Enquanto as instituições públicas sofrem com a falta de investimentos governamentais, as privadas têm prejudicada sua qualidade, pelo aumento no número de alunos. Todavia, ambos os tipos de instituições apresentam, entre outros problemas, uma séria deficiência em comum: a redução de investimentos em pesquisas.
Leia MaisA crise pior não é a financeiraO caos imperante no bolso do cidadão brasileiroNo dia 3 de agosto de 2018, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), uma das principais entidades responsáveis pela pesquisa em nível de pós-graduação no Brasil, publicou uma nota alertando sobre o risco de sofrer um corte de pelo menos R$ 580 milhões no orçamento de 2019. Em decorrência disso, foi feito um alerta pela entidade sobre a possibilidade de paralisação das atividades e a descontinuação de 200 mil bolsas de pesquisa científica.
De acordo com a Capes, tal corte é devido à proposta de orçamento do governo de Michel Temer para o ano de 2019. Trata-se de um cenário grave, que poderá prejudicar não somente a ciência, como diversos outros setores do país, como o agrícola, o elétrico, o farmacêutico, entre outros. Afinal, eles dependem da pesquisa científica para o desenvolvimento da produção de energia, o surgimento de novas vacinas, o tratamento de doenças, a produção agrícola e diversos outros aspectos que movimentam o país.
Além disso, a própria imagem do Brasil é prejudicada internacionalmente, já que a interrupção de pesquisas aqui também ocasionaria a paralisação de projetos de formação e programas de cooperação internacional. Questionado pelo portal da BBC News Brasil sobre o problema da falta de recursos como justificativa do governo para os cortes na ciência, Ildeu Moreira, presidente da Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência (SBPC), deu a seguinte resposta:
“Essa história de não ter dinheiro é muito relativa. Nós estamos falando aqui de 0,25% do orçamento, que é o recurso todo para ciência, tecnologia e inovação. Tem também uma parte do MEC (Ministério da Educação), que pega a Capes, mas se você comparar o total com outros setores, o investimento em ciência no Brasil é diminuto. Compare com o recurso que vai para as bolsas de auxílio-moradia para juízes e promotores que já têm casa e o dinheiro que pagamos de juros da dívida pública”.
A afirmação do presidente da SBPC é corroborada com os reajustes incabíveis que vêm sendo aprovados em benefício único das próprias autoridades. Embora a previsão seja de que o governo encerre o ano com um rombo de quase 160 bilhões de reais nas contas federais, na segunda semana de agosto de 2018 foi anunciado um reajuste de 16,38% sobre o salário mensal de R$ 33.763,00 para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovado pelos próprios ministros.
Trata-se de uma decisão que não beneficiará apenas os onze ministros, mas também outras carreiras do Judiciário, como a de promotor e de procurador, que têm salários relacionados aos concedidos ao Supremo. Os reajustes gerarão um gasto extra de aproximadamente 720 milhões de reais ao ano com o Judiciário. Portanto, identificamos uma incoerência absurda em que se defende o corte na educação, por exemplo, utilizando como justificativa o rombo econômico, enquanto se aprovam reajustes exorbitantes para figuras públicas. E não se trata apenas de cortes educacionais, mas de diversos outros setores essenciais para a população.
Portanto, enquanto alguns funcionários públicos desfrutam de aumentos salariais, grande parte da população brasileira segue prejudicada com a precariedade de serviços como educação, saúde, transporte público etc. Segundo dados divulgados pelo pesquisador Sergio Firpo, professor do Insper, um trabalhador com ensino superior completo recebe, em média, 5,7 vezes o rendimento de um brasileiro com até um ano de estudo.
Num país composto atualmente por 13 milhões de desempregados, tais dados apenas reforçam o abismo social que se engrandece cada vez mais, dificultando o acesso de novos ingressantes no mundo acadêmico. Culpa do rombo econômico, que só não atinge uma ínfima parcela da sociedade.
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