Brasil

A degradação do cerrado

Apesar do destaque para a Amazônia, o cerrado é o bioma mais degradado no país

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

18 SET 2024 - 13H04 (Atualizada em 18 SET 2024 - 14H31)

Alekk Pires / Shutterstock

No último dia 11 de setembro, celebramos o Dia do Cerrado, mas infelizmente não há muito o que comemorar quando se fala deste importante bioma do Brasil, devido ao acelerado processo de destruição e a falta de manejo adequado. Em consequência, grandes áreas do território incluído neste bioma estão se transformando no chamado cerradão, que é uma formação florestal pobre em biodiversidade, onde as espécies típicas do Cerrado se misturam com outras espécies generalistas invasoras, que não são próprias do bioma.

Segundo a plataforma Mapbiomas, que usa imagens captadas por satélite, entre 1985 e 2023, o cerrado perdeu 38 milhões de hectares, o que representa uma redução de 27% na vegetação original. Dos dez municípios mais desmatados em 2023, oito estão no Cerrado.

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e cobre cerca de um quarto do território nacional. Em Mato Grosso, por exemplo, o bioma ocupa aproximadamente 360 mil quilômetros quadrados, correspondendo a 40% da área total do estado. Entretanto, a maior parte da população não sabe da importância deste tipo de vegetação e que, sem ela, há um grave risco para a sobrevivência de importantes rios do país.

Cerrado é um grande produtor de água

Tendo a Amazônia como foco de atenção principal, é muito grande a falta de preocupação da população em relação a este bioma, registrando-se também um pequeno conhecimento sobre ele.

Pouca gente sabe que o Cerrado é uma das mais importantes fontes de água do país e que das 12 maiores bacias hidrográficas presentes no Brasil, 8 nascem no Cerrado. As nascentes dos rios que formam o Pantanal estão no cerrado, sendo que este bioma depende disso para manter o ritmo da biodiversidade local.

A vegetação do Cerrado, que se caracteriza como uma savana, composta por árvores tortuosas, plantas rasteiras, gramíneas e arbustos, é fundamental para carregar reservatórios subterrâneos e abrigar nascentes e bacias de rios, que percorrem por todo o país.

Enquanto muita gente pensa que o “berço das águas” do Brasil é a Floresta Amazônica, a precipitação de chuvas ao longo do ano no cerrado é fundamental para manter o ecossistema.

Desmatamento avança

Na maioria das vezes, quando se fala em desmatamento no Brasil, a atenção e os olhares se voltam para a Floresta Amazônica, mas a área desmatada no cerrado é maior do que na Amazônia.

É preciso que os olhos do Brasil e o interesse da mídia se voltem para o Cerrado, estimulando a população a conhecer e valorizar o Cerrado, se posicionando contra o intenso processo de desmatamento e queimadas que afetam a sua biodiversidade.

Na verdade, é necessário que os seis biomas que cobrem o território brasileiro recebam a mesma atenção, pois a destruição dos pampas, por exemplo, em explica em parte as chuvas intensas e as enchentes que ocorreram no sul do Brasil, pois os estados que formam esta região também perderam em grande parte a sua cobertura vegetal. E nas áreas onde a terra está sem cobertura vegetal a tendência é de que os problemas ecológicos se agravem cada vez mais.

Como a legislação brasileira é muito frágil, sendo fácil de ser burlada, o desmatamento avança motivado pelo agronegócio e formação de pastagens, principalmente na área conhecida como Matopiba, sigla formada pelas iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. É nessa região que fica São Desidério–BA, o município mais desmatado do país em 2023, quando perdeu 40.052 hectares de vegetação.

Em oito meses, fogo no cerrado consumiu área do tamanho da Suíça

Entre janeiro e agosto de 2024, o fogo consumiu 4 milhões de hectares de mata no cerrado brasileiro, sendo 79% de vegetação nativa. Esse valor representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 2,2 milhões de hectares foram queimados.

O Código Florestal determina que uma propriedade privada na região do Cerrado deve preservar pelo menos 20% da vegetação nativa, mas esta percentagem deveria ser maior. Além disso, seria necessário criar novas Unidades de Conservação (UCs), onde normas de exploração do território são bem mais rigorosas.

O cenário de devastação se tornou um pouco mais visível neste ano devido à seca prolongada e ao maior ciclo de queimadas que o país enfrentou em todos os tempos, mas sua destruição precisa ser controlada para que o clima volte a ser regulado e para os setores econômicos, principalmente o agronegócio, que depende do clima e dos recursos hídricos no cerrado não sofra maiores prejuízos.

Embora o cerrado possua alguns tipos de vegetação que sofrem menos com as queimadas, as secas frequentes e temperaturas extremas tem alterado todo o processo e a vida do ser humano desta região e do país como um todo tem sido sua grande vítima.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em Brasil

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