O Brasil está, graças ao mito da democracia racial, muito longe de pôr um fim definitivo em sua práxis racista ou preconceituosa. Lamentavelmente, ainda escutamos pessoas se perguntando: Existe mesmo preconceito racial no Brasil? Há quem diga que não. No entanto, sabemos que no Brasil o racismo existe. O problema é que nós brasileiros, brancos e negros, nas palavras do sociólogo Florestan Fernandes, “nos acostumamos à situação existente no Brasil e confundimos tolerância racial com democracia racial” (FERNANDES, 2007, p. 59).
O fato de, aparentemente, haver uma boa convivência social entre brancos e negros no país não significa que não haja racismo. No quesito espacial, por exemplo, onde estão os brancos e onde estão os negros? Democracia significa direitos e deveres iguais para todos. Não é o que acontece aqui no Brasil. Os negros estão, mais do que alguns brancos, privados de igualdade social, econômica, política, jurídica e religiosa. No Brasil, não existe uma sociedade democrática. Fala-se muito a respeito dela, mas ela não existe.
Dizer que no Brasil o branco e o negro têm a mesma igualdade de oportunidades é uma grande falácia. Essa afirmação, por parte de alguns, é no mínimo farisaica. O padrão social brasileiro visa, ainda nos dias de hoje, “manter o negro sob a sujeição do branco” (FERNANDES, 2007, p. 60).
Leia MaisA respeito da realidade racial brasileiraA indefinição do 'status quo' do negro brasileiroDemocracia Racial: Um conceito logicamente falaciosoEnquanto esse padrão social brasileiro racista e classista não for abolido, a distância econômica, social, política, jurídica e religiosa entre brancos e negros nunca será superada.
Enquanto essas questões raciais, de ontem e de hoje, não forem resolvidas podemos continuar afirmando dos telhados que no Brasil, particularmente, “democracia racial não passa, infelizmente, de um mito social” (FERNANDES, 2007, p. 60).
O mito da democracia racial, no Brasil, não ajuda nem o branco e, menos ainda, o negro. Precisamos tomar consciência disso. Há vários tipos de preconceitos. Nós temos, por exemplo, “o preconceito racial sistemático, que ocorre nos Estados Unidos, e o preconceito racial dissimulado e assistemático, do tipo do que se manifesta no Brasil” (FERNANDES, 2007, pp. 60-61).
O preconceito no Brasil, apesar do mores cristão católico (padrão de comportamento), legitima a escravidão de hoje, bem como legitimou a escravidão de ontem. Tudo isso é visto com natural ou como um mero contexto de época ou falta de oportunidades. Mas a questão é que no Brasil o confronto entre negros versus brancos é bastante acirrado. O negro continua, como no passado, sendo tratado com inferior e ele é necessariamente subordinado ao branco. Para algumas pessoas, a escravidão foi um benefício para o negro. Dessa forma, no Brasil é “proibido”, vamos dizer assim, não ter preconceito.
Falar da existência de preconceito no Brasil é bastante complicado. No entanto, nada ou quase nada tem sido feito para melhorar as condições sociais dos negros brasileiros. O Brasil é uma sociedade escravista. Aqui há nos cantos e recantos discriminação e segregação raciais. “A passagem da sociedade escrava para a sociedade livre não se deu em condições ideais” (FERNANDES, 2007, p. 62).
Infelizmente, os negros continuam marginalizados e sobre o crivo da subsistência. “O negro e o mulato viram-se submergidos na economia de subsistência, nivelando-se, então, como ‘branco’, que também não conseguia classificar-se socialmente, ou formando uma espécie de escória da grande cidade, vendo-se condenados à miséria social mais terrível e degradante” (FERNANDES, 2007, p. 62).
Leia MaisDepois da abolição: O preconceito contra negros ainda continua forte no BrasilQuais são as perspectivas futuras para os negros brasileiros?Dado o exposto, podemos dizer que o abolicionismo brasileiro não aboliu os negros coisa nenhuma. Os ideais abolicionistas são humanitários. No entanto, eles “não conduziram os ‘brancos’ a uma política de amparo ao negro” (FERNANDES, 2007, p. 62).
Até os dias atuais, não podemos negar, os negros brasileiros foram reduzidos a uma degradante condição marginal. A discriminação no Brasil é tão forte no presente como um dia foi no passado brasileiro colonial. O mito da democracia nos impede de perceber a realidade brasileira classista e racista.
Na atualidade fluida, bem como na atualidade sólida, os negros continuam sofrendo desigualdade econômica, social, cultural, política, jurídica e religiosa. E essa desigualdade está longe de acabar. Do mundo da senzala para o mundo da casa grande, é preciso percorrer um longo caminho. No Brasil o racismo e a segregação raciais são bem sutis. Dessa forma, os negros continuam no porão da sociedade brasileira.
Enquanto estivermos sob a regência do mito da democracia racial a “igualdade de oportunidades para todos, independentemente da cor da pele ou da extração social” (FERNANDES, 2007, p. 63) dificilmente vai acontecer.
Brancos e negros precisam ter uma consciência mais completa e profunda sobre as questões raciais no Brasil. “Quanto tempo terá que correr para que consigam tratamento igualitário numa sociedade racialmente aberta?” (FERNANDES, 2007, p. 63). Sem respeito não há grandes transformações.
Bibliografia
FERNADES, Florestan. O negro no mundo dos brancos / Florestan Fernandes; apresentação de Lilia Moritz Schwarcz. 2ª ed. revista – São Paulo. Global, 2007.
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