Quais as razões que trouxeram Dom Pedro a São Paulo quando aconteceu a proclamação da Independência? Como se deu a Independência, que somente se concretizaria dias depois, a partir do reconhecimento de outras “nações amigas” e do empréstimo feito pela Inglaterra para que o Brasil pudesse pagar a Portugal? Como foi a viagem, havendo registros de que alguns trechos foram feitos a cavalo, outros em mula, do Rio até São Paulo, pelo Vale do Paraíba? O que fez o jovem príncipe pelo caminho, nesta viagem que ele começou como príncipe regente e terminou como imperador?
Essas são algumas questões que hoje respondemos nesse artigo, a partir de registros feitos ao longo do trajeto e que permitem que hoje se faça a sua reconstituição, mostrando os lugares por onde passou, os pousos feitos em fazendas e em casas de autoridades eclesiásticas e até mesmo sua passagem por Aparecida, onde visitou a Capela da Santa.
Motivações da viagem
A viagem se estenderia por quase um mês e tinha, acima de tudo, motivações políticas, pois a província de São Paulo vivia momento conturbado, com um princípio de motim da parte da elite, que ameaçava deixar de cumprir certas ordens vindas da capital Rio de Janeiro.
Dom Pedro queria firmar alianças com os fazendeiros, apaziguar o cenário e preparar o terreno para a Independência, evitando, porém, o risco da fragmentação do Brasil em pequenas repúblicas, como havia ocorrido em outras partes na América Espanhola. Dom Pedro precisava se mostrar um líder capaz de realizar um plano ambicioso de independência num território de proporções continentais como já era o nosso.
Leia Mais“Independência ou morte” – Pera aí! Não foi bem assim!Na época, o Vale do Paraíba era um dos motores econômicos do País graças à economia do café, sendo um lugar ideal para firmar alianças com os seus barões.
As ideias que circulavam eram diversas, mas uma coisa era certa: os brasileiros não queriam voltar a ser colônia de Portugal, contando, porém, com a oposição dos portugueses que desejavam que Dom Pedro 1º retornasse a Portugal e que todas as leis que possibilitavam ao Brasil algum tipo de emancipação fossem derrubadas.
Outro grupo desejava que o Brasil seguisse o rumo da América Espanhola, e que as províncias logo se tornassem repúblicas. Nesse ponto prevaleceu o modelo defendido por José Bonifácio de Andrada e Silva, que propunha que o Brasil se separasse de Portugal, mas que continuasse como um regime monárquico constitucional, com a finalidade de preservar a unidade política e territorial.
Esse cenário pressionava Dom Pedro. Ele havia herdado um país com inúmeros problemas financeiros, políticos e sociais, precisando de apoio para solucioná-los. A viagem iria trazer um amadurecimento do jovem príncipe que, aos poucos, acabaria percebendo que havia muita coisa além de suas aventuras extramatrimoniais.
A viagem – A capela da santa
Dom Pedro saiu da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro no dia 14 de agosto de 1822. Ele estava à frente de uma comitiva composta por uns 30 homens e seguia um roteiro pré-determinado, com paradas estratégicas ao longo da rota até São Paulo.
Existia, ainda que de forma precária, uma logística para a viagem, na qual era levada certa quantidade de alimentos e água, com seu estoque sendo renovado nas fazendas onde pernoitava.
Os primeiros pousos aconteceram em fazendas estrategicamente localizadas em Bananal, São José do Barreiro, Areias, Cachoeira Paulista e Guaratinguetá, sempre em casas de “coronéis”, autoridades amigas ou eclesiásticas.
Leia Mais“Independência ou morte”: Não aconteceu de um dia para o outro!Chegando a Guaratinguetá, Dom Pedro tinha um novo compromisso público: visitar a então capela de Nossa Senhora Aparecida, hoje no município de Aparecida, que já era ponto de peregrinação. O pequeno templo havia sido erguido para abrigar a imagem da santa encontrada na região em 1717.
Relatos afirmam que Dom Pedro teria rezado na igrejinha e feito uma promessa: se tudo corresse bem, ele faria de Nossa Senhora Aparecida a padroeira do Brasil independente. Na realidade, depois de se tornar imperador, Dom Pedro 1º escolheu São Pedro de Alcântara como padroeiro e o título de Nossa Senhora viria apenas no tempo da República.
Partindo de Guaratinguetá, o próximo pouso ocorreu em Pindamonhangaba, seguindo depois Taubaté, Jacareí, Penha de França, que na época era isolada de São Paulo e, por fim, a cidade de São Paulo, onde chegou no dia 25 de agosto, depois de 11 dias, permanecendo vários dias hospedado na cidade.
Princesa Leopoldina
Quando Dom Pedro saía em viagens, quem assumia o comando do País era a princesa - depois imperatriz – Dona Leopoldina.
Enquanto Dom Pedro viajava pelo Vale do Paraíba em direção a São Paulo, Leopoldina, que não era portuguesa, começou a arquitetar a separação de Portugal.
Em agosto de 1822, ela escreveu uma carta para sua irmã na qual dizia que "o Brasil é grande demais, poderoso e, conhecendo sua força política, incapaz de ser colônia de uma corte pequena".
No mesmo período, remeteu também uma mensagem ao seu pai, na qual afirmou que "o nobre espírito do povo brasileiro se mostrou de todas as formas possíveis e seria a maior ingratidão e erro político crassíssimo se nosso empenho não fosse manter e fomentar a sensata liberdade e consciência de força e grandeza deste lindo e próspero reino, que nunca poderá ser subjugado pela Europa". Na correspondência, a princesa chamou Portugal de "pátria mãe infiel".
Leia Mais"Independência ou Morte": A construção do processo de independência"Independência ou Morte": Por que Dom Pedro decidiu ficar no Brasil?Leopoldina seria importante no processo de Independência do Brasil, seja ao assumir o papel da regência enquanto o príncipe apaziguava os ânimos dos brasileiros, seja na negociação para a separação de Portugal.
Algumas cartas deste momento mostram a sua vontade e participação no processo de separação do Brasil de Portugal.
play_circle_filled Confira também o 5º episódio do podcast com o Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R.
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