Na atualidade líquido-moderna, fortemente marcada por grandes transformações, a “mobilidade social e as relações sociais” (FERNANDES, 2007, p. 64) são extremamente vitais. Infelizmente, a sociedade brasileira, mesmo sendo ela uma sociedade em constante mudança, tem dificultado muito a mobilidade social e as relações raciais dos negros e negras brasileiros.
Não é preciso muito esforço para perceber que os negros brasileiros se encontram, em sua maioria, nos guetos das grandes, médias e pequenas cidades. E tal situação se dá tão somente pelo fato de serem negros. Sem mobilidade social e relações raciais não há uma real democracia. O mito da democracia racial, muito forte em terras brasileiras, nos impede de ver a ausência de mobilidade social e as não-relações raciais como um problema. No entanto, tal fato é para os negros brasileiros um enorme drama.
No Brasil, “o preconceito e a discriminação raciais dificultam a ascensão social de minorias étnicas ou raciais” (FERNANDES, 2007, p. 64). Alguns especialistas afirmam, ainda, que no Brasil o “preconceito de raça e a discriminação racial” (FERNANDES, 2007, p. 65) são vistos como sendo uma relação neutra. Para alguns o preconceito de raça e a discriminação racial são coisas do distante passado colonial ou, simplesmente, um contexto de época.
Mas será que é somente isso? Claro que não. No Brasil líquido-moderno, o preconceito de raça e a discriminação racial são forças dominantes. Eles foram construídos no passado distante por “elites brancas e escravistas” (FERNANDES, 2007, p. 65) e perduram até os dias de hoje. As ideologias raciais no país estão em plena expansão e determinadas a gladiarem ferozmente contra todas as minorias nacionais, étnicas ou raciais.
No Brasil as mulheres e o homens de cor estão fisicamente libertos. No entanto, ideologicamente falando, eles e elas se encontram agrilhoados como estiveram no passado colonial brasileiro. No Brasil, a situação do negro não é entendida como de fato deveria. As autoridades brasileiras, compostas por brancos e negros, quando deparam com a realidade racial brasileira se fazem de “tábula rasa” (FERNANDES, 2007, p. 66).
As autoridades brasileiras fazendo-se tábula rasa insistem em dizer que no Brasil o preconceito racial já foi superado. E o que temos aqui são situações ou casos de preconceitos raciais isolados, e que brancos e negros possuem as mesmas oportunidades. Embora tenhamos no Brasil uma lei abolicionista, sabemos que a “abolição foi um episódio social feito pelo branco e para o branco” (FERNANDES, 2007, p. 66).
O fato é que na República Federativa do Brasil, como no Brasil Colonial, o “homem de cor” (FERNANDES, 2007, p. 66) continua sendo espoliado. O homem de cor brasileiro mora mal, come mal, ganha pouco, conta com pouca assistência social e não tem as mesmas oportunidades que os homens brancos. O homem negro brasileiro, não podemos negar, “ainda hoje se sente impotente para disputar o trabalho livre na Pátria livre” (FERNANDES, 2007, p. 67).
Nesse quesito, acima mencionado, não vejo, a curto prazo, melhores perspectivas. A ascensão social do homem negro brasileiro está cada vez mais longe de acontecer. A ascendência do homem negro brasileiro, dentro do sistema social vigente, “atinge apenas alguns indivíduos da população de cor” (FERNANDES, 2007, p. 67) dentro da sociedade brasileira.
A extrema desigualdade racial brasileira, que herdamos do passado colonial, faz com que as mulheres e os homens negros se contentem em viver dentro de verdadeiros guetos espalhados pelas periferias das pequenas, médias e grandes cidades brasileiras.
Que democracia racial é essa que impera na República Federativa do Brasil? A participação dos negros no progresso brasileiro é bastante relevante. No entanto, tal acontecimento não é visto e nem divulgado. As grandes mídias, quando querem falar dos homens e mulheres de cor brasileiros, preferem abordar os fatos pitorescos, a malandragem, o consumo de drogas e álcool e a violência urbana. Será que nós, homens e mulheres negros brasileiros, somos realmente assim? E os homens e as mulheres brancos? Não são também eles e elas violentos, dependentes químicos, malandros e que possuem, igualmente, algum tipo de comportamento condenável?
Diante do homem branco, o homem de cor não possui nenhum status. Como no passado colonial brasileiro o homem de cor, diante do homem branco, é “passivo, subalterno e subserviente” (FERNANDES, 2007, p. 71). Pessoas de cor precisam lutar muito, não somente pela vida mas, sobretudo, precisam lutar “por igualdade de oportunidades e por igualdade de tratamento” (FERNANDES, 2007, p. 72). Entre as pessoas negras não faltam tensão e pressão. A luta, entre brancos e negros, para alcançar e fazer parte da sociedade inclusiva, é bastante desigual, dura e desumana.
O homem negro brasileiro, com relação ao homem branco, está sempre em desvantagem. Somam-se aos fatos acima mencionados, a cor da pele, a desigualdade econômica, social, política, jurídica e religiosa. Esses fatores, acima elencados, sem sombra de dúvida, impedem a ascensão social do homem de cor brasileiro.
Desenraizados da sociedade brasileira, os negros não têm como continuar no jogo pela mobilidade social e relações raciais ascendentes. Nós, homens e mulheres negros brasileiros, queremos fazer parte, igualmente com as mulheres e com os homens brancos, da sociedade inclusiva brasileira. Queremos ser aceitos e tratados como iguais, embora sejamos diferentes e possuidores de características singulares.
Queremos ser tratados com respeito, sem restrições nem evasivas. Chega de preconceito e recalques dos brancos sobre nós. Chega de preconceitos sociais e raciais. Como homens e mulheres negros brasileiros queremos os nossos direitos para executarmos nossa ascensão social.
Bibliografia
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos / Florestan Fernandes; apresentação de Lilia Moritz Schwarcz. – 2ª ed. revista – São Paulo: Global, 2007.
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