Disponibilidade é uma palavra que se usa em muitos contextos. A usamos, às vezes, para saber se um médico está disponível em tal dia, ou se uma cadeira de um restaurante está disponível para se sentar. Verificamos se certo produto está disponível para pronta entrega...
Em se tratando de temas práticos, entendemos mais ou menos que a disponibilidade está diretamente relacionada com certo estado das coisas, que nos permite seu usufruto. Assim, usamos a vaga do médico, usamos a cadeira e do produto. Mas, em se tratando de coisas espirituais, podemos fazer uma analogia direta?
O mais fácil seria dizer que a disponibilidade para fazer a vontade de Deus seria a disposição de deixar-se usar por Deus, para o que Ele quiser fazer de nós. Muito bem. É uma ideia muito bonita!
Mas como se dá na prática?
Se eu fico parado e falo para Deus que estou totalmente disponível para Ele, o mais provável é que terminemos um pouco confusos, porque Deus não costuma escrever nos céus qual é a vontade Dele para cada um de nós. Se olharmos para o exemplo de Maria, poderíamos até chegar a dizer que, como ainda não vimos o anjo aparecer, não sabemos por onde caminhar.
Na nossa época, parece que ao menos duas situações se dão as mãos para dificultar a nossa disponibilidade para Deus: O desejo de ter tudo claro, dominado, e um certo idealismo que nos retira da realidade. Como assim? Os celulares “inteligentes” nos dão a sensação de ter o controle do mundo em nossas mãos.
De fato, muitas coisas hoje se resolvem com apenas uma mão no touchscreen. Tudo parece mais fácil, mais acessível, mais conectado. Pelo menos, tudo que importa parece estar na tela do celular. Aliado a isso, está uma certa ideia de perfeição que só existe no mundo imaginário, no mundo das ideias. A santidade imaculada, os amores perfeitos, a vida sem problemas. Em última instancia, busca-se um paraíso nessa terra.
Tudo isso nos faz muito pouco disponíveis para Deus. Por quê?
É que Deus não pode estar nunca sob nosso controle. Ele não aparecerá nunca como app de celular (por mais que endeusemos vários deles). Não podemos controlá-lo. Pelo contrário, é Ele quem nos controla sem nunca ultrapassar a nossa liberdade, dom d'Ele mesmo. E, ao contrário desses idealismos meio românticos, o que Deus faz é encarnar-se nessa realidade suja e pecadora para desse lugar elevar-nos à comunhão com Ele. Um Deus desse tipo não tem muito lugar em uma sociedade tão “higiênica” como a nossa, que não quer ver as dores e os flagelos do mundo.
Para estarmos disponíveis para Deus, de verdade, é preciso “cair na real” (quase que literalmente). Sair desse mundo ideal, perfeito, todo sob controle (nosso controle) e entrar na realidade de nos reconhecer como aquilo que somos: criaturas, pequenas e pecadoras. Com humildade, reconhecer a nossa condição de não-super-homem.
Leia MaisO que é fazer a vontade de Deus?Como Maria fez da vontade de Deus o sentido da sua vidaComo São Geraldo Majella pode me ajudar a fortalecer minha fé?Como saber se algo é vontade de Deus?Antes de nos tornarmos disponíveis, precisamos ver a tamanha disponibilidade que Deus mesmo nos mostrou ao esvaziar-se e encarnar-se. Ao viver e morrer entre nós. Ao ressuscitar e enviar seu Espírito para que Ele nos conduza até a verdade que nos liberta.
Deus não pode fazer muito com aqueles que se descobrem perfeitos. Os perfeitos só estão disponíveis para si mesmos, eles são seus próprios deuses. Mas o pecador, Deus o salva.
Maria, a única criatura que poderia se gabar de perfeição, se manifesta uma humilde serva do Senhor. Essa é a verdadeira disponibilidade.
Enquanto não nos desarmarmos, enquanto não nos desnudarmos diante de Deus, enquanto a marca da Quarta-feira de Cinzas não passar de um sinal exterior, podemos dissertar muitas coisas sobre Deus, mas não poderemos estar disponíveis se Ele quiser marcar um encontro em nossa agenda lotada ou se Ele quiser usar o banco para sentar ao nosso lado.
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