No Tríduo Pascal somos convidados a aprofundar um pouco mais nos mistérios centrais da nossa fé. Os mistérios da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Os acontecimentos desses dias possuem a força de, se o permitimos, transformar a nossa vida totalmente.
Depois da Quinta-feira Santa, na qual celebramos a última ceia do Senhor com seus apóstolos, o vemos ser preso e entramos na parte mais negra desses dias. O Senhor é morto e, por alguns momentos, muitos pensam que tudo está perdido.
Sinais disso que podemos encontrar nas Escrituras podem ser, por exemplo, o fato dos discípulos se reunirem com as portas fechadas, com medo. Também o episódio dos dois peregrinos de Emaús, que voltavam tristes para sua cidade e não conseguem reconhecer o próprio Jesus que caminhava já ressuscitado ao lado deles.
Durante três dias, o Senhor jaz no sepulcro, como qualquer homem. Realmente parece, aos olhos meramente humanos, que a missão teria fracassado. E por isso se fez silêncio.
O silêncio desses dias é fruto de uma espécie de assombro, que leva ao nosso interior a pergunta sobre a relação pessoal de cada um com Deus.
Também nós fazemos silêncio hoje porque os acontecimentos daqueles dias não deixaram de ser um mistério muito profundo. "Como assim Deus morreu? Isso é realmente possível?" E além do mais, morreu por cada um de nós, para a nossa salvação. O silêncio desses dias é fruto de uma espécie de assombro, de deslumbramento, de admiração que leva ao nosso interior a pergunta sobre a relação pessoal de cada um com Deus. Jesus fez tudo o que fez, sofreu tudo o que sofreu, para mostrar-nos que é possível viver o amor tal como o nosso coração deseja: plenamente.
O silêncio, apesar de soar um pouco contraditório, diz várias coisas. Ele afirma a nossa incapacidade de compreender totalmente o que estamos testemunhando. Também deixa ver que isso que me faz silenciar toca profundamente meu ser, deixa evidente que tem algo a ver comigo. O nosso interior parece “sintonizar” com o mistério como se exigisse entender melhor, ao mesmo tempo, percebe que a humildade é a atitude necessária para o acolher melhor.
O Frei Cantalamessa, em uma homilia de sexta-feira santa, nos fala dessa oportunidade:
“Nós temos a possibilidade de tomar, neste dia, a decisão mais importante da vida, aquela que nos abre de par em par os portões da eternidade: acreditar! Acreditar que 'Jesus morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação'" (Rm 4, 25)
Leia MaisA Cantata da Paixão de Santo Afonso de Ligório Numa homilia pascal do século IV, o bispo proclamava estas palavras excepcionalmente contemporâneas e, de certa forma, existenciais: 'Para cada homem, o princípio da vida é aquele a partir do qual Cristo foi imolado por ele. Mas Cristo se imola por ele no momento em que ele reconhece a graça e se torna consciente da vida que aquela imolação lhe proporcionou” (Homilia de Páscoa no ano de 387; SCh 36, p. 59 s.) ”.
Acreditar, ao contrário do que se pensa por aí, não é fácil. Por algo Jesus compara a nossa fé com um grão de mostarda dizendo que se tivéssemos a fé tão grande como a dessa minúscula semente, seríamos capazes de coisas grandiosas.
Mas o fato é que nossa fé não é nem do tamanho dessa semente. Peçamos ao Senhor que aumente a nossa fé e que o silêncio pronunciado desses dias santos nos ajude a entrar mais no mistério e decidir-nos, cada vez mais, por apostar a nossa vida nesse Jesus que se entregou por nós.
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