Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em Brasil Atualizada em 01 FEV 2022 - 09H23

Semana de Arte Moderna 1922: Uma semana revolucionária

Realmente, o ano de 2022 está sendo pródigo em datas comemorativas. Além de tantos outros eventos, como o bicentenário da Independência do Brasil, esse ano, no mês de fevereiro, celebraremos o centenário de realização da Semana de Arte Moderna que, em 1922, foi verdadeiramente “uma semana revolucionária”.

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O que foi a Semana de Arte Moderna?

A Semana de Arte Moderna partiu da iniciativa de um grupo de artistas e escritores paulistas que fizeram do Teatro Municipal de São Paulo o palco dos eventos que aconteceram ao longo da semana, mas até hoje sua 'paternidade' ainda é discutida.

Os artistas queriam, isso sim, que aqueles três dias (13, 15 e 17 de fevereiro de 1922) fossem um marco simbólico de transformação da arte e da sociedade brasileira. 

As noites de arte, música e manifestações que aconteceram no Teatro Municipal refletiam, portanto, o processo de mudança que já vinha acontecendo desde alguns anos antes.

O modernismo teve nessa semana a sua maior expressão, deixando marcas profundas e também um legado importante, tanto na liberdade de pesquisa e ampliação dos horizontes da arte quanto na concepção de uma cultura que fosse 'mais brasileira'.

Parte do sucesso da Semana de 1922 e do mito que ela viria a se tornar se deve à habilidade do grupo modernista em se valer da imprensa, pois alguns deles eram articulistas de importantes jornais e revistas da época.

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Eles se serviram da imprensa para insuflar a crítica especializada, criando controvérsia em torno da arte que pretendia enterrar o academicismo e o “passadismo”.

Para os modernistas, podemos afirmar que “quanto mais barulho, melhor!” Além do mais, eles também contaram com corajosos mecenas da elite paulista ou paulistana, ricos industriais para que a semana pudesse acontecer.

Leia MaisA manifestação de Deus na arte cristã: uma análise filosófica Mas não deixa de ser curioso o fato de alguns dos próprios modernistas, principalmente Menotti del Picchia e Mário de Andrade, os mesmos que utilizavam a imprensa para acirrar os ânimos entre “passadistas” e “futuristas”, serem ambíguos ao situar suas obras.

Noção de brasilidade

A Semana de Arte Moderna teve como central de manifestações o Teatro Municipal de São Paulo, só que as discussões mais envolventes aconteceram fora dele.

E o ponto central do debate era sobre a própria noção de arte brasileira e de brasilidade de modo geral.

A Semana de 22 trouxe com contundência a questão da influência europeia e internacional sobre a arte e a cultura nacionais, bem como a forma de assimilar tais traços e, com eles, forjar uma noção “moderna” do país e da arte brasileira.

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Esse debate, salutar e democrático, foi sendo continuado ao longo das décadas e agora, prestes a celebrarmos o centenário da semana, incide sobre temas de grande atualidade, como as questões raciais, sociais, regionais e de gênero. E a influência externa sobre a arte no país continua!

Essas questões seguramente deverão atravessar as celebrações e revisões do centenário que já estão acontecendo, pois exposições, mostras e outros eventos deverão marcar essa data comemorativa.

O certo é que a Semana de Arte Moderna foi um acontecimento histórico marcante, pelas repercussões que causou na sociedade da época e pela herança direta que proporcionou.

As discussões sobre questões como a diversidade regional, social, de raça e gênero, como já citadas, ficam como legado do acontecimento na arte contemporânea, a partir de produções feitas nas décadas subsequentes, marcando a continuidade e o impacto do modernismo sobre a realidade atual, como também o elitismo e o próprio sentido restrito do ciclo de 1922.

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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