O que nós entendemos quando falamos de destino? Estamos pensando em um lugar ao qual nos dirigimos? Como quando pegamos um ônibus e o destino é uma cidade qualquer? Ou pensamos no caminho percorrido até essa mesma cidade, em suas paradas, nos defeitos que o ônibus vai ter, nos engarrafamentos que vão ocorrer e os pedágios que serão pagos? Ou será que destino engloba tudo isso? Local de chegada e todos os incidentes do percurso? São muitas perguntas, vamos pouco a pouco.
O católico acredita em destino? Se sabemos que o católico acredita que foi criado para viver em comunhão com Deus no céu, que esse é o seu destino, então a resposta é sim, o católico acredita em destino. Quando Deus nos cria, Ele o faz por amor e para que esse amor verdadeiro seja já aqui na terra o sentido de nossas vidas e, terminado o nosso tempo nesse mundo, vivamos eternamente na casa que Jesus mesmo disse que o Pai está preparando para nós. E nessa casa, diz Jesus, há muitas moradas. É o nosso destino final.
Agora, o católico acredita em destino no outro sentido, ou seja, naquele em que cada pequena coisa está determinada por Deus antes mesmo de que alguém nasça? Podemos inclusive evocar uma passagem bíblica para ilustrar que a resposta talvez seja positiva. A vocação de Jeremias é bem eloquente nesse sentido: "Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações" (Jr 1, 4-5).
Como negar que Deus tem um plano para Jeremias? E para cada um de nós que foi criado com tanto amor? Mesmo que Jeremias tenha dito que não sabia falar, que era muito criança, Deus não o deixou de chamar. Pelo contrário, justamente porque é o Senhor quem chamava, o futuro profeta não deveria temer. A grande pergunta aqui é a seguinte: Jeremias tinha escolha de dizer não? Se pensamos em outro grande momento da história sagrada, quando é anunciado a Maria que ela seria a mãe de Jesus. Ela podia dizer não? Uma palavra ilumina ainda mais a pergunta:
Temos a liberdade de dizer não para Deus?
Esse é um assunto muito refletido desde antigamente. Existem aqueles que dizem que tudo está predeterminado e que na verdade não existe liberdade nenhuma. Mas como pode existir amor sem liberdade? Ninguém pode ser obrigado a amar. Se é obrigado, não é amor. E Deus nos criou, supostamente, para que o amemos livremente. Como sair dessa situação?
Talvez vendo que a nossa liberdade não está em competição com a de Deus. Em um certo sentido, é isso que se pensa quando se diz: “Eu tenho a liberdade de pecar”. O que não está claro para quem pensa assim é que o pecado não é uma liberdade, mas uma prisão. O único lugar em que podemos ser realmente livres é fora do pecado, vivendo na Graça de Deus. Parece contraditório, mas a verdade é que só somos realmente livres quando respondemos a vocação que Deus tem para nós.
Mas e se não respondemos? De fato, cada dia pecamos e não vivemos como verdadeiros filhos e filhas de Deus. Isso pode acontecer nas coisas mais triviais, mas também pode se dar em escolhas fundamentais da nossa vida. Quem é ordenado sacerdote, o é para sempre. E se tinha vocação para o matrimônio? Está fadado a ser infeliz?
Estamos em terreno sagrado aqui. A relação de uma pessoa com Deus é única e não podemos dar respostas fáceis. Mas o que podemos saber é que a misericórdia do Senhor é infinita e todas as vezes que erramos, ele sai ao nosso encontro, nos traz de volta para o seu caminho. Então, se bem ele tem traçado um plano para nós, talvez (e com muita frequência) nós nos desviamos dele. Não somos robôs sem defeito. Pelo contrário, somos seres humanos pecadores. Mas contamos sempre com a misericórdia do Senhor.
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