A inclusão da ideologia de gênero nos Planos Municipais e Estaduais de Educação ganhou forte repercussão no último mês. Os municípios tiveram até o dia 24 de junho para definir se adotariam a medida que estabelece que a identidade sexual de um indivíduo seria uma construção social que ele desenvolveria ao longo dos anos. Dessa maneira, os alunos não poderiam ser definidos como sendo do sexo feminino ou masculino. Nesse contexto de debates, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) exortou os cristãos a estar atentos e se fazerem ativos nessas votações.
A tentativa de inclusão em âmbito municipal e estadual contraria o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em abril do ano passado pelo Congresso Nacional, que rejeitou tal expressão. O objetivo da inserção é ensinar na teoria e na prática que o sexo biológico dado pela natureza não tem valor algum, ou seja, ninguém nasceria homem ou mulher, mas, sim, um indivíduo indefinido que, obviamente, definiria com o tempo se deseja ser homem, mulher ou neutro, independentemente de suas características fisiológicas. Defensores do modelo afirmam que ele ajudará a combater a homofobia e estimular o debate sobre as diferenças.
Foto de: Arquivo Pessoal
Jovens de Itajubá (MG) defenderam posicionamento
da Igreja durante sessão da câmara
O Conselho Permanente da CNBB, reunido em Brasília (DF), nos dias 16 a 18 de junho, manifestou que a postura de pretender que a identidade sexual seja uma construção eminentemente cultural, com a consequente escolha pessoal, não é caminho para combater a discriminação das pessoas por causa de sua orientação sexual.
Em nota, a CNBB diz que “o pressuposto antropológico de uma visão integral do ser humano, fundamentada nos valores humanos e éticos, identidade histórica do povo brasileiro, é que deve nortear os Planos de Educação. A ideologia de gênero vai no caminho oposto e desconstrói o conceito de família, que tem seu fundamento na união estável entre homem e mulher”.
Os bispos reconhecem a importância do trabalho de elaboração dos planos para os próximos dez anos. A conferência ressaltou que a proposta de universalização do ensino e o esforço de estabelecer a inclusão social como eixo orientador da educação merecem apoio e consideração da entidade ao apontar para a construção de uma sociedade na qual todas as pessoas sejam respeitadas.
Mas o organismo expressa que a introdução da ideologia na prática pedagógica das escolas trará consequências desastrosas para a vida das crianças e das famílias. Sobre a forma como esta questão está sendo levada, a CNBB manifestou que o mais grave é querer introduzir essas propostas de forma silenciosa, sem que os maiores interessados, que são os pais e educadores, tenham sido chamados para discuti-la. Os bispos frisam que a ausência da sociedade civil na discussão sobre o modelo de educação a ser adotado fere o direito das famílias de definir as bases e as diretrizes da educação que desejam para seus filhos.
A CNBB informou que reafirma o compromisso da Igreja em se somar aos que combatem todo tipo de discriminação a fim de que haja uma sociedade sempre mais fraterna e solidária. Reforçou ainda que reafirma também o papel insubstituível dos pais na educação de seus filhos e primeiros responsáveis por introduzi-los na vida em sociedade.
Recentemente, Papa Francisco também se manifestou sobre a ideologia de gênero. O Santo Padre sublinha que a cultura moderna e contemporânea introduziu muitas dúvidas e muito ceticismo. Ele define que a ideologia de gênero é um erro da mente humana que provoca muita confusão e ataca a família. Francisco lamenta a prática ocidental de impor uma agenda de gênero a outras nações por meio de ajuda externa.
“Sim, corremos o risco de dar um passo atrás. A remoção da diferença, na verdade, é o problema, não a solução. Para resolver os seus problemas de relação, o homem e a mulher devem, em vez disso, falar mais, escutar-se mais, conhecer-se mais, querer-se bem mais”, pontua o Pontífice.
Manifestações pelo Brasil
Diferentes dioceses se mobilizaram com a finalidade de promover o esclarecimento e engajamento das pessoas sobre essa questão. A arquidiocese de Aparecida (SP) enviou cartas as câmaras e prefeituras das cinco cidades que compõe a região administrativa.
“A aceitação da teoria do gênero, sua imposição no projeto educacional, terá profundas consequências na vida das pessoas, das famílias e de toda a sociedade. Consequências claramente queridas, propostas e anunciadas como objetivo final por seus defensores e propagandistas”, exprime o arcebispo, dom Raymundo Damasceno Assis, em um dos quatro itens expressos na carta aos prefeitos e vereadores.
Pelo país, católicos se manifestaram durante as votações. Em Itajubá (MG), jovens participaram da sessão da câmara depois de uma mobilização pelas redes sociais. Com cartazes, o grupo reforçou o posicionamento da Igreja. Os parlamentares da cidade recusaram a inclusão da ideologia de gênero.
Tales Alcântara de Melo, de 27 anos, decidiu reivindicar na sessão pois acredita que a inserção vai contra a biologia, a sociedade e, acima de tudo, contra a família e os planos de Deus. “A Igreja precisa e sempre vai se posicionar contra qualquer ato que vise destruir a família, pois uma família destruída é uma sociedade morta. Por isso a Igreja é importante nessas discussões”, defende.
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