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Foto: Elisângela Cavalheiro
Em 1998, no processo de beatificação, o Vaticano, por unanimidade, reconheceu as suas virtudes. Dentre as 30 mil graças estudadas aprovou, ainda por consenso geral, o milagre que salvou a vida de Daniela Cristina da Silva, que em 1990, aos 4 anos, padecendo de hepatite aguda do tipo A, desenganada, foi internada na UTI. Os pais e uma tia, decidiram entregá-la à proteção de Frei Galvão, ministrando pílulas e iniciando uma novena. Vencendo a hepatite aguda A, uma broncopneumonia, uma parada cardiorrespiratória, meningite, faringite e dois episódios de infecção hospitalar com paralisação dos rins e do fígado, Daniela, semanas mais tarde, teve alta do hospital, já completamente curada.
Reconhecendo esse milagre, e declarando Frei Galvão "o homem da paz e da caridade", São João Paulo II elevou à honra dos altares o filho que Guaratinguetá entregou para a glória dos céus.
O prazo entre a beatificação e a canonização de Frei Galvão foi de nove anos. O tempo não é considerado tão longo quanto se trata da santificação de um servo de Deus. Se não fosse um milagre ocorrido em São Paulo, talvez o Brasil ainda não tivesse o seu primeiro santo.
O milagre da canonização
O milagre foi relatado à Igreja em 2004, mas essa história começou cinco anos antes, em 1999.
A professora de química Sandra Grossi de Almeida, desde sua infância, sempre sonhou em ser mãe. Quando colocava as bonecas no colo, já imagina como seria quando fosse seu filho.
Porém, aos 29 anos, já havia sofrido três abortos espontâneos e praticamente tinha desistido da ideia de ter filhos. Devido à má formação do seu útero, levar qualquer gravidez adiante seria impossível segundo todos os obstetras que visitou.
Sabendo que seria dificílimo ter um filho por meios naturais, Sandra adotou Isabela, que hoje tem 23 anos. Entretanto, sem esperar, Sandra ficou grávida mais uma vez. Ás lembranças ruins da gravidez anterior voltaram a atormentá-la.
Aos dois meses de gestação, uma amiga da família, percebendo as dificuldades e a preocupação de Sandra, fez questão de ajudar. Levou até a casa dela uma novena de um Servo de Deus que havia sido beatificado um ano antes pelo Papa João Paulo II, Frei Galvão.
Mesmo sem conhecer o beato, a professora de química tomou a primeira pílula e começou a novena na mesma noite.
No dia seguinte, Sandra acordou sem nenhuma dor e um sangramento que tanto a preocupava, havia acabado.
A confiança no futuro santo brasileiro foi tão grande, que ela fez outra novena, desta vez pedindo para que o filho viesse ao mundo, se fosse da vontade de Deus.
Da mesma forma que a gravidez ia prosseguindo, os médicos iam desacreditando Sandra. Sua obstetra foi categórica: “Você deve conseguir segurar o bebê apenas até o quarto mês”.
Por isso, em todas as etapas da gestação Sandra começava uma nova novena e orava a Frei Galvão. Ela perdeu as contas do número de novenas que fez e de quantas pílulas tomou. E perdeu as contas também de quantas vezes a médica dizia que aquela gravidez não iria prosseguir.
O inesperado
Com a ajuda de Frei Galvão, Sandra surpreendeu os médicos. A gestação ultrapassou o quarto mês. A meta então era chegar ao sétimo mês, e com a ajuda dos recursos da medicina, poderia ser feito um parto prematuro e trazer o bebê ao mundo com chances de sobreviver com saúde.
A meta foi atingida. Quando Sandra chegou ao sétimo mês de gravidez, sua médica achou por bem interná-la até o momento certo de realizar o parto. Uma equipe com vários profissionais ficou a sua disposição, para o parto mais improvável daqueles profissionais.
Sandra e o filho insistiram em quebrar metas. A gravidez foi levada até a 32ª semana. No dia 11 de dezembro de 1999, com mais de 15 profissionais na sala de parto e num silêncio canônico, Sandra deu à luz a Enzzo. O primeiro grito do neném anunciava mais um milagre de Frei Galvão. O milagre em forma de vida.
Se não bastasse toda tensão durante a gravidez, Enzzo nasceu com um problema respiratório e teve que ficar entubado. No dia seguinte ao parto, Enzzo simplesmente arrancou sozinho o tubo que o ajudava a respirar e começou a respirar sem a ajuda de aparelhos.
:: Frei Galvão, Maria e sobrinha de santo
A retribuição
No início de 2004, com o filho Enzzo já com quatro anos completos e vendendo saúde, Sandra começou a sofrer de insônia. Durante uma dessas noites maldormidas, Sandra ouviu uma voz que lhe disse o seguinte: “Você sabe muito pedir, mas na hora de você divulgar, você esquece”.
Assim que mãe de Enzzo ouviu a voz, ela levantou-se da cama e foi até a sala. Pensou qual seria sua dívida de gratidão e o que poderia ter deixado de divulgar. Porém, nem precisou ponderar muito. Pouco depois, ela já descobriu. “É claro, só poderia ser Frei Galvão.”
Quando o relógio da sala marcava 4h, Sandra pegou uma folha de papel e uma caneta e começou a escrever. A carta seria escrita para contar às freiras do Mosteiro da Luz, em São Paulo, onde eram fabricadas as pílulas de Frei Galvão, a quantidade de coisas boas que Frei Galvão havia lhe proporcionado. Depois que concluiu a carta, Sandra deitou-se novamente e dormiu como uma “pedra”. A insônia parecia ter dado sossego a ela.
Na manhã seguinte, ela foi até os correios para enviar ao mosteiro a sua história. Depois de alguns problemas com a caixa postal do mosteiro, a carta chegou às mãos de irmã Célia, que leu e respondeu na mesma semana.
O segundo contato foi feito por telefone. Irmã Célia interessou-se pela história de mãe e filho e contou a Sandra tudo sobre o processo de canonização de Frei Galvão que estava em andamento.
A freira comentou com Sandra que faltava um milagre para que o beato fosse canonizado. Ela perguntou se Sandra tinha como comprovar toda a história da carta com documentos e depoimentos de testemunhas para ajudar na canonização do primeiro santo brasileiro. “Eu tinha todos os exames e laudos médicos guardados, desde o primeiro aborto espontâneo que tive”, contou.
Então, Irmã Célia levantou o maior número de documentos e depoimentos de testemunhas possíveis e partiu para o Vaticano.
O processo durou mais três anos, pois em 2007, na visita do Papa Bento XVI ao Brasil, Antônio de Sant'ana Galvão foi oficialmente canonizado.
Sandra e Enzzo não só participaram da missa de canonização celebrada no Campo de Marte em São Paulo, como subiram até o altar e encontraram-se com o pontífice.
Hoje Enzzo está com 17 anos, completa 18 em dezembro. “Eu me sinto abençoada e privilegiada com tudo isso. De alguma forma, não sei porque, eu fui a escolhida. Eu ganhei meu filho e o Brasil ganhou um santo", declara Sandra.
Devoção e pílulas milagrosas
Frei Galvão era um missionário e andava muito pelo interior. A devoção a ele começou pouco tempo depois de sua morte, em 1822, quando os devotos retiravam pequenos pedaços da sepultura.
Foto de: Fazenda Esperança
Atualmente as pílulas do santo são confeccionadas da mesma maneira como foram criadas. Elas trazem uma pequena oração, que foi retirada do ofício de Nossa Senhora, de quem Frei Galvão era devoto: “Depois do parto, ó virgem, permaneceste intacta; Mãe de Deus, intercedei por nós”.
O processo de confecção é simples, mas exige muita oração e dedicação. Escreve-se várias vezes a oração jaculatória, faz-se um canudinho e picota-se à mão. As pessoas que trabalham com isso são orientadas para fazer em oração, com energia positiva e com muita higiene.
As pílulas são confeccionadas pelas irmãs concepcionistas, em função da dedicação que Frei Galvão tinha para o Convento da Luz, em São Paulo. A fabricação da pílula também acontece pelas mãos de religiosas e voluntários leigos ligados à Arquidiocese de Aparecida, onde está instalado o Santuário Frei Galvão.
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