Redação A12

Carnaval: o que pode e o que não pode?

Padre Camilo explica que "eu levo para a Quaresma o cristão que eu sou no Carnaval"

Escrito por Luciana Gianesini

12 FEV 2020 - 13H37 (Atualizada em 15 FEV 2023 - 14H18)

Shutterstock/ Antonio Salaverry

Leia MaisCarnaval na Cidade é opção segura e familiar de folia em AparecidaComo ser cristão na festa de Carnaval?

Pe. Luiz Camilo Júnior, C.Ss.R. explica o que pode e o que não pode no Carnaval para os católicos. 

Respondendo a várias dúvidas enviadas ao Portal pelos internautas, Padre Camilo ofereceu várias reflexões e dicas para que nós, católicos, possamos curtir os dias de folia de forma saudável e sem esquecer do nosso relacionamento com Deus e com o próximo,  durante uma entrevista para o Redação A12.

Confira abaixo:

Felipe Guimarães/ A12
Felipe Guimarães/ A12


Participar do Carnaval é pecado?

"É muito comum que as pessoas queiram fazer essa separação drástica entre Igreja e Carnaval, dizendo 'isso é de Deus, aquilo é do mundo'. Mas se esquecem de que nós estamos no mundo e ele tem que ser transformado pelo nosso comportamento. Então, ao aproximar-se a bonita festa que expressa a cultura de um povo, que é um tempo onde as pessoas buscam, na alegria, na confraternização, na encontro com amigos, poder viver aí um tempo de fantasia - que às vezes é necessário - participar do Carnaval não é pecado; é algo que se torna parte da vida das pessoas", explica.

Padre Camilo explica que é válido refletir também de onde nasce o Carnaval. "O Carnaval sempre acontece antes do início da Quaresma. Muitas pessoas até dizem que a data da Páscoa depende da data do Carnaval, mas é o inverso: a data do Carnaval é que depende da data da Páscoa Cristã. O Carnaval tem origem em um tempo onde as pessoas procuravam viver aquilo que, na Quaresma, não iriam viver. A Quaresma, no passado, era marcada por um rigorismo muito forte de penitência, explícito pela abstenção da carne e de muitos outros comportamentos".

O redentorista também explica as transformações culturais às quais a humanidade foi se adaptando ao longo do tempo: "Em alguns lugares do interior do Brasil, você ainda encontra esses comportamentos antigos, onde a pessoa toda quarta e sexta-feira não varre a casa, não come, não fala determinada palavra... Antes de iniciar a Quaresma, as pessoas viviam o chamado "tempo da carne" ('carnevale', em italiano significa 'vale a carne'), porque, durante os 40 dias da Quaresma, não se come carne para meditar o mistério da Paixão do corpo do Cristo na cruz", aponta. Existe Carnaval cristão?

Padre Camilo diz que "nós não podemos fazer uma separação entre o que é de Deus o que é do mundo, porque Deus nos colocou neste mundo para que a nossa vida e o nosso comportamento possam transformar as realidades que precisam ser diferentes". O padre também explica que, hoje, a abstinência de carne não está mais tão presente como expressão, dentre tantas outras penitências e formas de jejum que o cristão pode assumir, buscando a conversão do seu coração e a mudança e do seu interior.

O diretor do A12 afirma também, que "o Carnaval é uma festa onde nós também devemos dar um testemunho cristão. Não são os lugares e nem as coisas que devem pautar a minha conduta, mas é o meu comportamento que deve imprimir algo de diferente naquilo que eu estou fazendo e vivendo".

Reprodução
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Desfile da Escola de Samba Unidos de Vila Maria (SP), em 2017


Qual a opinião do senhor quando, por exemplo, escolas de samba homenageiam a Igreja? Quais cuidados as escolas de samba devem ter?

Em algumas ocasiões da história do Carnaval no Brasil, a Igreja ou foi homenageada ou foi incluída em desfiles de escolas de samba, como tivemos em 2017, por exemplo, Aparecida como tema de um samba-enredo no Carnaval paulista. Mas quais os cuidados que as escolas de samba deveriam ter ao trazer esses temas?

Padre Camilo explica que, sendo o Carnaval uma festa cultural, ele expressa a identidade de um povo, leva o povo a celebrar a alegria. E o povo, tão marcado por situações difíceis como nós, brasileiros, precisa ter momentos de alegria. Talvez o erro possa ter ocorrido, no passar do tempo, com algumas escolas de samba que passaram a mostrar o corpo das pessoas numa forma de nudez, como maneira de atrair os olhares. "Mas o Carnaval não está nisso; está Justamente na história que ele conta, o enredo que ele leva", salienta.

Surgiram ao longo dos anos também algumas polêmicas, quando imagens religiosas também foram levadas para este ambiente. 'Mas como pode um símbolo religioso sagrado, seja a imagem do Cristo Redentor, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, estar lá no carro e, de repente, passistas quase seminuas dançando ao redor delas?' Mas a preocupação deve ser qual o lugar de Deus na minha vida?

"Às vezes, aquelas passistas talvez até não estejam com tanta roupa cobrindo sobre o corpo, mas estão revestidas de amor e respeito ao próximo. Mas, geralmente, quando as escolas levam símbolos religiosos como o tema, eles se vestem com uma dignidade tão grande que, às vezes, até nós que trabalhamos em comunidades e preparamos nossas liturgias, nossos altares, nossos momentos celebrativos não nos preocupamos tanto", ressalta o padre.

"O desfile que homenageou Nossa Senhora Aparecida foi uma verdadeira profissão de fé. Você via no olhar das pessoas que ali estavam: 'estamos rezando'. E como é bom saber que aquilo que é sagrado dentro do templo também é a imagem do sagrado no cotidiano e na vida das pessoas", conclui. 

O que é considerado pecado dentro do Carnaval? Por que as pessoas sempre misturam a diversão com algo pecaminoso ou proibido?

O missionário redentorista explica que "pecado é o que você faz". Seja dentro da festa do Carnaval ou até mesmo dentro da Igreja.

"Às vezes, lá dentro da Igreja, em oração, as palavras saem da boca, mas o coração não perdoa as pessoas, não enxerga o pobre na rua, não tem atenção e compaixão para com os enfermos e, às vezes, nem vive o respeito e o amor dentro de casa. Assim como há pessoas que estão lá na festa do Carnaval, mas que após viver aquele momento de alegria, estão comprometidos em cuidar da vida em fazer o bem para o seu próximo.

Então, pecado não é o Carnaval como festa; pecado é o que cada pessoa e cada cristão fará lá, é o meu comportamento, é o meu testemunho que vai dizer se aquilo é o bem ou é o mal que eu estou realizando", pontua.




E os retiros são uma boa opção?

"Com certeza! Às vezes as pessoas criticam o Carnaval por criticar, mas perceber que 'eu não preciso estar naquele ambiente, que para mim não faz bem' é uma escolha minha. Então, se você acha que o Carnaval não acrescenta para você, você tem liberdade de fazer tantas outras coisas", orienta.

Muitas comunidades e movimentos na Igreja oferecem, nesses dias, uma programação alternativa, com os chamados retiros de Carnaval, onde até acabam colocando músicas mais animadas, com coreografias para que você possa se divertir de uma forma diferenciada. Mas o comportamento e testemunho que cada um vai dar, seja no retiro ou na escola de samba, tem que ser o mesmo", destaca o padre.

O Carnaval também é uma oportunidade de nos prepararmos para a Quaresma?

"Não é porque nesses dias eu ainda não estou me preparando que, então, eu posso tudo, porque depois, ao receber as Cinzas, eu vou me tornar uma pessoa santa durante os 40 dias da Quaresma. Ao contrário, eu levo para a Quaresma o cristão que eu sou no Carnaval", adverte.

"Tem momentos na vida em que é necessário ter um olhar muito mais para o nosso interior, para podermos ver o que na vida precisa ser diferente, até mesmo para que, no próximo Carnaval, eu possa me comportar de um jeito muito mais responsável", finaliza.

Qual conselho o senhor daria para quem nos acompanha no A12 aproveitar bem o Carnaval?

"Primeiramente, precisamos entender que, todos os dias, em todos os momentos, em todos os lugares, nós precisamos dar testemunho da nossa fé. Principalmente como nós tratamos as pessoas que estão próximas a nós. Você que é cristão e deseja viver realmente o tempo do Carnaval, deve perceber que você é cristão em todas as circunstâncias da vida", aponta.

"O amor do Cristo tem que nos mover. A nossa alegria não é uma alegria de 4 ou 5 dias, é uma alegria de uma vida inteira", conclui.

Confira o vídeo na íntegra

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