Dúvidas Religiosas

Por que a Igreja Católica não aceita a pena de morte?

Padre Camilo nos esclarece que este processo é totalmente contrário ao que Jesus nos ensina

Escrito por Pe. Luiz Camilo Junior, C.Ss.R.

14 MAR 2018 - 07H30 (Atualizada em 24 JUN 2024 - 15H01)

Reprodução - Getty Images

Vingar-se é contradizer à Palavra de Jesus!

Para refletir este tema, é importante ter presente que Deus é o autor da vida. No livro do Gênesis, lemos a narrativa de que Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,26). A vida é obra de Deus, é dom de Deus. Por isso, a vida pertence unicamente ao Senhor. Quando rezamos que a nossa vida está nas mãos de Deus, então acreditamos que somente as mãos de Deus, que concede a vida, é que também podem tirá-la.

Quando tomamos conhecimento de alguém que atentou contra a vida do seu semelhante, ou quando passamos pela dor e sofrimento de perder uma pessoa que amamos, vítima da violência de alguém, no momento do repúdio a esse ato e de revolta do nosso coração, temos a tendência a desejar vingança, ou seja, queremos que aconteça o mesmo mal para quem fez um ato de maldade. Nesse momento, é importante ouvir a voz de Cristo, que nos diz: “Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus” (Mt 5,20).

Quando desejamos, ou até mesmo queremos fazer para o outro o mal que ele nos fez, nós estamos nos tornando iguais a ele no erro. E, se for assim, onde vamos viver um amor que faça a diferença? Se, como cristãos, somos a favor da pena de morte, tentando justificar que todo aquele que tira a vida de alguém, ou que provocou grande sofrimento para o seu próximo, deveria ter sua vida tirada também ou sofrer da mesma forma, nós estamos indo contra todo o ensinamento de Jesus. Se eu desejo matar alguém para ensinar a essa pessoa que ela não deveria ter matado, isso não traz lição alguma. Matar para dizer que não se mata é contraditório, não educa, muito pelo contrário, nos faz trazer para a nossa vida a mesma atitude que condenamos no outro.

Por isso a Igreja sempre será contra a pena de morte. Ela sempre irá realizar em sua ação evangelizadora gestos concretos de misericórdia e caridade capazes de levar a superação de toda forma de violência presente no mundo.

“Deve afirmar-se energicamente que a condenação à pena de morte é uma medida desumana que, independentemente do modo como for realizada, humilha a dignidade pessoal. Em si mesma, é contrária ao Evangelho, porque voluntariamente se decide suprimir uma vida humana que é sempre sagrada aos olhos do Criador e cujo verdadeiro juiz e garante, em última análise, é apenas Deus”, disse o Papa Francisco em setembro de 2017.

O Santo Padre em 2018 autorizou uma nova redação do parágrafo 2267 do Catecismo da Igreja a respeito do assunto.

Hoje vai-se tornando cada vez mais viva a consciência de que a dignidade da pessoa não se perde, mesmo depois de ter cometido crimes gravíssimos. Além disso, difundiu-se uma nova compreensão do sentido das sanções penais por parte do Estado. Por fim, foram desenvolvidos sistemas de detenção mais eficazes, que garantem a indispensável defesa dos cidadãos sem, ao mesmo tempo, tirar definitivamente ao réu a possibilidade de se redimir, retrata um trecho do parágrafo. 




Lei de Talião x Lei do Amor

Como Mãe, a Igreja sempre estará ao lado daqueles filhos e filhas que sofreram alguma forma de violência, para que, na graça do amor de Deus, todos os que sofrem sejam curados. Mas, como Mãe, não quer dizer que, estando ao lado dos que foram machucados, ela queira castigar quem machuca, pois não se cura quem feriu machucando aquele que fere; não se repara uma vida tirando outra!

A justiça em Deus é, essencialmente, misericórdia. E Jesus, o Justo, morreu na cruz para salvar também os injustos, o inocente pelos pecadores, pois são justamente aqueles que ainda não sabem amar que precisam receber amor, para que redescubram o valor que a vida tem. Só o amor é capaz de fazer memória do valor de uma vida. Nenhum gesto de maldade ou vingança irá mostrar o que a vida de alguém significou.

No livro do Deuteronômio, que é o grande livro das leis do povo de Israel, encontramos esta bonita expressão do coração de Deus para o nosso coração: “Diante de ti ponho a vida e ponho a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e teus descendentes” (Dt 30,19). Por isso, escolher a vida é o grande compromisso no testemunho de nossa fé. Escolher a vida até mesmo para aqueles que escolheram a morte para alguns dos seus semelhantes.

Essa é a razão essencial pela qual a Igreja Católica não aceita a pena de morte, pois Jesus nos ensinou que é preciso amar os nossos inimigos e fazer o bem para quem nos fez o mal. Só assim a nossa luz brilhará diante dos homens e revelaremos que somos filhos de Deus (cf. Mt 5,43-44). A antiga lei do Talião — do olho por olho e dente por dente — não cabe na lógica da vida daqueles que receberam de Jesus o mandamento do amor.

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