Brasil

A imigração japonesa no Brasil

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

02 JUL 2024 - 14H28 (Atualizada em 02 JUL 2024 - 15H59)

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Os brasileiros já conheciam vários grupos de imigrantes que haviam começado a chegar vindos da Europa, a partir da segunda metade do século XIX. Entre os imigrantes a maioria era de italianos que se estabeleceram especialmente nos estados do sudeste e do sul do Brasil, desmatando terras, se dedicando a agricultura e pecuária.

A maioria dos imigrantes fugia das precárias condições de vida na Europa, contribuindo para resolver o grave problema social em seus países de origem e, ao mesmo tempo, substituía a mão de obra escrava nas lavouras do café.

Em 1890, começaram a chegar as primeiras levas de imigrantes húngaros e árabes. Nesse período, a imigração italiana se intensificou, bem como a imigração portuguesa e espanhola. Calcula-se que entre o começo do século XIX e a metade do século XX, cerca de 5 milhões de imigrantes europeus e asiáticos tenham entrado no Brasil.

Como se deu a imigração japonesa ao Brasil

No dia 18 de junho de 1908, um navio chamado Kasato-Maru aportou em Santos (SP) com 781 japoneses contratados para trabalhar em fazendas do café no país. O fato marcou o início da imigração nipônica ao Brasil, cujo fluxo cessou quase que totalmente em 1973, com a vinda do último navio de imigração, o Nippon Maru. As primeiras famílias de japoneses eram formadas, sobretudo, por pessoas oriundas de áreas pobres que desenvolvia a agricultura.

O processo imigratório não ocorreu por acaso, pois como o Brasil necessitava de mão-de-obra para o cultivo do café e o Japão enfrentava problemas referentes à falta de emprego, foi firmado um acordo entre os dois países e o governo brasileiro facilitou a entrada desses estrangeiros.

No período anterior à duas Grandes Guerras mundiais o sistema feudal japonês havia entrado em declínio, ocorreu um processo de mecanização do campo que desencadeou um processo de desemprego e miséria.

Os imigrantes chegados ao Brasil precisaram superar muitas dificuldades como língua, cultura, religião, clima e preconceito, mas os trabalhadores não podiam regressar ao seu país de origem, pois tinham estabelecido contratos de trabalho que deveriam ser cumpridos e os acordos eram quase sempre desfavoráveis aos japoneses.

Calcula-se que cerca de 243,4 mil “filhos da terra do Sol nascente” tenham desembarcado no Brasil, se concentrando principalmente no Paraná, no estado de São Paulo e Mato Grosso.

Em 1938, ano antecedente à Segunda Guerra Mundial, as dificuldades aumentaram e o governo federal começou a limitar as atividades culturais e educacionais dos imigrantes, decretando o fechamento das escolas estrangeiras, principalmente japonesas, alemãs e italianas.

Com a guerra a ação dos imigrantes a situação se complicou ainda mais e a população não podia ouvir a transmissão de rádio do Japão ou falar seu idioma. Aconteceram casos de japoneses que foram detidos pela polícia por suspeita de espionagem e a aglomeração de japoneses também foi proibida. Com o fim da guerra a situação foi gradualmente melhorando.

Atualmente, o Brasil abriga a maior população de origem japonesa fora do Japão, com cerca de 1,5 milhão de japoneses e seus descendentes diretos vivendo aqui. As gerações japonesas e os percentuais presentes no Brasil são assim definidos:

Isseis (japoneses nascidos no Japão) 12,51%.

Nisseis (filhos de japoneses) 30,85%.

Sanseis (netos de japoneses) 41,33%.

Yonseis (bisnetos de japoneses) 12,95%.

Os imigrantes japoneses vieram para o Brasil com muita vontade de trabalhar, trazendo também arte, costumes, língua, crenças e conhecimentos que contribuíram para o enriquecimento do país que possui grande variedade de culturas.

Dia da Imigração japonesa. A data foi sancionada em 2005, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comemorar a chegada dos primeiros imigrantes japoneses no Brasil.

Movimento contrário

De acordo com dados oficiais das autoridades japonesas, os brasileiros documentados morando no Japão chegam a 286,5 mil pessoas, constituindo a terceira maior comunidade de estrangeiros naquele país, atrás apenas dos coreanos e chineses.

A migração de brasileiros em direção ao Japão ocorreu, sobretudo, a partir de 1988, momento em que houve um grande crescimento no contingente que praticamente dobrou de um ano para outro. E o crescimento não parou, mesmo com a recessão implantada no país.

No ano de 2003, os dekasseguis, como são chamados os brasileiros que vivem no Japão, já totalizavam cerca de 274 mil. O governo japonês decidiu fazer a revisão da lei de controle de imigração, em junho de 1990 e, animados com a possibilidade de trabalhar e morar por um período relativamente longo no país, milhares de descendentes de japoneses e seus cônjuges até a terceira geração desembarcaram buscando trabalho, especialmente como operários em fábricas. O trabalho era pesado, mas financeiramente recompensador.

Por quase duas décadas, brasileiros se mantiveram como a terceira maior comunidade de estrangeiros na “terra do sol nascente”, atrás dos chineses e dos sul-coreanos, mas nos últimos dez anos a situação começou a mudar e os brasileiros foram ultrapassados pelos filipinos e pelos vietnamitas.

Pastoral nipo-brasileira

A Pastoral Nipo-brasileira (PANIB) é uma associação cívico-religiosa, que integra o Setor Pastoral da Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), não tem fins econômicos, e congrega todos os missionários católicos (clérigos, religiosos e leigos) que se dedicam, direta ou indiretamente, à evangelização e catequização dos japoneses e seus descendentes ou outros, radicados no Brasil.

Seu objetivo consiste na integração da comunidade nipo-brasileira na Igreja Particular e Local, bem como na vida nacional e, para isso, busca estimular os missionários, integrando-os no Plano Pastoral das respectivas Dioceses e Paróquias. Busca também fornecer oportunidades, aprofundando o conhecimento sócio-político, econômico, cultural e religioso do Brasil, crescendo na vivência espiritual, através de retiros, encontros, reuniões, romarias e outros eventos, animando também a convivência fraterna.

Todos os anos a PANIB realiza a sua romaria ao Santuário Nacional.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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