O que fazer para superar a síndrome do ninho vazio, quando os filhos se casam e a casa fica vazia? (Anônimo)
O filme argentino “El nido vacío” representa de forma bastante clara a crise que o casal vive a partir do momento em que os filhos abrem asas e passam a viver suas próprias vidas longe dos pais. Várias questões emergem nesse momento da vida e se entrelaçam numa angustiante trama de sensações cujo desfecho psíquico pode ser mais ou menos difícil para o casal.
Obviamente, o mais afetado é o casal que fez do cuidado dos filhos o centro de sua vida matrimonial, deixando de cultivar a relação homem mulher e a própria vida pessoal.
Dependendo de sua intensidade, circunstâncias de diferente ordem podem contribuir para acentuar ou diminuir a sensação de angústia que toma conta do casal nesse período da vida. A mudança de rotina e a percepção de que um período da sua vida terminou levam o casal a perceber que está entrando em outra fase da vida, marcada pela sensação física de envelhecimento e pela dificuldade de se “sentir vivo” na vida pessoal e profissional. No filme, enquanto a mulher resolve retomar os estudos que deixou para ser mãe e se encaminhar para a vida acadêmica, o marido tenta resgatar sua profissão e um hobby de sua juventude.
A casa vazia, a percepção da decadência do próprio corpo, o fantasma da aposentadoria e as dificuldades de convívio do casal na nova situação, podem levar a um sentimento de perda. Algo morreu.
O processo do luto se instala, embora de forma diferenciada para cada psiquismo. A “negação” costuma ser a primeira reação: o casal tenta se convencer que nada mudou. Cobra maior proximidade dos filhos, tentando voltar “ao normal”.
O segundo momento é marcado pela “agressividade”. O casal começa a se agredir mutuamente, cada um do seu jeito: brigando ou se fechando no silêncio e no distanciamento.
O terceiro momento é atravessado por uma fase de “euforia maníaca”. No filme ele arruma uma amante mais jovem e ela começa a flertar e sair com os colegas de curso.
Finalmente, se tudo der certo, vem a sofrida “aceitação” da nova realidade e das pequenas e grandes frustrações que ela acarreta.
Somente assim o casal pode se encaminhar para a “retomada da vida”, muitas vezes significada pela chegada dos netos.
Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar
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