Se procurarmos nos dicionários, encontraremos várias definições de solidariedade. Mas para pensá-la em um contexto eclesial, talvez valha a pena partirmos da definição que o Catecismo nos concede:
“A solidariedade é uma virtude eminentemente cristã que pratica a partilha dos bens espirituais mais ainda que dos materiais.” Catecismo da Igreja Católica, 1948
Mas o que isso significa?
Que seja uma virtude eminentemente cristã significa dizer que só os cristãos podem ser solidários? Evidente que não. E é até meio ridículo pensar assim.
Existem pessoas que não são cristãs e que, pelo menos aparentemente, vivem muito bem a solidariedade. Muitos famosos, por exemplo, independente de sua religião, às vezes fazem doações substanciais para alguma obra de caridade, para algum serviço aos mais necessitados.
Por que falar, então, que a solidariedade é eminentemente cristã?
Penso que essa afirmação remarca justamente que ser solidário é muito mais do que doar algo a alguém. E se bem essa virtude “se manifesta, antes de mais nada, na disposição dos bens e na remuneração do trabalho”, ela se fundamenta em que, como criaturas de Deus somos, a um nível mais profundo, ontológico, solidários uns dos outros.
Em outras palavras, fomos criados para o amor, que significa entrar em comunhão com os outros, abrir-se aos demais e deixar que entrem em nossas vidas. Se nos fechamos em nós mesmos, se somos individualistas ou egoístas, estamos atentando contra o mais profundo de quem somos.
Assim podemos começar a entender que a partilha dos bens materiais é uma manifestação mais evidente de uma partilha anterior, a espiritual. Mesmo que não rezemos nada, que não pensemos nos demais, não podemos mudar o fato de que fomos criados por uma comunhão de Amor e para amar.
É por conta disso que se pode dizer que a solidariedade é uma virtude eminentemente cristã. Como assim? Como já dissemos, muitos podem doar coisas a outros. Até coisas não materiais, como orações ou “boas vibrações”.
Mas somente o cristão chega a alcançar o fundamento último dessa solidariedade e ser solidário a partir daí. E esse fundamento é sólido o bastante para que, por meio dele, se desenvolva, por exemplo, a doutrina social da Igreja.
Sem esse fundamento, a solidariedade pode se confundir, como muitas vezes se confunde, com simples filantropia, ou com uma certa visão de que todos somos iguais e, portanto, deveríamos ter as mesmas coisas (reduzindo a solidariedade ao material, por exemplo).
Voltando à definição do começo, poderíamos inclusive dizer que ser cristão, no fundo, é reconhecer essa solidariedade fundamental entre os homens, criaturas de Deus. Mas não parar por aí. Há de reconhecer-se também que todos estão chamados a serem filhos de Deus, batizados, e talvez essa seja a maior solidariedade que está a cargo dos cristãos: fazer brilhar para o mundo inteiro a beleza do chamado de Deus a vivermos a filiação divina.
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