A cerca de 700 metros da estação Bresser-Mooca do metrô, na capital paulista, um extenso e alto muro pintado de laranja com um portão de ferro, localizado na rua Dr. Almeida Lima, separa a rua de uma cidadela do bem, de um “Arsenal da Esperança”.
Foi lá que conversamos com padre Simone Bernardi, um dos responsáveis por este Arsenal. Ele tem 48 anos, mas aparenta muito menos, dada a vitalidade com que fala e atravessa os desafios que enfrenta. É italiano e missionário da Fraternidade da Esperança do SERMIG, o Servizio Missionario Giovani (Serviço Missionário Juvenil), fundado pelo casal Ernesto e Maria Olivero.
O entrevistei enquanto caminhávamos por aquela cidadela, cujo terreno tem 25 mil metros quadrados e hoje divide espaço com o Museu da Imigração. “Eu posso dizer que vi como era o começo [do Arsenal da Esperança]. Era um lugar triste, abandonado. Não tinha uma alma. Era sujo, tudo cinza”, disse o padre, lembrando-se de sua primeira experiência no Brasil, quando tinha 18 anos.
Seu trabalho missionário, em si, começou em 2005, 11 anos depois do início da missão do SERMIG em São Paulo. “Foi a convite de dom Paulo [Evaristo Arns], em 1996, e pela palavra de dom Luciano [Mendes], que Ernesto Oliveiro veio para cá. Esta instalação vinha pelo diálogo entre a Arquidiocese de São Paulo e o Governo do Estado de São Paulo”, explicou.
A partir da experiência com o Arsenal da Paz, em Turim, instalado em 1983 em um arsenal militar abandonado, para acolher os mais vulneráveis da região, aceitaram o pedido de dom Luciano Mendes, e desde sua criação na zona leste, cerca de 73 mil pessoas já receberam acolhida. Atualmente, 1200 todos os dias.
E tudo ali é superlativo e proporcional ao tamanho do desafio que a cidade de São Paulo enfrenta: aproximadamente 83 mil pessoas em situação de rua. Um estudo do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais, revelou que, em todo o Brasil, cerca de 300 mil pessoas vivem em situação de rua, sendo que uma a cada três vive no Estado de São Paulo.
A prefeitura de São Paulo, no entanto, considera para suas políticas públicas o número de 32 mil pessoas, conforme o Censo População em Situação de Rua, produzido por ela mesma em 2021. O próximo censo deverá ser realizado neste 2025.
Questionado sobre a discrepância nos números, Bernardi ponderou:
“É preciso andar pela cidade e ver que se multiplicam as pessoas que precisam de ajuda e em todas as regiões, que precisam de política pública. Pessoas que não têm perspectiva de futuro. Por isso, aqui trabalhamos na acolhida digna, mas também na possibilidade de que essas pessoas possam reorganizar suas vidas”.
Simone e sua equipe de funcionários e voluntários organizam o maior centro de acolhida da América Latina: o Arsenal da Esperança. “Pelo menos uma vez por dia eu tenho um insight que estou dentro do Evangelho, dura pouco [diz sorrindo], mas é aquele momento em que eu vejo que centenas de pessoas estão em momentos de trégua, e isso é digno. Vemos um horizonte de paz, que estamos oferecendo às pessoas, isso dá um contato íntimo com Deus”.
Ao longo da entrevista, padre Simone Bernardi falou das origens do trabalho do Arsenal, na cidade de Turim, localizada na região de Piemonte, ao norte da Itália. A cidade faz fronteiras com França e Suíça e possui a região vinícola mais aclamada do país, mas não só.
Entre tantos atrativos culturais, gastronômicos e urbanísticos, uma curiosidade chama atenção para a cidade e toda a região de Piemonte no século XIX: a concentração de santos e beatos que por ali nasceram, como:
Em 7 janeiro de 2023, o papa Francisco recebeu no Vaticano, membros do Sermig acompanhados por seu fundador, Ernesto Olivero. Naquela ocasião, o papa iniciou seu discurso explicando o significado do Sermig:
“É uma espécie de grande árvore, que nasceu de uma pequena semente: uma das tantas realidades do Reino de Deus! O Senhor semeou esta sementinha em Turim, no início dos anos 1960: um tempo fecundo, que contou com o Pontificado de São João XXIII e o Concílio Vaticano II”.
E continuou: “Naqueles anos, brotaram na Igreja várias formas de serviço e de vida comunitária, com base na Palavra de Deus, que continuaram graças a algumas vocações, que contaram com a adesão generosa de fiéis. Essas experiências cresceram, buscando responder aos sinais dos tempos. O Sermig, Serviço Missionário Juvenil, foi uma delas”.
.:: Este texto compõe uma série sobre o trabalho do Arsenal da Esperança. Fique conectado com o A12 e não perca os próximos textos.
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