A questão do porte de armas deve ser entendida dentro do contexto maior do princípio de legítima defesa. Neste sentido, o uso de armas para fins defensivos é um direito, na medida em que toda vida humana tem valor infinito, incluindo a de quem está sendo agredido, e que, não havendo outra opção de defesa, só pode preservar a própria vida provocando a morte do agressor (cf. Catecismo da Igreja Católica, nos 2263 – 2264).
Além disso, pode ser ainda um grave dever, para aqueles que são responsáveis pela vida de outros (cf. Catecismo da Igreja Católica, nos 2265 – 2266): assim entende-se a legitimidade, por exemplo, da guerra justa, da defesa armada da família, da ação policial não-abusiva. Em todos os casos, deve-se levar em conta que o objetivo não é propriamente o de matar, mas sim o de legitimamente preservar as vidas inocentes.
Leia MaisDesfruta a vida com prudênciaComo fazer de Deus o centro da nossa vida? Qual o papel do indivíduo na coletividade?O mandamento “Não matarás” permanece sempre como a diretriz de Deus, que, sendo o Criador é o único que tem o direito de tomar a vida. De resto, a renúncia à própria vida diante de uma ameaça de morte é moralmente aceitável e, muitas vezes, exigência para a própria salvação, como no caso dos mártires.
Daí se segue que, se uma família tem, por meios legais, a posse de armas em casa como medida preventiva para a sua defesa, esta posse é plenamente justificada (embora não obrigatória).
Outra coisa é o porte de armas na rua, que, em princípio, deveria ser restringido às forças armadas e policiais, por sua função intrínseca e legítima de manter a ordem social e defender os cidadãos. Do ponto de vista legal, este porte de armas em locais públicos é possível, desde que haja justificativa válida e avaliação correta da pessoa que a solicita.
Contudo, não é desejável que, habitualmente, os cidadãos andem armados, pois a natureza humana, frágil e falha como é, sempre tornará esta situação potencialmente perigosa.
Infelizmente, o uso ilegal de armas é comum nas sociedades modernas, onde a criminalidade, por diferentes motivos, não está sob controle. A causa mais profunda destas situações, como sempre, está muito além de questões sociais ou legais, e mesmo morais ou de cultura:
Ocorre que o ser humano facilmente se esquece do motivo central da sua existência, que é o amor a Deus e ao próximo, e portando da busca constante do respeito à vida alheia sob as condições orientadas por Deus, isto é, a vivência dos Mandamentos, com o apoio indispensável da participação nos Sacramentos.
Meras leis ou “políticas”, ideologias ou situações econômicas “ideais” jamais assegurarão a boa convivência humana, mas sim a consciência, responsabilidade e livre escolha de se viver a caridade, consigo mesmo e com o próximo.
Por outro lado, na existência humana imperfeita após o Pecado Original, é tolice ignorar a realidade do Mal e a necessidade legítima de defesa da vida pessoal, familiar, social e da Pátria. Que tal defesa seja, então, inspirada sempre e honestamente nos limites, nos parâmetros, que Deus indicou para este fim, como parte do caminho para a vida definitiva que há de vir.
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