No Natal de 1223, São Francisco de Assis criou o primeiro presépio da história. Na cidade de Greccio, ele reuniu pessoas que representaram o nascimento de Jesus. Segundo o primeiro biógrafo de São Francisco, Tomás de Celano, daquele presépio do Natal de 1223, 'todos voltaram para suas casas cheios de inefável alegria'. A Igreja considera que com a simplicidade daquele gesto, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização. (Luís Eugênio Sanábio e Souza — escritor/ Vatican News).
Não existe representação do nascimento de Jesus mais popular que o presépio, tendo espaço reservado nos lares cristãos, nas igrejas e mesmo em espaços comerciais do mundo inteiro. O presépio tem um sentido muito profundo porque a Sagrada família une o céu com a terra em silenciosa adoração. Nas palhoças, nas casas e casebres, nos templos e palácios, na visitação pública das exposições, é Deus que se mostra presente na festa da gente.
O presépio original
Originalmente os presépios eram comedouros para animais e no antigo Israel eram feitos de pedra. Os pastores ali colocavam seus cordeirinhos recém-nascidos para protegê-los do frio e das feras. Mas não era um cordeiro qualquer e sim os cordeiros perfeitos sem riscas e nem manchas que seriam usados no sacrifício pelos pecados do povo.
A palavra presépio originária do latim significa original um recinto fechado onde se os animais eram guardados como num curral ou estrebaria. E como os animais confinados no curral precisavam comer, o significado dessa palavra estendeu-se também à manjedoura, o lugar os animais comem. Foi ali que Maria colocou o menino recém-nascido.
A cidade de Belém, onde Jesus nasceu, era famosa por seus cordeiros sem manchas utilizados para o sacrifício. Eles tinham que ser perfeitos para serem depois envolvidos num tecido e derrubados na manjedoura para mantê-los bem seguros. É por isso que o Evangelho fala de Jesus deitado, como um cordeiro, numa manjedoura.
Como se celebrava o Natal
Desde o fim do século terceiro os cristãos já celebravam o Natal, quando os peregrinos se dirigiam ao local do nascimento de Cristo, a gruta de Belém. No século seguinte, a cena da Natividade já aparece em relevos de sarcófagos, instrumentos litúrgicos ou afrescos, que mostram a Virgem Maria, a Adoração dos Reis Magos e o Menino repousando numa manjedoura.
A primeira imagem do presépio foi esculpida num sarcófago do século IV, no formato de um baixo-relevo em que uma árvore faz o papel de cabana, um pastor medita apoiado num bastão, o Menino está num cocho rústico envolto em panos, ladeado por um burro e um boi.
A partir do século XV, as representações do Natal são feitas em forma de esculturas, muitas vezes em tamanho natural, expostas nos oratórios e nas igrejas. Sempre com uma preocupação didática, fazem com que os espectadores, ao olharem para o presépio, tivessem a sensação de estar penetrando no palco da História Sagrada.
No século XVI, nasce o presépio como hoje nós o conhecemos, podendo ser modificado por cada artista que o idealiza ou por cada pessoa que o reconstitui, ano após ano. A graça do presépio está em ser criativo, tornando cada um deles diferente, pessoal e único, assim como foi a encarnação do Verbo de Deus.
O presépio criado por São Francisco
Tomás de Celano, o primeiro biógrafo de São Francisco, assim relata: “Francisco beijava como um esfomeado as imagens dessa criança e a derretida compaixão que tinha no coração pelo menino fazia com que balbuciasse palavras doces, como uma criancinha. Para ele, esse nome era como um favo de mel nos seus lábios”.
Em Greccio, na véspera do Natal, o povo aproximou-se, alegre com a expectativa de ver o mistério do natal representado ao vivo. Os frades cantavam alegres, dando louvores ao Senhor. A missa de Natal foi celebrada ali mesmo, e o sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então. São Francisco, que era diácono, cantou com voz sonora o santo Evangelho. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas maravilhosas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém.
A festa do Natal no Brasil
A primeira referência a uma festa de Natal no Brasil deve-se ao padre jesuíta Fernão Cardim, que fala sobre a maneira como foi celebrada a grande data em 1584. Ele assim descreveu a comemoração natalina: “Tivemos pelo Natal um devoto presépio na povoação, aonde algumas vezes nos ajuntávamos com boa e devota música e o irmão Barnabé nos alegrava com seu berimbau”.
Aqui no Brasil, o presépio foi introduzido pela primeira vez em Olinda, Pernambuco, por Frei Gaspar de Santo Agostinho. A partir daí a representação do nascimento de Cristo se espalhou por todo o país e hoje a cena do nascimento de Cristo é representada nas lapinhas com seus bailados, nas músicas, com encenação e textos especiais.
Num presépio cabem todos os rostos. No grande encontro dos simples, dos normais, dos marginais, dos ternos, fraternos, sofridos e excluídos. Quando o diferente se encontra temos a mais bela paisagem do mundo. Tudo se torna transparente na unidade das diferenças. Num presépio não existe preconceito, existe, sim, aquela silenciosa e calma contemplação da beleza de cada um.
É preciso reinventar o Natal
O presépio nos lembra que Deus não está no mercado das crenças, nem no apelo do comércio natalino que faz uma profanação do universo do natal e de seus símbolos. Deus nem sempre está nas igrejas e nem nas bibliotecas; mas Ele está num coração que pulsa pleno de amor.
É preciso reinventar o Natal, para encontrar a humanidade de Deus, a ternura de Deus, eis o que São Francisco queria para si e para seus irmãos e para o mundo inteiro, imaginando aquele presépio vivo. Ele via longe, muito longe. E a coisa mais simples do mundo. Fora dos caminhos comuns, dos caminhos batidos, ele encontrava a fonte oculta da ternura e da fraternidade tão necessárias para o hoje de nossa história.
O presépio não é um simples enfeite, mas uma forma visual de manifestação de nossa fé e de nossa oração, na espera da chegada do Divino Salvador.
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