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Amazônia: Patrimônio Brasileiro

Escrito por Rádio Aparecida

06 SET 2019 - 07H30 (Atualizada em 22 FEV 2021 - 14H52)



“O objetivo desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do povo de Deus. Também por causa da crise da floresta amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta” Papa Francisco sobre a convocação do Sínodo da Amazônia.

A convocação do Sínodo Pan-Amazônico pelo Papa Francisco faz com que, mais uma vez, os olhos do mundo se voltem para a região. Como dizia o papa Paulo VI, “Cristo aponta para a Amazônia”. E como mais de 4 milhões de metros quadrados de floresta estão em nosso país, a chamada área da Amazônia Legal, é preciso cuidar deste patrimônio brasileiro.

Amazônia e seu território

Representando praticamente metade do território brasileiro e 7% da superfície total do planeta, ela é fundamental para o planeta e para o clima. E o papel da Amazônia também é importante perante o mundo. Ela abriga praticamente metade da biodiversidade do globo terrestreAlém da diversidade da floresta, a Amazônia possui 20% da água doce de todo o mundo. A água é um recurso natural finito, que não pode ser renovado.

Amazônia e sua população

Na Amazônia vivem mais de 24 milhões de pessoas em 772 municípios. O IDH, índice de desenvolvimento humano dos municípios da região está abaixo da média nacional. As comunidades ribeirinhas, por exemplo, possuem pouco ou quase nenhum acesso a serviços básicos.

Os entrevistados são:

- Ricardo Pereira, doutor em Geografia e professor da Universidade Federal do Amazonas.

- Allan Pscheidt, doutor em ciências biológicas da FMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas)

- Val Solidade, superintendente de desenvolvimento sustentável da Fundação Amazonas Sustentável.

- Dom Neri José Tondelo, bispo de Juína no Mato Grosso.

“Os problemas da destruição do ambiente natural são cada vez mais graves. E as consequências para a vida das pessoas são dramáticas” Papa Francisco, sobre a encíclica Laudato Si

A degradação da floresta traz consequências irreversíveis para o ser humano. De 2004 a 2018, mais de 150 mil km² foram desmatados na Amazônia legal. É como se um território maior que a Inglaterra tivesse sido perdido.

Pela primeira vez na história, sete ex-ministros do meio ambiente assinaram um manifesto conjunto. Todos eles se posicionaram contra a política ambiental adotada pelo governo atual. Um dos principais medos é o possível fim do Fundo Amazônia, criado em sua gestão e mantido pela Noruega e Alemanha.

Desmatamentos na Amazônia

Este ano, o fundo não aprovou nenhum projeto de preservação. São ao menos R$ 350 milhões parados. O motivo é o impasse e o mal-estar causado por declarações do ministro do meio ambiente sobre os dados de desmatamento da Amazônia.

Desde 1988, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) produz relatórios sobre desmatamento. Até 2005, a taxa era em média de 19 mil km² por ano. É como se a cada 365 dias, uma área equivalente ao estado de Sergipe sumisse do mapa da floresta.

O governo assumiu um compromisso de reduzir essa taxa em 80% até 2020. Mas isso está longe de acontecer. Apesar de questionados pelo atual governo em diferentes ocasiões, os dados do INPE são parâmetro não só para preservação como para agricultura e pecuária.

Papel das ONGs

O Ministério do Meio Ambiente foi procurado para falar sobre as ações desenvolvidas para preservação da Amazônia no atual governo, porém, não quiseram comentar o assunto.

Ouça os entrevistados:

- Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente entre 2008 e 2010

- Dalmo Arantes de Barros, doutor em engenharia florestal da Universidade Estadual de Minas Gerais

- Claudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas

- Ricardo Mello, gerente do Programa Amazônia do WWF-Brasil

“As comunidades indígenas são uma parte da população que deve ser valorizada e consultada. Há de fomentar sua plena participação em nível local e nacional” Papa Francisco sobre o papel do governo a respeito dos Povos Indígenas

Além de serem parte fundamental da raiz brasileira, as populações indígenas possuem papel determinante na preservação ambiental. Grande parte dos índios brasileiros vive hoje na Amazônia. De acordo com o último censo do IBGE, são mais de 306 mil indígenas no territórioApesar do número surpreendente, até as últimas eleições nenhuma mulher indígena tinha chegado à Câmara Federal. Joenia Wapichana, da Rede de Roraima, quebrou este paradigma.

Vida dos indígenas

Muitos povos indígenas vivem da caça, pesca e extrativismo vegetal. Porém, temem o futuro. O presidente Jair Bolsonaro já disse que nenhum centímetro de terra indígena será demarcada. Além disso, este serviço ficou indo e vindo entre Funai e Ministério da Agricultura.

Papel da Igreja na Amazônia

Além das políticas a nível governamental, a igreja também atua para defender os direitos dos povos indígenas. Há 40 anos o CIMI, Conselho Indigenista Missionário, faz este trabalho. Relatórios de 2018 do CIMI mostram aumento no número de violência contra povos indígenas em 14 indicadores diferentes. Eles veem com preocupação as ações do atual governo, que buscam inviabilizar direitos básicos presentes na constituição.

Indígenas isolados

Quando os primeiros exploradores chegaram até a Amazônia, há cerca de 1500 anos, ela já era ocupada por populações indígenas há milênios. Ainda hoje, pelo menos 114 tribos não possuem qualquer contato com o mundo externo e vivem da mesma forma que seus ancestrais. Toda aproximação é feita com cuidado, pelos rios ou pelo ar, ou seja, o território dos povos isolados é respeitado.

Cultura Indígena

Apesar de milenar, a cultura indígena também é contemporânea. Conscientização sobre temas polêmicos também está em pauta. E, em um ambiente de respeito à cultura ancestral e de convivência harmoniosa com os povos indígenas, surgem inclusive novas vocações para a Igreja.

Frater Valdir Santos, missionário redentorista de Manaus é descendente do Povo Dessana, tribo que habita a região do Alto Rio Negro. Para ele, a inculturação, processo onde a fé cristã e a cultura indígena se influenciam mutuamente, é fundamental.

Ouça as entrevistas:

- Joenia Wapichana, deputada federal e líder da Rede Sustentabilidade de Roraima

- Dom Roque Paloschi, presidente do CIMI

- Marco Aurélio Tosta, coordenador de Política de Proteção e Localização de Índios Isolados da Funai

- Christian Wariu, Xavante com descendência Guarani, estudante de Comunicação Organizacional na Universidade de Brasília

- Frater Valdir Santos, missionário redentorista de Manaus

“O objetivo desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do povo de Deus. Também por causa da crise da floresta amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta” Papa Francisco sobre a convocação do Sínodo da Amazônia.

Evangelizar é tornar o reino de Deus presente no mundo. Segundo o documento preparatório para o sínodo, é fundamental o comprometimento com os irmãos, as desigualdades sociais, a justiça, compaixão e o cuidado com toda a criação.

Neste contexto, o sínodo, que é o nome dado ao encontro de bispos em Roma para discutir ações da Igreja em determinado território, vai debater a região Pan Amazônica, que compreende não só o Brasil, como outros oito países.

Para embasar a discussão em torno da degradação ambiental, a comunidade científica está sendo consultada. O professor Humberto Marotta, doutor em ecologia e professor da Universidade Federal Fluminense, destacou de forma positiva a iniciativa.

Sínodo e o governo

Entretanto, a intenção da Igreja de tratar da ecologia integral e do cuidado com a casa comum parece não ter sido bem aceita pelo governo brasileiro. O Gabinete de Segurança Institucional disse, no começo do ano, que o encontro seria um risco para o país. Em entrevista no dia 19 de junho, o presidente Jair Bolsonaro reforçou esta opinião. Dom Oderli Magri, bispo de Chapecó SC e coordenador do grupo de trabalho do Mês Missionário Extraordinário, descartou qualquer possibilidade de conflito com o governo Brasileiro.

Caminhos do Sínodo

Os chamados "momentos de escuta" em preparação ao sínodo reuniram mais de 22 mil moradores dos nove países da bacia amazônica. Com isso, foi possível chegar aos documentos que vão orientar o encontro dos bispos em RomaEm uma extensão territorial tão grande, como fazer com que a palavra de Deus chegue aos corações?

O papa convoca para uma Igreja em Saída, que vá ao encontro dos fiéis. Os missionários redentoristas, por exemplo, atendem a esse apelo há muito tempo. Ribeirinhos e moradores do interior vivem da pesca e do cultivo. A presença de um padre para a celebração da eucaristia, mesmo que uma vez por ano, traz uma mensagem de esperança para quem luta diariamente para sobreviver.

Ouça entrevistas:

- Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, presidente da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica) e relator do sínodo

- Professor Humberto Marotta, doutor em ecologia e professor da Universidade Federal Fluminense

- Dom Oderli Magri, bispo de Chapecó (SC)

- Dom Wilmar Santim, bispo de Ituiutaba (PR)

- Padre Amarildo Luciano, superior redentorista da vice província de Manaus

“Sem uma verdadeira conversão de nossas atitudes e nossos comportamentos cotidianos, as soluções técnicas não conseguirão salvar nossa casa comum. É preciso a solidariedade e o compromisso de todos, para o bem e o futuro da família humana” Papa Francisco sobre o futuro do meio ambiente

Só em julho deste ano, o desmatamento na Amazônia brasileira cresceu 278% em relação ao mesmo mês do ano passado. O Papa Francisco já disse que o planeta vive uma situação de emergência. O desaparecimento da biodiversidade seria algo catastrófico para toda existência humana. É possível reverter essa entidade?

A doutora Rosemy Nascimento, especialista em educação ambiental, garante que sim. Para isso, é necessário transmitir conhecimento e deixar claro desde cedo que, sem preservação ambiental, não há existência humana.

Educação Ambiental

A educação ambiental é lei. Porém, só este ano o programa de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente sofreu um corte de 4 milhões e meio de reais, o que representa menos 50% no orçamentoÉ preciso que sejamos capazes de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as futuras gerações. Progresso econômico e sustentabilidade precisam andar juntos. 

Consequências

Os impactos ambientais afetam o crescimento econômico do país. Mesmo permanecendo no acordo de Paris, que determina a redução da emissão de gases do efeito estufa, o Brasil precisa cumprir as metas estabelecidas.

O último relatório de Desenvolvimento Sustentável do IBGE aponta aumento das emissões de gás carbônico, aumento do desmatamento, aumento no uso de agrotóxicos e fauna ameaçada de extinção. Para deputada federal Joenia Wapichana, REDE-RR, é preciso entender que, sem meio ambiente, não há existência humana.

Thalita Silva, por exemplo, é jovem amazônida e trabalha para que o desenvolvimento sustentável aconteça. Ela faz parte do movimento Engajamundo, que busca o protagonismo jovem nas causas ambientais no Brasil e mundo afora. Para ela, o poder público precisa tratar o desenvolvimento sustentável como algo mais próximo da realidade de cada pessoa.

Ouça entrevistas:

- Doutora Rosemy Nascimento, especialista em educação ambiental

- Dom Wilmar Santim, bispo de Ituiutaba (PR)

- Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

- Marcelo Ramos, deputado federal do PL-AM

CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Ouça na íntegra entrevistas com personagens importantes do Especial "Amazônia: Patrimônio Brasileiro"

🔊 Ouça Notícias em 30 na Rádio Aparecida às 7h (1º edição) e às 17h30 (2ª edição)

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