Por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R. Em Notícias Atualizada em 27 MAR 2019 - 10H55

Padre octogenário diz que se realiza atendendo fiéis em confissão

O JS conversou com ex-diretor da Rádio Aparecida, padre Ruben Leme Galvão. Companheiro do padre Vitor Coelho, ele relembrou os anos de seminário e os desafios do sacerdócio. Bem-humorado, o padre disse que nada o deixa tão feliz quanto atender os fiéis em confissão.

Foto de: Arquivo Pessoal

Padre Rubem Leme Galvão

"Por isso, quanto a mim, se Deus não dispuser
algo diferente, quero morrer nas missões. Mãe
da Perseverança, rogai por nós"

JS  ̶  Fale de sua vocação e entrada para o seminário. O que o levou a escolher ser redentorista?

 

Padre Ruben Leme Galvão  ̶  Em verdade, eu nasci salesiano. Em Lavrinhas (SP), havia um seminário menor dessa congregação. Lá, fui batizado e preparado para a Primeira Comunhão. Minha mãe e minhas irmãs também estudaram em colégio salesiano. Um dos meus tios foi irmão leigo salesiano.

Até que meu pai foi nomeado diretor do então Grupo Escolar Chagas Pereira, de Aparecida (SP), onde fomos morar. Nessa época, tive contato com os seminaristas e me senti chamado a fazer parte daquela turma alegre.

Com apenas 10 anos, eu não tinha um conhecimento claro de todas as consequências da vocação que estava abraçando. Mas resolvi topar tudo para ser um missionário redentorista.

JS  ̶  Que lembranças traz dos tempos de seminário?

 Padre Galvão  ̶  Dois anos de Filosofia e quatro, de Teologia, entre 1943 e 1948, no Seminário Maior Santa Terezinha, em Tietê (SP). Tenho saudades daquele tempo. Formávamos uma grande família redentorista. Os desencontros eram resolvidos no tato, prudência e sabedoria do padre Henrique, santo homem de Deus.

O coral do Seminário era famoso em toda a região. Encenávamos peças clássicas de teatro e comédias, que eram apresentadas para o povo. Os esportes e os passeios eram maravilhosos.

A formação cientifica tinha o respaldo dos professores, que tinham o máximo interesse em nos dar uma formação completa e sólida. Dias de retiro espiritual, conferências e liturgias solenes colaboravam muito na preparação para o desempenho de nossas futuras funções sacerdotais.

JS  ̶  Como foi sua ordenação e quais serviços pastorais realizou logo após a ordenação?

Padre Galvão  ̶  Por não ter ainda a idade mínima, não fui ordenado no início do 4º ano de Teologia. Minha ordenação aconteceu na Basílica de Aparecida, no dia 2 de outubro de 1948. O bispo ordenante foi o redentorista dom João Muniz, da Diocese de Barra (BA).

No primeiro ano, fui vigário coadjutor em Aparecida. Era responsável pela Cruzada Eucarística, além das atribuições diárias. Os serviços externos atendíamos de moto.

Em 1950, voltei para Tietê como professor de História da Igreja e Patrologia. Fiquei lá ainda mais um ano como responsável pela construção da Igreja de Santa Teresinha.

Em 1952, fui para o Segundo Noviciado, em Pindamonhangaba (SP). Depois disso, recebi a sonhada Cruz de Missionário, iniciando minha carreira nas missões.

JS – Quais foram as principais conquistas e realizações da sua época como Diretor Geral da Rádio?

Padre Galvão  ̶  Como o profeta Jonas, tentei fugir de tão grande responsabilidade, mas o superior foi irredutível. Lá fui eu, com a cara e a coragem.

Dizem que a obediência faz milagres. Comigo isso aconteceu. Com a graça de Deus e as bênçãos da Mãe Aparecida, consegui ampliar o espaço físico e multiplicar a aquisição de equipamentos.

Os programas religiosos cresceram em número e passaram a ter mais espaço na programação. O aumento do horário e da potência das ondas, com a aquisição de novos transmissores, aumentaram a audição e projeção da Rádio. Tive como colaboradores os padres Vitor Coelho e Maurílio de Faria.

JS  ̶  Como missionário itinerante das Santas Missões, em quantos estados missionou?

Padre Galvão  ̶  Ainda bem que não perguntou cidades, pois só Deus sabe. Até agora, preguei missões em nove estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul.

JS  ̶  O que mais lhe realiza como sacerdote e como missionário?

Padre Galvão  ̶  Poderia enumerar muitas coisas, mas nunca me sinto tão feliz e realizado como quando, no atendimento pessoal dos fiéis, posso escancarar para eles as portas da misericórdia de Deus.

JS  ̶  Não poderia deixar de perguntar: por que tantos anos de Trindade e Araguaia?

Padre Galvão  ̶  Quanto a Trindade, a esmagadora maioria dos participantes é constituída pelo povo pobre e sofrido, que ali vai em busca de uma mensagem de amor, esperança e paz. Lá a gente ensina, é verdade, mas aprende muito também.

Quanto ao “meu” Araguaia, lembro que o próprio Jesus convidou seus Apóstolos a se retirarem do burburinho da multidão para um lugar tranquilo, onde pudessem descansar e recuperar as energias. E isso eu encontro lá, no esplendor da natureza quase totalmente preservada.

JS - Dos velhos companheiros de jornada missionária. De quem traz as melhores recordações?

Padre Galvão - Desde minha entrada no seminário, aos 10 anos de idade, encantava-me com a figura imponente daqueles missionários de batina preta, colarinho branco e grande rosário na cintura. Quase todos com um vozeirão que impressionava a qualquer um. E como cantavam!

De todos aprendi muito e aprendo até hoje. Mas não posso negar a influência marcante em minha vida, de dois beneméritos e famosos missionários: os padres Antônio Siqueira e Luiz Pesse.

JS  ̶  Algo mais que queira dizer aos leitores?

Padre Galvão  ̶  Por intercessão da Rainha dos Apóstolos e Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, o Senhor da Messe, mande muitos e santos operários para a vinha. Que as Províncias não se esqueçam do grito angustiante do nosso Santo Fundador, quando ofereceram aos redentoristas a Igreja Del Gesu em Roma: “Que iríamos fazer lá? Não seríamos carne, nem peixe. O dia em que deixarmos de pregar as missões, será a morte da congregação”.

Por isso, quanto a mim, se Deus não dispuser algo diferente, quero morrer nas missões. Mãe da Perseverança, rogai por nós.

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