Simplicidade, beleza e profundidade.
Substantivos cada vez mais difíceis de encontrar na atual Hollywood, onde o foco é a produção de arrasa quarteirões geradores de lucro (via bilheteria local americana, ou mundial), ao invés de investimento em obras mais singelas, de roteiro profundo, descomplicado e poético.
Sim, ainda existem caras como David Lynch (Uma História Real), Jonathan Dayton e Valerie Faris (Pequena Miss Sunshine), John Patrick Shanley (Dúvida), Tom Hooper (O Discurso do Rei), entre alguns outros poucos diretores que conseguem, uma vez ou outra, arrancar algum orçamento para a realização de filmes delicados como Conduzindo Miss Daisy (1989).
O longa metragem dirigido pelo australiano Bruce Beresford foi montado sob um ritmo suave, sem emoções extremas. Nele não se encontram cenas de ação de tirar o fôlego, ou cenas dramáticas que lavam as poltronas com o choro alheio. A direção de arte em tons pastéis é impecável e retrata de forma fiel as décadas de 1950 a 1970, período onde os conflitos raciais ainda eram latentes e brancos pouco se misturavam com negros na terra de Martin Luther King, que, aliás, recebe uma interessante e indireta homenagem.
A estúpida intolerância vivida naquela época chama a atenção pela maneira como é trabalha no texto, pois somente após vários minutos de projeção perceberemos o problema enfrentado pela Sra. Daisy (Jessica Tandy de Tomates Verdes Fritos:uma viúva idosa e solitária) e seu novo motorista e amigo Hoke Colburn (Morgan Freeman da Trilogia Batman: um negro, paciente, companheiro e semi-analfabeto). Para apimentar ainda mais a situação, a Sra. Daisy é uma judia praticante, descendente de um povo há séculos perseguido.
O tema racismo é abordado de maneira precisa, porém muito branda, fornecendo mais espaço e foco ao desenvolvimento de uma relação que passa de patroa-empregado a bons e respeitosos amigos. Hoke, com seu jeito direto e dedicado, consegue moldar a ranzinza Sra. Daisy ao longo dos seus anos de velhice, limitações físicas e mentais. As fictícias duas décadas e meia são representadas com maestria por Tandy e Freeman, juntamente de Dan Aykroyd (um coadjuvante de luxo no papel de filho ausente, porém sempre preocupado em prover o melhor à sua mãe) e registradas de maneira muito simples! Foram utilizadas poucas locações, poucos atores, pouco luxo e diálogos verborrágicos. Uma verdadeira prova de como é e sempre foi possível fazer um bom filme, desde que sua história seja poderosa e seis diálogos assertivos.
Caso o leitor não seja tão adepto de filmes "antigos", ou não tenha paciência para filmes mais "parados", faça um esforço e assista a este magnífico longa-metragem, que além de uma aula de cinema, ensina a valorizar qualidades humanas existentes em todas as criaturas, independentemente da cor de sua pele, crença religiosa, ou maneira de viver.
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