Brasil

Você percebe a misoginia no dia a dia?

Comportamentos misóginos são reproduzidos nos mais diversos locais e situações

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

21 AGO 2024 - 15H03

Look At You Photography/Shutterstock

"Todos devemos trabalhar juntos para abrir oportunidades iguais para homens e mulheres em todos os contextos, para buscar uma situação estável e duradoura de igualdade na diversidade, porque o caminho para a afirmação feminina é recente, conturbado e, infelizmente, não definitivo."
Papa Francisco

A confirmação da entrada de uma mulher e ainda por cima negra na disputa presidencial nos Estados Unidos, com chances reais de vitória, que se acontecer a alçará ao posto histórico de se tornar a primeira mulher a governar o país, fez com que uma tempestade de misoginia e racismo contra ela fosse despejada nas redes sociais.

A misoginia contra uma mulher que disputa um espaço de poder no país mais poderoso do mundo, ainda mais contra alguém que se apresenta com o tristemente famoso retrato de "machão", não está sendo empregada por acaso, fazendo parte de um método que usa estratégias bem definidas. A ideia é desqualificar a candidata usando um repertório sexista que todos conhecemos bem: falar que é louca, descontrolada, e que só chegou onde chegou por causa de habilidades sexuais e por ter se relacionado com homens poderosos.

arrow_forward O termo misoginia é utilizado para se referir a expressões e comportamentos que sinalizam desprezo, repulsa, desrespeito ou ódio às mulheres, andando à solta em diversos ambientes, mas com especial realce para o ambiente da política no mundo todo.

Desde os últimos pleitos eleitorais tanto nas terras do “Tio Sam”, como em outras partes do mundo, inclusive aqui no Brasil, o desprezo pelas mulheres parece estar mesmo em alta!

Tanto isso é verdade que recentemente o governo do Reino Unido anunciou que a misoginia extrema, que leva a casos de abusos e violências contra as mulheres, será tratada como terrorismo no país e a legislação deverá ser revista, afim de corrigir lacunas sobre o tema.

Group Pictures/Shutterstock
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Consequências para a família e comunidades

A misoginia é parte integrante da cultura machista, patriarcal e sexista existente há séculos entre nós, ajudando a reforçar o mito da superioridade masculina, ao mesmo tempo que desvaloriza, inferioriza ou tenta anular a mulher, tida como “sexo frágil” e incapaz de realizar certas atividades com a mesma eficiência ou qualificação. A misoginia contribui para assegurar a desigualdade de gênero, onde as relações de poder são desproporcionais entre homens e mulheres, seja no trabalho, na cultura, no esporte e em outras áreas do viver.

O discurso pautado pela misoginia se faz em formatos mais brandos com piadinhas, chacotas, apelidos e “cantada baratas”, chegando a atitudes mais graves de ação física violenta e excludente, não afetando só a mulher e sim sua família e também a sociedade que se priva de enormes contribuições vindas da mulher. Muitas vezes a família, o companheiro ou os filhos chegam a pedir para que a mulher esposa, mãe ou irmã desista da carreira política ou do exercício de algumas profissões para deixar de ser menosprezada.

A proximidade do pleito municipal em outubro próximo, com a campanha eleitoral já ocorrendo nas ruas e dentro em breve nos veículos de comunicação traz o receio de um recrudescimento destas atitudes, como já se percebeu em alguns debates políticos na televisão.

Para reforçar essa nova postura, a mulher já é numericamente superior em várias funções públicas como por exemplo no corpo funcional dos servidores no Poder Judiciário em que cerca de 63% são mulheres. Dos mais de 4 mil servidores que atuam no TRE-SP, por exemplo, incluindo os servidores próprios e os requisitados de outros órgãos, 2,5 mil são mulheres.

Recentemente nas Olimpíadas de Paris, e também nas Paralimpíadas que em breve começarão, pela primeira vez na história ocorre uma paridade no número de atletas masculinos e femininos e, demonstrando a foça da mulher, a maioria das medalhas ganhas pelo Brasil nas olimpíadas veio de suas atletas femininas.

E nem precisaríamos citar o caso da Igreja em que a grande maioria dos ministérios é ocupada por mulheres que também são maioria nas assembleias e serviços eclesiais. Ou seja, num mundo em que a mulher conquista cada vez mais o seu lugar ao sol a misoginia e outras atividades machistas não podem ter mais vez!

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em Brasil

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