Mais um ano está chegando ao fim e, como sempre neste período, as cidades ficam mais iluminadas, as lojas ganham mais consumidores devido às compras natalinas e os veículos midiáticos exibem, a todo o momento, diversos comerciais com pessoas felizes e se abraçando e um bombardeamento imagético de Papais Noéis anunciando produtos e serviços que podem ser oferecidos para aquela pessoa querida, tornando seu Natal especial.
Mas o que, muitas vezes, não paramos para refletir é como tais imagens vêm, gradativamente, desconstruindo o conceito original desta tradição milenar natalina.
No entanto, antes mesmo de falarmos da desconstrução imagética da celebração natalina, é bom relembrar que o Natal iniciou como uma festa pagã, cerca de 7 mil anos antes do nascimento de Cristo, celebrando o solstício de inverno, a noite mais longa do hemisfério norte, marcando o fim das noites mais longas e o início dos dias mais claros e de um período propício para a colheita. E assim foi, por milhares de anos, até o século 4, quando o cristianismo foi oficializado pelo Imperador Constantino e o Natal tornou-se uma festa cristã voltada para o nascimento de Cristo, como a conhecemos hoje.
Leia MaisPor que as pessoas são mais solidárias no período de Natal?Todavia, embora a tradição natalina ainda sobreviva, seu significado parece se perder cada vez mais em meio à explosão imagética publicitária que vem se inovando a todo instante, especialmente em tal período, que corresponde ao mais lucrativo do ano para o comércio.
E, se observarmos os comerciais natalinos exibidos atualmente, é perceptível que muitos deles estão deixando de focar no produto ou serviço anunciado para exaltar histórias humanas que possam emocionar o público.
Mas não consideremos tal estratégia como uma tentativa do marketing em valorizar mais o sentido do Natal, como também ressalta o Prof. Dr. Jack Brandão, que há mais de 30 anos estuda o impacto das imagens na sociedade.
Segundo Brandão, quando o público se depara com imagens emocionantes, ele acaba sendo envolvido por elas numa falsa crença de felicidade.
“Sabemos que o intuito principal da propaganda é vender e que tudo não passa de uma construção, mas, no momento em que a assistimos, nos esquecemos disto, num desejo de acreditar naquilo que nos é apresentado e que pode nos remeter a uma lembrança de nossa infância, a um momento gostoso com nossos familiares, ou ainda, a um desejo de reconciliação com alguém. É o mesmo efeito gerado por muitas imagens postadas nas redes sociais, com sorrisos mascarados; porém, queremos acreditar naquela felicidade construída”, completa o professor.
Todavia, se a propaganda está focando mais nos encontros humanos do que no produto ou serviço oferecido, ela atingirá seu objetivo? Para o Prof. Jack Brandão, essa estratégia pode ser muito mais vantajosa para o comercial atingir seu intuito. “Inconscientemente, muitos associarão o momento emocionante apresentado pelo marketing com a marca que ele está divulgando, afinal quem é que não se lembra de algum comercial natalino, ou até mesmo outro, que marcou a sua vida?”, questiona o pesquisador.
Realmente, o pesquisador tem razão, pois, atualmente, é mais fácil nos lembrarmos da figura do Papai Noel com uma garrafa de Coca-Cola nas mãos do que do nascimento de Jesus (aliás, não nos esqueçamos que a própria imagem do bom velhinho foi construída pela marca de refrigerante e nada tem a ver com a história de São Nicolau, que presenteava os pobres e deu origem ao símbolo natalino).
Portanto, que possamos voltar às origens do Natal para não perdermos seu verdadeiro sentido, pois ganhar presentes é bom, mas é preciso ter cuidado para que a magia do Natal não se transforme na magia publicitária.
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