como uma oportunidade de acabar com a exploração que sofriam por parte dos membros da nobreza do clero e da burguesia.

Os primeiros conflitos entre luteranos e católicos se iniciaram em 1522, quando alguns nobres, seguidores de Lutero, começaram a tomar terras pertencentes ao clero e a atacar domínios de nobres católicos. A relação dos atingidos foi rápida, e os ataques pararam.

Entre 1523 e 1525, camponeses alemães liderados pelo padre Thomas Münzer, revoltaram-se contra a servidão e outros abusos impostos pelo clero católico e pelos nobres. Apesar de os camponeses seguirem as ideias de Lutero, este condenou a revolta. Sabia que se apoiasse os revoltosos, perderia o apoio dos nobres em sua luta contra o clero católico tradicional.

Em 1526 foi decidido que os príncipes teriam autonomia para decidirem pela adoção ou não das posições luteranas até que um Concílio fosse convocado, decisão revogada três anos depois. Em 1529 nobres alemães luteranos protestaram contra as medidas da Igreja que impediam cada estado de escolher a própria religião. Desde então, o nome protestante espalhou-se pela Europa e passou a designar os cristãos que não fossem católicos ou ortodoxos.

A partir de 1530, com a publicação da Confissão de Augsburgo, que reunia as principais posições religiosas protestantes, o luteranismo foi institucionalizado e suas doutrinas complementadas nos anos seguintes, até sua formalização definitiva em 1580.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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