Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 03 ABR 2019 - 14H45

A fé é uma virtude ou um dom?

No português, quando utilizamos a partícula “ou” em uma pergunta, normalmente ela é exclusiva. Quando perguntamos se uma coisa é branca ou preta, excluímos a possibilidade de que ela seja cinza, uma mistura das duas cores. E se bem é verdade que a exclusão pode ser verdadeira em alguns casos, em outros a partícula “ou” esconde uma falsa oposição. A fé é um caso desses. Ela é, ao mesmo tempo, virtude e dom.

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O Catecismo da Igreja, ao falar da fé, começa afirmando que ela é um dom. “A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele” (#153). A nossa vida de fé começa com o batismo. Quando recebemos esse sacramento, recebemos a Graça divina de crer, de pertencer à família dos que creem, ou seja, a Igreja. Mas é evidente que a fé que recebemos nesse momento ainda precisa crescer e se fortalecer muito. Isso é muito evidente se recebemos o sacramento ainda bebês, quando nem temos a consciência de que estamos recebendo esse dom.

Depois de afirmar a gratuidade da fé, o Catecismo continua dizendo que, mesmo sendo um dom, “não é menos verdade que crer é um ato autenticamente humano” (#154). Ou seja, é algo que os seres humanos fazem e, ao fazer, realizam seu ser. Confiar é algo que está inscrito em quem somos. Assim, confiamos em nossos pais, em nossos professores, em nossos amigos. Claro que essa confiança pode ser (e o é muitas vezes) defraudada. Mas se não confiássemos uns nos outros, não poderíamos terminar um dia sequer sem ficar meio paranoico. Já pensou se você duvidasse que o alimento que você compra não vai te matar? Ou que o remédio que você toma vai mesmo te curar?

Confiamos diariamente nos outros. E aprendemos a confiar cada vez mais e a desconfiar de quem merece ser desconfiado. Ou seja, vamos aprendendo a confiar cada vez melhor. Se isso é verdade para as relações humanas, também é verdade para a nossa relação com Deus. Lá no batismo recebemos a Graça de confiar, de ter fé na revelação de Deus. Mas essa relação com Ele vai crescer (ou diminuir) ao longo da vida dependendo de muitos fatores. Como a minha família se relaciona com Deus? Eles confiam nEle? Se não confiam, porque eu teria que confiar?

Assim, aquele dom inicial irá se fazendo cada vez mais forte com a nossa cooperação. Dom de Deus e cooperação humana caminham juntas. Muitas vezes pensamos que ter fé em Deus irá diminuir a nossa liberdade quando a verdade é exatamente o contrário. Quando mais confiamos em quem criou tudo e nos criou, mais viveremos uma vida plena, de acordo com quem somos, cumprindo a vocação que Deus tem para cada um de nós.

Escrito por:
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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