Brasil

"Independência ou Morte": A construção do processo de independência

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

07 ABR 2022 - 09H03 (Atualizada em 07 ABR 2022 - 09H39)

Estamos fazendo juntos uma caminhada de reconhecimento da forma como realmente se deu o processo de independência do Brasil. Nos artigos anteriores, vimos que o famoso Grito do Ipiranga não se deu exatamente como foi pintado. Vimos depois que alguns acontecimentos ajudaram a agilizar o processo de nossa independência.

Contexto histórico

As raízes do processo de independência já haviam sido plantadas bem antes do 7 de setembro, e não apenas por causa da chegada da Família Real ao Brasil ou pelo Dia do Fico.

As revoltas que ocorreram no território brasileiro durante o século XVIII e começo do século XIX, como a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana ou a Revolta Pernambucana mostravam o desejo de distanciamento da metrópole. Mas toda revolta até então era reprimida com dureza.

Esses movimentos, aliados aos ideais da Revolução Francesa que haviam se espalhado por todo o mundo, aumentavam a pressão contra o absolutismo monárquico e o colonialismo do período.

Leia Mais“Independência ou morte”: Não aconteceu de um dia para o outro!“Independência ou morte” – Pera aí! Não foi bem assim!Com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, alguns fatos novos, como a abertura dos portos aos países amigos de Portugal, a intensificação das relações comerciais com a Inglaterra, graças à renovação dos acordos comerciais em 1810, vão propiciar o contato com os ideais revolucionários advindos da Europa e dos Estados Unidos.

Em 1815 se deu a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Nessas circunstâncias, a aproximação do Brasil com a Inglaterra garantiu uma relativa paz à corte aqui instalada, mas, ao mesmo tempo, trouxe uma fermentação em várias regiões do país.

Em Portugal, que havia sido completamente abandonado pela corte, ficando o país sem rei, ocorrerá a chamada Revolução do Porto. Com ela, eleva-se a pressão popular, obrigando Dom João VI a retornar a Portugal.

Quando isso aconteceu, ele deixou no Brasil seu filho mais velho, Pedro I, na condição de príncipe regente. Caso Dom Pedro também fosse embora, o Brasil poderia voltar à condição anterior como colônia de Portugal, o que não era desejo de ninguém, mas Dom Joao VI esperava de seu filho a maturidade suficiente para conduzir o país.

Getty Images/iStockphoto
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Momento decisivo

Em 1822, o príncipe regente recebeu uma carta de Lisboa exigindo seu retorno imediato ao país. Os portugueses pretendiam recolonizar o Brasil e a presença dele por aqui os impossibilitava.

Já os brasileiros, que sonhavam com a independência, organizaram-se para pedir que Dom Pedro I não deixasse o país. Foi assim que o líder respondeu negativamente aos chamados de Portugal, cuja resposta foi formulada mais tarde na famosa a frase:

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”.

Dom Pedro tinha interesses não somente com o povo, mas também com a aristocracia, que seguramente o apoiaria como imperador em troca da futura independência, com a condição de que não houvesse alteração mais profunda na realidade socioeconômica colonial. O Dia do Fico, como passou a ser lembrado o dia 9 de janeiro de 1822, foi mais um passo para o rompimento definitivo com Portugal.

No dia 7 de setembro, enquanto retornava de uma viagem até Santos, estando há vários dias em São Paulo, dois mensageiros reais entregaram ao príncipe mensagens urgentes de José Bonifácio e da Princesa Leopoldina: ou Dom Pedro declarava o Brasil independente, ou ficaria refém das cortes de Portugal. E a independência de fato aconteceu, ainda que não tenha sido no formato como foi descrito historicamente.

É bom lembrar que um correio do Rio a São Paulo em boas condições gastava ao menos 8 dias em lombo de animal. A pergunta que nos fica hoje é: O que aconteceu no dia seguinte ao Grito do Ipiranga?

O dia seguinte

Numa longa carta dirigida aos paulistas, no dia seguinte ao episódio ocorrido às margens do Ipiranga, Dom Pedro fala da necessidade urgente de retornar ao Rio de Janeiro em função de notícias recebidas de Portugal.

Na carta, porém, não há referência ao “grito”. Disso decorre a conclusão de que a Independência do Brasil ainda não estava inteiramente consumada. Ela dependeria das negociações políticas que seriam feitas. Também em carta dirigida ao seu pai, datada de 22 de setembro, Dom Pedro não fez referência ao evento.

Por essa razão, os jornais de época, que ensaiaram as primeiras narrativas sobre a Independência do Brasil, não traziam qualquer menção à data de 7 de setembro. Um jornal datou a independência como se tivesse ocorrido no dia 01 de agosto, porque nessa data o príncipe enviou o Manifesto às Províncias do Brasil, no qual as desobrigava de obedecer às ordens das Cortes de Lisboa.

Leia Mais"Independência ou Morte": Por que Dom Pedro decidiu ficar no Brasil?

Outro jornal, por sua vez, apontou a data de 12 de outubro, porque nela ocorreu a aclamação de Dom Pedro I como Imperador do Brasil. Segundo o jornal, foi esse o verdadeiro marco da criação da jovem nação.

Outras datas ainda, como o dia 9 de janeiro, dia do “Fico”, em que Dom Pedro I decidiu ficar no Brasil desobedecendo as ordens dadas pelas Cortes de Lisboa, ou o 1º de dezembro, data de sua coroação, chegaram a ser mencionadas. Só bem mais tarde é que se cravaria o 7 de setembro como a data da independência.

No dia 9 de setembro, Dom Pedro deixou o governo de São Paulo nas mãos do Bispo, do Ouvidor Geral e do Capitão de Armas de Santos, partindo de volta ao Rio de Janeiro. Mesmo em meio a temporais e estradas enlameadas, ele fez a viagem em 5 dias, uma distância que, como já dito, normalmente era percorrida em 8 dias pelo mensageiro do correio.

Com sua chegada ao Rio de Janeiro é que começariam de fato os preparativos para que o Brasil pudesse ser considerado um país completamente independente de Portugal.

volume_up Ouça também o podcast com o Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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