Brasil

“Independência ou morte” – Pera aí! Não foi bem assim!

Estreia hoje o podcast especial com o missionário redentorista e historiador Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R., sobre o bicentenário da Independência do Brasil

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

27 JAN 2022 - 09H58 (Atualizada em 27 JAN 2022 - 14H00)

Nesse ano de 2022, estamos sendo brindados com a celebração de várias datas comemorativas. Entre elas, temos a comemoração dos 200 anos da independência do Brasil (1822-2022).

Por isso, vamos aproveitar esse espaço para compreendermos melhor o que foi e como se deu a tão propalada independência do Brasil. O mais importante, porém, é decifrarmos a forma como podemos trabalhar hoje para que nossa pátria seja, de fato, independente, sabendo que isso não é - e nunca será - um processo acabado.

A independência, como bem diria o filósofo, é um vir a ser, um processo a ser trabalhado, estando sempre em vias de construção.

Em nossa caminhada histórica que hoje começamos, vamos primeiro ver como se construiu o mito do Grito do Ipiranga, para depois avançarmos nos fatos que provocaram a mudança histórica do Brasil, com a separação de Portugal, do qual foi colônia e, depois, Reino Unido.

O “Grito do Ipiranga” de fato aconteceu?

A imagem de Dom Pedro I desembainhando a espada no alto do Ipiranga, às margens do riacho que, bastante poluído, ainda hoje corta parte da capital paulistana dando nome a um de seus bairros mais queridos, é uma das mais populares representações da história do Brasil.

Há muitas décadas, ela figura nos livros didáticos, ilustrando também páginas de revistas e jornais por ocasião das comemorações da Independência. Diante dela, temos a impressão de sermos testemunhas do evento histórico, aceito naturalmente como o “marco zero” da fundação do Brasil como uma nação. No entanto, essa representação é fruto da mente fértil de um artista que ainda não tinha nascido no momento em que o episódio ocorreu.

Reprodução
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O quadro “Independência ou Morte”, também conhecido como Grito do Ipiranga, é obra do pintor Pedro Américo, sendo o principal símbolo da proclamação da Independência do Brasil, comemorada em 07 de setembro. A imagem, no entanto, não é exatamente uma fotografia do momento em que Dom Pedro I recebeu a carta que o deixou muito irritado, levando-o a pronunciar o famoso grito: “Independência ou Morte!”.

Enquanto a independência do Brasil começou a ser construída a partir de 1822, Pedro Américo só foi terminar de pintar o quadro em 1888, em Florença, na Itália. A obra foi encomendada pela Família Real, que investia na construção do Museu do Ipiranga, hoje oficialmente chamado Museu Paulista, que fica em São Paulo (SP) e que está passando por um completo processo de revitalização, devendo ser reaberto ao público justamente na comemoração dos 200 anos da independência, em setembro deste ano.

A motivação ou ideia central do quadro era a de ressaltar a força da monarquia, que recebia muitas críticas e já estava cambaleando, vindo a cair no dia 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República.

Pedro Américo foi um pintor histórico, autor de várias outras obras com o mesmo princípio de reconstrução de fatos históricos, como o quadro Batalha do Avaí, que retrata um dos eventos da Guerra do Paraguai. Também nesse caso, ele não estava presente. Assim, o Grito do Ipiranga é um quadro simbólico, como várias outras pinturas históricas espalhadas pelo mundo.

Reprodução
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A Pátria, de Pedro Bruno (1918)


Narrativa da Independência

Um dos presentes no momento da suposta proclamação da Independência, foi um padre de nome Belchior. Ele deixou um escrito relatando que o príncipe Dom Pedro estava sofrendo “por uma disenteria que o obrigava, a todo momento, a 'apear-se para prover'”, numa linguagem bem respeitosa em relação à autoridade imperial. 😅

Depois, continua a narrativa do padre, “abotoando-se e compondo a fardeta”, se reuniu com sua escolta e declarou:

“Amigos, as Cortes portuguesas querem escravizar-nos e perseguem-nos.
De hoje em diante, nossas relações estão quebradas. Nenhum laço nos une mais”.

Num ímpeto de raiva, o príncipe arrancou então do chapéu o laço azul e branco, dizendo: “Laços fora, soldados. Viva a Independência, a liberdade e a separação do Brasil!”. No ato, desembainhou então sua espada, no que foi imitado por todos, e jurou: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil”.

A narrativa do padre Belchior continua: “De pé nos estribos, ele teria afirmado que a divisa do Brasil seria Independência ou morte!”.

Invenção ou realidade, textos e pinturas como essa serviram de matéria-prima para a inspiração do pintor Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905) para pintar o painel 'Independência ou morte!', entre os anos de 1886 e 1888.

A imagem é a primeira que nos vem à cabeça quando nos recordamos do 07 de setembro, mas ele não retrata dois fatos correntes da época: Nada se fala ou se mostra referente à disenteria de Dom Pedro e não mostra que as viagens mais longas na época, mesmo as que eram feitas pela comitiva imperial, usavam mulas, tanto para o transporte das pessoas como das bagagens, por serem animais mais resistentes, e não cavalos, o que exigiria várias trocas.

audiotrack Confira também o podcast especial "Independência ou Morte: Não foi bem assim!", com o Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R., no áudio abaixo.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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