As redes sociais e a mídia apontam para o crescimento dos fenômenos de intolerância em âmbito mundial. São exemplos dessa escalada a retomada dos conflitos raciais nos EUA, a crescente rejeição dos imigrantes na Europa, o recrudescimento das tendências fundamentalistas no âmbito do islamismo e, no Brasil, o multiplicar-se das agressões contra quem não compartilha das mesmas ideias políticas e o renascer de manifestações em favor do retorno da ditadura militar.
O fenômeno mostra um incômodo coletivo que se expressa em manifestações de agressividade e em bloqueios do pensamento, com a consequente perda da capacidade crítica.
O psicanalista inglês, Bion, colocava como premissa da “capacidade de pensar” a possibilidade de suportar a “turbulência emocional”. Trata-se de um estado angustiante, embora necessário, em que a mente não consegue ainda formular pensamentos, pois é tomada pela confusão gerada pela ambiguidade percebida na tentativa de equacionar os estímulos instintivos do mundo interno e aqueles advindos da complexidade do mundo externo.
Neste sentido, um dos maiores pensadores contemporâneos, Sygmunt Bauman, identificou um fenômeno importante que caracteriza a nossa era: as manifestações do mundo atual são atravessadas pela sensação da “liquidez”. Nada se apresenta como estável, sólido, tudo é sujeito a trocas ocasionadas por interesses momentâneos e, muitas vezes, fugidios. O que é afirmado peremptoriamente hoje é esquecido amanhã, a fala é esvaziada, assim como as relações e as instituições.
Para a nossa estrutura psíquica esse fenômeno é de certa forma “enlouquecedor”, pois remete constantemente a um estado insuportável de insegurança, uma espécie de “duplo vínculo” (alternância de amor e ódio), que para a visão sistêmica da psicanálise é uma das causas da esquizofrenia de origem ambiental.
Uma possível reação em busca do apaziguamento das tensões internas é a fuga para uma postura defensiva, que “corta fora” a complexidade insuportável da realidade, numa simplificação de caráter psicótico em que a complexidade do mundo se torna o que o sujeito quer ver nele. Naturalmente os “objetos” que teimam em não se encaixar nessa visão são percebidos como “persecutórios” e, portanto, odiados pelo inconsciente que se relaciona com eles de forma paranoica.
Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar
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