Por Eduardo Gois Em Brasil Atualizada em 24 MAI 2019 - 19H16

Recomeço de vida é possível para detentos?

Divulgação/Governo de São Paulo
Divulgação/Governo de São Paulo


Construída em 1948, a penitenciária de Tremembé (SP) é bastante conhecida pela população por abrigar presos de casos que tiveram grande repercussão na mídia. Quem não se lembra do caso da jovem Suzane von Richthofen, do casal Nardoni ou do médico Roger Abdelmassih? O complexo penitenciário recebe, desde 2002, os chamados "presos especiais".

No Complexo P-II, são cerca de 300 detentos que cumprem pena em regime fechado e possuem ensino médio ou nível superior. É comum detentos que tenham cometido crimes como pedofilia, estupro, pessoas públicas que cometeram crimes ou outros que correm risco de vida em outras prisões, como ex-policiais, ex-agentes penitenciários. E há ainda presos envolvidos em casos de grande repercussão nacional.

Atualmente, no entanto, a penitenciária tem ganhado notoriedade por realizar atividades interessantes com os detentos. Por lá, há diversas iniciativas de trabalho dentro da cadeia, seja por contemplar desde demandas com artesanato e até mesmo o trabalho com horta e também intensas atividades educacionais e de formação intelectual e humana dos presos. Para isso, o complexo conta com a ajuda de diversas ONGs e associações.

Por lá, homens e mulheres, de forma voluntária, têm se utilizado de uma metodologia de formação humana e integral da pessoa, que visa o encontro consigo, com o outro e com Deus. Quem dá o auxílio necessário a esses presos é o núcleo das Aldeias de Vida da cidade vizinha, Taubaté (SP).

Recomeço de vida

Para contextualizar, as Aldeias de Vida nasceram em 1993, na cidade Lorena (SP). A proposta foi fundada pelo sacerdote diocesano Padre Pedro de Almeida Cunha, e trabalha a integração humana e cristã da pessoa. Hoje, as Aldeias estão presentes nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Foi considerada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo como utilidade pública estadual e caminha para se tornar também utilidade pública federal.

Gustavo Cabral/A12
Gustavo Cabral/A12
Padre Pedro Cunha é o fundador das Aldeias de Vida


O objetivo é
trabalhar o ser humano em sua totalidade. A metodologia consiste no encontro consigo, onde o indivíduo tem a oportunidade de se olhar, perceber suas limitações e buscar potencialidades dentro de si, em busca do autoconhecimento.

No encontro com o outro, o indivíduo é capaz de perceber que, sozinho, não consegue construir nada, pois necessita do outro durante todo o seu desenvolvimento vital. Os sujeitos se constituem por meio das relações que estabelecem para que o indivíduo se torne pessoa.

o encontro com Deus é primordial para formar este tripé. Ao perceber que existe um Deus que o ama, independentemente de suas misérias e sem pedir nada em troca. Assim, as pessoas percebem que sempre é possível seguir em frente. As Aldeias de Vida são pura espiritualidade cristã, mas recebem gente de todas as religiões.

Como a metodologia foi parar na cadeia?

Divulgação/Governo de São Paulo
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Após 20 anos em atividade ininterrupta, em 2013,
um encontro entre uma participante das Aldeias de Vida e uma juíza, sem querer, terminou levando a metodologia e a espiritualidade para dentro do presídio.

A juíza da 1ª Vara das Execuções Criminais de Taubaté, Sueli Zeraik de Oliveira Armani, propôs a grupo de mulheres um trabalho voluntário de acompanhamento a detentas da P-II, entre elas uma participante da Aldeia chamada Betina. Inicialmente resistente à ideia, por temer a própria segurança, mas envolvida pelo desejo de apresentar a metodologia das Aldeias, ela superou os próprios pré-conceitos e fez a proposta à juíza. A juíza, por sua vez, foi conhecer o projeto de perto e firmou a parceria.

Inicialmente apresentado apenas no complexo feminino e de forma gradual, com 120 mulheres, hoje, seis anos depois, já são mais de 2.000 presos atendidos em todas as cinco cadeias, incluindo o complexo masculino.

São realizados retiros e formações semanais. O nome “Aldeia Recomeço de Vida” foi batizado assim, justamente para esta finalidade. Tanto o trabalho de quem atende os presos, quanto a participação de cada detento são totalmente voluntários. Nenhum encarcerado das unidades é obrigado a participar, mas o número de participantes não para de crescer.

Benefícios percebidos

Shutterstock
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Esperança em trilhar novos caminhos;

Reflexão sobre erros e acertos na vida;

Mudança na relação com a família;

Melhora de comportamento dentro do presídio;

Fortalecimento de vínculos e afeto entre os presos.

Atitudes como esta nos fazem lembrar de um trecho da renovação das promessas do Batismo: "Para viver na liberdade dos filhos e filhas de Deus, renunciais ao pecado..."?


Contribuiu para este artigo: 

Padre Pedro Cunha

Marcela Morais, Coordenadora do Núcleo de Taubaté (SP) das Aldeias de Vida


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