Por Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. Em Artigos Atualizada em 07 SET 2020 - 13H24

Independência e vida

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Sete de Setembro continua sendo o feriado nacional que nos faz relembrar o grito
“Independência ou Morte” de Dom Pedro I, às margens do rio Ipiranga, em 1822.

Contudo, essa independência que separou o Brasil de Portugal, passou longe da independência, da libertação do povo que habitava nossas terras e da maioria dos imigrantes pobres. A escravidão continuava, a cidadania era negada à maior parte da população, desde os analfabetos até as mulheres; enfim o Brasil independente era um país de pouquíssimos cidadãos.

A população se multiplicou, a República foi proclamada e as gerações se sucederam, mas o elitismo social e político transformou-se em cultura nacional, de tal modo que o termo 'democracia' não vai além de momentos mais ou menos manipulados por votações periódicas. O poder político e os direitos sociais jamais foram verdadeiramente populares.

Em nosso país, o poder sempre balançou como um pêndulo entre as altas patentes militares, em períodos de ditadura ou de controle político, e os grandes patrões ou empresários, tanto das terras, como das indústrias e das comunicações, que dominam os espaços decisórios dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

Por detrás dessas estruturas viciadas de poder, qual é o valor da vida e da pessoa humana?

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Leia MaisDos filhos deste solo, és Mãe gentil Sabemos que a qualidade de vida do ser humano depende da qualidade de vida de todos e de tudo que o envolve.

Se a terra é explorada além de suas forças, se a água e o ar são poluídos, se mais de dois terços das regiões urbanas são carentes de saneamento básico, se as florestas podem ser devastadas para o agronegócio, se o descarte das populações indefesas não passa de um efeito colateral inevitável do lema “Ordem e Progresso” de nossa bandeira, então estamos bem distantes do Independência ou Morte.

Parece até que Dom Pedro I criou um binômio em que o "ou" foi sendo substituído por "e": Independência e morte. Uma minoria de nossa população consome a maior parte das riquezas do país e acumula bens supérfluos ilimitados, enquanto a maioria deve lutar para ganhar o mínimo necessário de cada dia e, por mais que trabalhe, não consegue garantir sequer a própria sobrevivência.

É doloroso constatar que, na imensidão deste país, não sobra espaço para que cada família tenha sua moradia e tenha acesso a uma alimentação saudávelNão há educação básica e assistência à saúde com um mínimo de qualidade e garantia; não há possibilidade de um trabalho digno para alguns milhões de brasileiros. Quase que nos acostumamos com a esquizofrenia social, em que convivem o luxo e o lixo, o sofisticado e o miserável, os grandes shoppings e as imensas favelas que os rodeiam.

Se a grande questão do presente e do futuro do mundo é a sobrevivência da vida como um todo, e da vida humana em especial, infelizmente nossas instituições sociais e políticas estão progredindo na contramão de tudo o que significa viver e conviver com dignidadeQuando não se cuida da vida como um todo interligado, certamente, mais cedo ou mais tarde, também a vida do particular será afetada, e a ganância e o egoísmo social desembocarão em uma tragédia para toda a humanidade.

Que a celebração do dia da Independência do Brasil se transforme em um alerta para mudar o grito de Dom Pedro II em “Independência e Vida!”

Escrito por:
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. (Aquivo redentorista)
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R.

Missionário Redentorista e membro da Academia Marial de Aparecida

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