Sempre existe o desejo pela busca de nomes novos para a disputa de uma eleição, especialmente na crise ética que o país está vivendo. Parecemos estar sem alternativas. Desde que Donald Trump chegou à presidência dos Estados Unidos, uma expressão se tornou popular: “outsider” – traduzindo: estranho, alguém de fora da tradicional classe política. E já apareceram as versões brasileiras deste outsider: em 1989, o empresário e apresentador de TV Silvio Santos foi candidato à presidência, e recentemente Luciano Huck, também empresário e apresentador de TV, ensaiou uma candidatura.
Esses nomes cresceram com respaldo de pesquisas de opinião pública. Como explica o jornalista Gaudêncio Torquato, em artigo no jornal O Globo, tais nomes surgem e crescem pela falta de novas lideranças na política – como em tantas outras áreas da sociedade. A descrença do eleitor o faz se sentir atraído por quem tem visibilidade, apresenta mensagens positivas, otimistas e salvadoras e tem biografias de sucesso. No entanto, será que governar uma nação, um estado ou um município seria a mesma coisa?
De outro lado, surgem nomes que parecem estar “um tom acima” – definição minha –, que defendem um programa mais rígido e que vão ao encontro dos anseios dos mais descontentes com a atual conjuntura. É aí que se encaixa o perfil de Jair Bolsonaro, por exemplo. Sua postura militar e seu posicionamento firme sobre as demandas do país – especialmente a violência, a criminalidade e a corrupção – encontram boa aceitação. Costumo chamar esse perfil de candidato de “um tom acima”, por conta de certo exagero no conteúdo de suas propostas e nas formas em que são apresentadas. E, então, surge outra questão: há lugar para essa inflexibilidade no contexto crítico em que vive a política brasileira?
A crise não mudou as regras, em que se disputa o jogo político nacional. Não é à toa que Oscar Niemayer projetou as torres do Congresso Nacional como as mais altas da praça dos Três Poderes e de todo o plano piloto de Brasília. Um presidente sem apoio no Congresso cai. O presidente precisa saber dialogar com as forças do parlamento. Isso não mudou: os partidos vão continuar decidindo apoiar ou não propostas segundo liberação de verbas ou cargos. E sem essa capacidade, um governo para e não consegue fazer nada.
Infelizmente, essa é a regra do jogo que está valendo. E o próximo presidente vai ter de jogá-lo, se quiser ser capaz de criar no Brasil condições para voos mais altos. Ao mesmo tempo em que busca o equilíbrio das contas públicas e promove o aquecimento da economia, terá de buscar apoio para uma reforma política verdadeira, que, a longo prazo, leve ao surgimento de novas lideranças na seara política. É preciso construir um cenário para novas regras do jogo democrático. E isso exige coragem para o diálogo e conhecimento da estrutura
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.