Brasil

"Independência ou Morte": Por que Dom Pedro decidiu ficar no Brasil?

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

23 MAR 2022 - 08H27 (Atualizada em 23 MAR 2022 - 09H07)

Este ano, entre muitos outros acontecimentos comemorativos, celebraremos em setembro os 200 anos de nossa independência em relação a Portugal.

Compreendemos que o famoso “Grito do Ipiranga” retratado pelo pintor Pedro Américo, em uma celebre obra de arte que se encontra no Museu do Ipiranga, em São Paulo, não se deu exatamente como muitos livros didáticos apresentam e que a independência não se faz de um dia para o outro, sendo fruto de um longo processo de luta e conquista.

Em 1822, durante uma viagem de inspeção às províncias, Dom Pedro recebeu uma dura carta enviada pelas cortes de Portugal, que anulava a Assembleia Constituinte que ele convocara, exigindo sua volta imediata à metrópole. Essas notícias chegaram quando ele retornava de Santos, viajando para São Paulo.

Diante dos fatos e da argumentação de seus ministros, com destaque para José Bonifácio, historicamente chamado de “o patriarca da independência”, só havia uma decisão a tomar: “às margens plácidas do riacho do Ipiranga”, como canta o Hino Nacional Brasileiro, ele decide pelo rompimento com Portugal. Era o dia 7 de setembro, mas só no mês de dezembro de 1822 é que Dom Pedro seria declarado imperador do Brasil.

Leia Mais“Independência ou morte” – Pera aí! Não foi bem assim!Na verdade, como bem sabemos, não houve grito e tampouco arroubos de sua guarda pessoal, que mal sabia o que estava acontecendo.

Imediatamente, a diplomacia começou a trabalhar para que o Brasil pudesse adquirir o reconhecimento das demais nações. Os Estados Unidos foram a primeira nação do mundo a reconhecer nossa independência.

Apesar do valor histórico do dia 7 de setembro, velhas estruturas sociais permaneceram intactas, já que a população mais pobre não fez - e continua não fazendo - parte do processo.

No Brasil imperial, de um lado havia uma poderosa elite agrária proprietária dos latifúndios, e do outro, a grande massa dos deserdados, pobres e escravos que ainda permaneciam submissos. A nova nação por muito tempo ainda carregaria o peso dos 300 anos de escravidão em sua história.

O Brasil, Reino Unido a Portugal e Algarves, a partir da independência evoluía para uma Monarquia Imperial, tendo à frente o próprio príncipe Dom Pedro, a caminho de se transformar no único império que já houve na América do Sul.

Getty Images
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Dom Pedro I decide permanecer no Brasil

O que levou Dom Pedro a romper com Portugal ou o que aconteceria se ele tivesse voltado à metrópole como era o desejo das cortes?

Entre os fatos mais imediatos que levaram ao Grito do Ipiranga está o "Dia do Fico", ocorrido em 9 de janeiro de 1822, quando D. Pedro I se recusou a cumprir a exigência das cortes de Lisboa que determinavam seu retorno a Portugal. Com isso, elas mostravam sua clara intenção de "recolonizar" o Brasil, mas a presença de Dom Pedro por aqui impedia este propósito.

Ao tomar a atitude contrária, sob influência dos então donos do poder no Brasil, o famoso “Dia do Fico” se revelaria mais tarde como um dos principais passos tomados pelo príncipe regente em direção à total independência do Brasil, por mais que, naquele momento, este não fosse o objetivo e os que estavam presentes desconheciam seu real significado.

O Dia do Fico ganha, então, uma importância mais simbólica do que prática. Na ocasião, não havia nenhum cronista ali no ato preocupado em registrar suas reais palavras.

E se Dom Pedro, em vez de ficar ao lado das oligarquias brasileiras, tivesse atendido aos interesses da coroa portuguesa, voltando para sua terra natal?

É complicado fazer essa reflexão por estar baseada em hipóteses, e a história se faz em cima de fatos concretos, mas possivelmente teríamos dois cenários:

No primeiro, as cortes poderiam ceder e manter o Brasil como Reino Unido. Isso retardaria bastante a independência.

Caso o parlamento português insistisse nas medidas recolonizadoras, o Brasil caminharia mais rapidamente para a separação de Portugal. Sem Dom Pedro, figura que mantinha a coesão da burguesia brasileira e legitimava o movimento de resistência à recolonização, a independência brasileira ocorreria, mas quem sabe de maneira totalmente diferente.

O Brasil, mais cedo ou mais tarde, desencadearia o seu processo de independência, que poderia ser desigual, variando em tempo e em forma de região para região, atingindo sua totalidade num período bem mais longo.

Leia Mais“Independência ou morte”: Não aconteceu de um dia para o outro!É certo que Portugal não teria condições de manter as colônias deste vasto território com os meios de que dispunha naquele momento e, com muita probabilidade, o Sul e o Sudeste seriam os primeiros a romper com Portugal.

Além disso, a independência poderia não ocorrer de forma pacífica, podendo haver derramamento de sangue, justamente por faltarem as condições da transição tal como se deu e, principalmente, pela falta de uma figura simbólica em torno da qual os diferentes setores que compunham a sociedade brasileira, em especial suas elites, pudessem se aglutinar.

Poderia ocorrer ainda a fragmentação do Brasil, fortalecendo a tendência de se ter uma independência desigual. A "América Portuguesa" poderia ganhar outra configuração de fronteiras, se fragmentando com a formação de vários países onde hoje existe o imenso Brasil.

Mas como tudo é hipótese, e como hoje temos ainda um país a construir, precisamos continuar buscando os elementos que possam acelerar o real processo de Independência, pois sem alterações mais profundas em sua estrutura, o Brasil não será completamente aquela nação que todos almejamos.

Que seja essa a grande conquista da celebração dos 200 anos da independência!

play_circle_filled Ouça também o podcast com o Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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