A escravidão no Brasil, bem como em qualquer outro lugar do mundo, é fruto da exploração colonial. O velho mundo colonial era bastante classista, excludente e não muito competitivo. No velho mundo colonial, não havia integração social. Assim sendo, o rico era rico e o pobre era pobre, "conforme a determinação de Deus".
No velho mundo colonial, quando o pobre era uma mulher ou um homem negro, a situação se complicava ainda mais. As mulheres e os homens negros da atual República Federativa do Brasil, mesmo sendo mulheres e homens libertos, ainda hoje não gozam dos mesmos benefícios sociais. No Brasil atual, líquido-moderno, gozam de privilégios os seguintes agentes sociais: os políticos, os juízes federais, os senhores de terra ou fazendeiros do agronegócio, os industriais, os banqueiros, os comerciantes, os profissionais liberais e os operários especializados.
Leia MaisA respeito da realidade racial brasileiraA indefinição do 'status quo' do negro brasileiroDemocracia Racial: Um conceito logicamente falaciosoE os negros? Onde eles ficam na atualidade fluida brasileira? Os negros encontram-se marginalizados nos mais variados guetos espalhados pelo Brasil afora.
Isto é, nas favelas. As mulheres e os homens negros são agentes marginais. Por mais que eles e elas se esforcem, jamais chegarão ao topo da pirâmide social brasileira que, por sua vez, é fortemente preconceituosa, racista e excludente.
As mulheres e os homens negros libertos, no Brasil, estão predestinados a pertencerem ao setor marginal da população. Elas e eles se tornaram subproletariados. E o abolicionismo? O abolicionismo, por sua vez, não significa nada, absolutamente nada, para a supremacia branca que desfruta de todos os benefícios sociais na sociedade brasileira.
Nas favelas, guetos brasileiros, os negros vivem aglomerados. Sem muitas opções, os negros brasileiros curtem o “desemprego permanente ou temporário, o parasitismo e a anomia geral para todos” (FERNANDES, 2007, p. 86). No Brasil, não há partilha das possibilidades. As discriminações raciais e sociais, no Brasil, tornaram-se um estilo de vida. Assim sendo, não há um futuro promissor para as mulheres e os homens negros brasileiros.
Tal situação é gerada pela “incapacidade da sociedade nacional de criar rapidamente uma economia capitalista expansiva, capaz de absorver os ex-escravos e os libertos no mercado de mão de obra” (FERNANDES, 2007, p. 87). No Brasil, ao invés de introduzir os negros no mercado de trabalho, “optou-se por expulsá-los para as periferias da ordem social competitiva ou para as estruturas semicoloniais herdadas do passado” (FERNANDES, 2007, p. 87).
No Brasil, de forma particular, o negro, mesmo sendo ele um indivíduo liberto, não possui nenhuma condição social. Relegado como negro, ou seja, a categoria mais baixa entre a população pobre, “o negro foi vítima, e continua sendo, da sua posição e da sua condição racial” (FERNANDES, 2007, p. 87). Nós, mulheres e homens negros brasileiros precisamos, urgentemente, de uma segunda Abolição. Precisamos pôr um fim na supremacia branca brasileira que nega nossa auto-afirmação como mulheres e homens negros.
Nós, por sermos mulheres e homens negros, não estamos predestinados à marginalidade social como tal. Basta de desigualdade social e racial. As evidências de desigualdades sociais e raciais no Brasil são inaceitáveis. “As mudanças na estrutura social que ocorreram na sociedade brasileira desde a abolição da escravidão até agora não tiveram efeitos profundos” (FERNANDES, 2007, p. 88) na vida real das mulheres e homens negros.
A concentração da riqueza, do status social, do prestígio e do poder encontram-se nas mãos das mulheres e homens brancos. No Brasil de hoje, os brancos continuam tendo mais oportunidades do que os negros.
Os negros brasileiros não possuem uma mobilidade social ascendente. Impedidos de fazerem parte de uma sociedade competitiva, os negros brasileiros continuam sob o crivo da indiferença dos brancos. Vistos como coisas ou objetos irrelevantes, os negros não contam com a justa “partilha democrática” (FERNANDES, 2007, p. 89) das oportunidades, dos direitos, da justiça, da religião e da segurança pessoal e pública.
Leia MaisO abolicionismo brasileiro não aboliu os negros coisa nenhumaDepois da abolição: O preconceito contra negros ainda continua forte no BrasilQuais são as perspectivas futuras para os negros brasileiros?Os negros são privados das oportunidades econômicas e educacionais. “A estrutura racial da sociedade brasileira, até agora, favorece o monopólio da riqueza, do prestígio e do poder pelos brancos” (FERNANDES, 2007, p. 90).
Não podemos negar que a “supremacia branca é uma realidade no presente, quase tanto quanto o foi no passado” (FERNANDES, 2007, p. 90). A organização da sociedade brasileira, racista e excludente, “impele os negros para a pobreza, o desemprego ou subdesemprego, e para o trabalho de negro” (FERNANDES, 2007, p. 90).
A situação das mulheres e homens negros brasileiros é deplorável. Lamentavelmente, as mulheres e os homens negros no Brasil continuam sendo tratados como coisas e como indivíduos subalternos. Subalternizar as mulheres e os homens negros é o imperativo regente da supremacia branca brasileira. Discriminação racial e social é um câncer que nos acompanha desde o velho mundo colonial. Precisamos erradicá-lo o quanto antes.
As mulheres e os homens negros brasileiros não podem continuar sendo vistos como sujeitos marginais. As mulheres e os homens negros brasileiros, ao contrário do que se pensa, são importantes agentes sociais históricos. Os negros deram, e continuam dando, sua contribuição para o crescimento e o desenvolvimento do Brasil. O peso do preconceito racial sobre o negro brasileiro é tão relevante que ele “não consegue lutar contra a desigualdade racial” (FERNANDES, 2007, p. 92).
O branco não percebe o negro. O branco só percebe o negro quando ele reage diante de uma determinada situação preconceituosa ou inesperada. No Brasil tem preconceito de cor e discriminação de cor. Assim sendo, o “preconceito e a discriminação de cor impedem a existência e o surgimento de uma democracia racial no Brasil” (FERNANDES, 2007, p. 93).
A partir dessa exposição geral sobre a situação racial no Brasil, levando sempre em conta o elemento estrutural da situação racial brasileira, podemos concluir e afirmar que, no Brasil, o problema da cor da pele continua relevante e bastante complexo. A discriminação de cor continua sendo sustentada na sociedade brasileira.
Até quando teremos que conviver com isso? “Atitudes preconceituosas e comportamento discriminativo baseado na cor” (FERNANDES, 2007, p. 93) põem em risco todas as tentativas de reconstrução da identidade das mulheres e dos homens negros brasileiros.
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos / Florestan Fernandes; apresentação de Lilia Moritz Schwarcz. – 2ª ed. revista – São Paulo: Global, 2007.
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