Cardeal Dom Raymundo Damasceno completa 87 anos de vida

O Arcebispo emérito de Aparecida, Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, completa 87 anos de vida nesta quinta-feira (15). 

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Com apenas 10 anos, ele já sabia o que queria fazer de sua vida: servir a Deus. Decidido, escolheu sozinho o seu caminho e surpreendeu até os pais quando disse o que desejava o seu coração.

Hoje, aquele menino que saiu de Capela Nova, em Minas Gerais, decidido a ser padre ocupa um dos mais altos cargos na hierarquia da Igreja, o cardinalato.

O Portal A12 deseja homenagear Dom Raymundo Damasceno lembrando os principais fatos de sua vida e ministério. Dom Raymundo Damasceno Assis é conhecido por sua diplomacia, e viu sua vida mudar quando foi nomeado Arcebispo do maior Santuário mariano do mundo.

Entretanto, o ministério de um homem de Deus é orientado pela graça divina, que opera em todos aqueles que se entregam totalmente ao seu Reino. Assim, Dom Damasceno, um homem de hábitos discretos e simples, acumulou grandes responsabilidades e méritos por uma atuação exemplar tanto na Igreja do Brasil, na América Latina, como nas congregações do Vaticano, onde atuou.

Possuidor de muitos amigos, e principalmente, amado pelos fiéis onde quer que vá, Dom Raymundo é a imagem do Bom Pastor que cuida afetuosamente de suas ovelhas.

Nascimento

Quarto filho de uma família de 10 irmãos nasceu em 15 de fevereiro de 1937 na cidade de Capela Nova, em Minas Gerais.

"Eu nasci num sítio, conhecido com o nome de Chácara. E nesse lugar, nesse sítio, eu vivi até a idade de nove anos; de modo que foi uma infância muito feliz no meio do campo entre os animais, vacas, cavalos, galinhas, frutas; tanto que não tenho nenhum arrependimento de minha infância; só saudades".

Família católica praticante

De família muito católica, manifestou interesse pela vida religiosa já na infância.

"Meus pais Francisco Solano de Assis e Carmen Damasceno de Assis; ambos muito católicos, muito religiosos, rezavam terço, participavam das cerimônias da paróquia, para onde íamos a pé, e onde participávamos das Semanas Santas e das festas da padroeira, Nossa Senhora das Dores. Tenho as melhores recordações de meu pai e de minha mãe como muito praticantes, tementes a Deus e corretos em seus trabalhos".

O que sabe um menino aos 10 anos?

Aos 10 anos de idade, decidido, Raymundo ingressou no Juvenato São José dos Irmãos Maristas em Mendes, no Rio de Janeiro, e, mesmo não tendo muita compreensão do que seria o seminário, decidiu seguir o desejo de seu coração.

"Eu tinha mais ou menos dez anos; quando um Irmão marista de Capela Nova passou pelas escolas dando catecismo e perguntando quem queria ser irmão. Eu levantei a mão e disse que queria ir com ele. Sem ter propriamente o consentimento dos meus pais, arrumei minha mala, e, no dia marcado, quis ir para a estação. Meu pai, pensando que era uma coisa de criança, pediu que o motorista do ônibus me levasse até a estação, e se lá o tal Irmão quisesse me levar, que ele deixasse. O Irmão passou, eu entrei no trem e fui parar em Mendes".

Maturidade

Em 1955, aos 18 anos, entrou para o Seminário Menor, em Mariana (MG) onde cursou o segundo grau e o curso de Filosofia.

"Fiquei com os maristas até completar o ginásio. Nesse tempo eu já distinguia bem entre irmão religioso e padre; então pedi para ser padre. Os irmãos fizeram dificuldade para eu sair, mas acabaram concordando. Voltei para casa; e de lá, entrei em contato com o bispo da Diocese de Mariana; e fui aceito no seminário. Fiz ali toda a Filosofia e daí em diante começou uma nova etapa em minha vida."

Arquivo pessoal

Formação no exterior

Foi morar em Roma, em 1961, para cursar Teologia e, em 1965 foi para a Alemanha, onde acompanhou o Curso Superior de Catequese.

Enfim, Padre!

No dia 19 de março de 1968, aos 31 anos, finalmente foi ordenado sacerdote. Realizava ali o seu grande sonho e concretizava a vontade de Deus para sua vida. O ordenante foi o primeiro Arcebispo de Brasília, Dom José Newton de Almeida Batista.

Brasília, seu primeiro amor

Logo depois da ordenação e nos três anos seguintes, o padre Raymundo Damasceno ocupou a função de coordenador de Catequese da Arquidiocese de Brasília, no Distrito Federal. Nessa Igreja Particular ainda foi pároco e chanceler, entre anos de 1968 e 1979.

"Ajudei a fundar o seminário maior Nossa Senhora de Fátima da arquidiocese e permaneci trabalhando no seminário até a minha ordenação episcopal. Nessa época, eu também lecionava Filosofia na Universidade de Brasília". 

Bispo aos 49 anos

No dia 15 de setembro de 1986, em Brasília, foi ordenado Bispo, pela imposição das mãos do Cardeal Dom José Freire Falcão, na época Arcebispo de Brasília. Escolheu como lema episcopal: “In Gaudium Domini”, que significa “Na alegria do Senhor”. Continuou atuando na mesma arquidiocese como bispo auxiliar até 2004.

Membro do CELAM

Em 1991, foi eleito Secretário-Geral do Conselho Episcopal Latinoamericano (CELAM), cargo que ocupou até 1995.

"Quando fui eleito secretário-geral do CELAM, Dom Falcão permitiu que eu me mudasse para Bogotá para cumprir as minhas funções. Nesse período também se realizou IV Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano, em Santo Domingo (1992), na qual fui nomeado pelo Papa João Paulo II o secretário-geral." 

Cargo na CNBB

Dom Damasceno retornou para Brasília em 1995 e, logo em seguida, foi eleito secretário-geral da CNBB, cargo que exerceu por dois mandatos até 2003. Lá em Brasília, como era bispo auxiliar, Dom Falcão me dispensou de algumas tarefas para que eu pudesse exercer o cargo de secretário-geral da CNBB.

A surpreendente nomeação para Aparecida

Depois de 44 anos servindo em Brasília, Dom Damasceno foi nomeado, em 28 de janeiro de 2004, o quarto Arcebispo da Arquidiocese de Aparecida, tomando posse no dia 25 de março do mesmo ano.

"Meu ministério sacerdotal e episcopal foi sempre em Brasília. Nunca pensei que iria ser nomeado arcebispo de Aparecida. Eu achava que poderia continuar em Goiás ou até mesmo ser enviado para Minas Gerais porque sou mineiro. A nomeação para Aparecida foi mesmo uma surpresa".

CELAM, Sínodos, Vaticano

Quando já estava em Aparecida, Dom Damasceno foi eleito Presidente do CELAM para os anos de 2007 a 2011.

Em 2008, foi nomeado pelo Papa Bento XVI para a XII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos – Sínodo da Palavra. Em 2009, foi nomeado Padre Sinodal para a II Assembleia Especial para a África e, depois, para a Assembleia Especial para o Oriente Médio, em 2010. Em 1994 e 1997 já havia sido nomeado Padre Sinodal para a África e América, respectivamente.

No Vaticano, Dom Raymundo foi eleito membro do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais e da Pontifícia Comissão para a América Latina; cargos que ele ocupa até o momento.

Denílson Luís

Anfitrião do Papa Bento XVI

O então Papa Bento XVI visitou o Santuário Nacional de Aparecida por ocasião da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano e do Caribe, em 2007. A visita ocorreu da noite do dia 11 de maio até a noite do dia 13 de maio.

"Eu tive esse privilégio e a graça de recebê-lo, em Aparecida, durante sua primeira visita ao Brasil. Foi uma decisão dele querer inaugurar a V Conferência sob o manto e proteção de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil".

Criado Cardeal

No dia 20 de outubro de 2010, foi anunciada a sua nomeação como cardeal pelo Papa Bento XVI. Ele foi criado Cardeal no consistório realizado no dia 20 de novembro, em Roma. Passou a usar o titulo de Cardeal-padre da Imaculada em Tiburtino, e da qual tomou posse no dia 3 de abril de 2011.

"Vejo nesta nomeação do Santo Padre uma atenção e apreço ao Conselho Episcopal Latino-americano, portanto o episcopado na América Latina. E uma atenção especial com o Brasil, uma vez que a Arquidiocese de Aparecida é a sede do Santuário Nacional da Padroeira do Brasil. Agradeço ao Santo Padre esta confiança depositada em mim e ao mesmo tempo pedir a graça de Deus para que ele me dê o auxílio necessário para cumprir esta missão”.

Presidente da CNBB

Em abril de 2011, Dom Raymundo Damasceno foi eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com 196 votos, para o mandato de 2011 a 2015. Somando todos os anos em que exerci funções na presidência do CELAM e da CNBB foram, ao todo, 20 anos de serviço à Igreja no Brasil e na América Latina.

25 anos de Bispo, o apreço do Papa

Em 2011, Dom Raymundo completou 25 anos de Ministério episcopal. Na ocasião, o Papa Bento XVI enviou uma carta parabenizando o cardeal:

"É bom recordar tua prudente e diligente obra junto aos sacerdotes, aos homens e mulheres consagrados e aos fiéis leigos desta comunidade eclesial, sobretudo no campo da catequese, da liturgia e das obras de caridade", escreveu o Papa.

Pedido aceito pelo Papa

Vendo as necessidades pastorais da Arquidiocese de Aparecida, Dom Raymundo encaminhou um pedido de nomeação para um Bispo Auxiliar ao Santo Padre. Em 2013, Dom Raymundo foi atendido e ordenou Dom Darci Nicioli, que na época era o Reitor do Santuário Nacional.

Primeiro Conclave

Criado cardeal em 2010, Dom Raymundo participou de seu primeiro Conclave em 2013; que elegeu o primeiro Papa latino-americano.

Anfitrião do Papa Francisco

Dom Raymundo Damasceno acolheu o Papa Francisco no Santuário Nacional de Aparecida no dia 27 de julho de 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. A visita foi motivada pelo convite do próprio cardeal quando esteve junto com Francisco após o Conclave, no Vaticano.

Sínodo da Família

Dom Raymundo foi nomeado pelo Papa Francisco, presidente-delegado da 14ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, que aconteceu em outubro de 2015, no Vaticano.

"Recebi com satisfação e muita honra mais esta nomeação como um dos presidentes-delegados da próxima etapa do Sínodo sobre a Família. Da família depende o futuro da humanidade e da Igreja".

Celebração Fátima-Aparecida

Em maio de 2015, Dom Raymundo Damasceno Assis entronizou a Imagem de Nossa Senhora Aparecida em Fátima, Portugal, na comemoração 'Centenários de Bênçãos'. A celebração inédita reuniu devotos de dois países em torno da devoção à Mãe de Jesus.

Ano da Misericórdia

Atendendo ao convite do Papa Francisco, Dom Raymundo presidiu a cerimônia de abertura da Porta Santa do Santuário Nacional de Aparecida no dia 13 de dezembro de 2015.

Thiago Leon

Abertura do Ano Jubilar

No dia da Festa da Padroeira do Brasil em 2016, o Cardeal deu início ao Ano Jubilar Mariano no país. A data carregada de simbolismo, contou com o lançamento de um selo e medalha comemorativa.

Partida de Aparecida

Ao completar 75 anos, em 2012, Dom Raymundo Damasceno apresentou o seu pedido de renúncia por idade, como pede a Igreja. Após quatro anos, o Papa Francisco aceitou o seu pedido e Dom Damasceno entregou a direção da Arquidiocese de Aparecida em janeiro de 2017, para o seu sucessor, Dom Orlando Brandes.

Dom Raymundo permaneceu 13 anos à frente da Arquidiocese da Padroeira do Brasil.

Fonte: (fragmentos de entrevista concedida ao padre Ronoaldo Pelaquin, em 2004, CDM Santuário Nacional + Revista de Aparecida, setembro de 2011)