Na Igreja Católica, por meio da sagrada Ordenação, os bispos são constituídos pelo Espírito Santo como sucessores dos Apóstolos e pastores do povo de Deus, exercendo, em comunhão com o Papa e sob a sua autoridade, a missão de perpetuar a obra redentora de Cristo.
Na verdade, foi a seus Apóstolos que Cristo confiou o mandato e o poder de ensinar, de santificar e de apascentar os homens, missão esta que os bispos, como seus sucessores, são chamados a exercer, sendo verdadeiros mestres, pontífices e pastores do povo de Deus (Cf. Decreto Christus Dominus, 2). Leia MaisO que é um Pálio? Paramento é entregue aos novos arcebispos da Igreja
A fim de manifestar a grande dignidade do ministério episcopal, a Igreja estabeleceu certas insígnias que os bispos devem portar, sobretudo nas celebrações litúrgicas, para que se manifeste de maneira visível sua íntima participação no sumo sacerdócio de Cristo e a recepção da plenitude do Sacramento da Ordem.
O Cerimonial dos Bispos – livro que apresenta e descreve todas as celebrações litúrgicas presididas pelo Bispo ou nas quais ao menos ele está presente – apresenta como insígnias episcopais o anel, o báculo pastoral, a mitra, a cruz peitoral e, ainda, o pálio se lhe for concedido pelo direito (Cf. Cerimonial dos Bispos, 57).
No presente artigo, vamos conhecer a origem e o significado da mitra e do solidéu.
A mitra
A palavra mitra, em grego, pode significar touca, gorro ou cinta para a cabeça, à maneira de uma tiara ou diadema. Já no Antigo Testamento ela aparece, fazendo referência às vestes sacerdotais (Cf. Ex 29,9; 39,28-31). Embora de origem persa, foi adotada pelos romanos, sendo usada por pessoas distintas como sinal de nobreza.
Tal como aconteceu com os paramentos litúrgicos, de maneira natural passou do uso profano ao uso eclesiástico, sendo, primeiramente, usada apenas pelo Papa e, a partir do século XI, também pelos bispos. A forma inicial da mitra se assemelhava a de uma taça, com pouca altura, assumindo, a seguir, a forma atual pontiaguda, com as duas faixas que caem pelas costas (ínfulas).
No Rito da Ordenação de um bispo, mais precisamente na oração que acompanha a imposição da mitra, aparece o sentido espiritual dessa insígnia, que evoca a nobreza da missão e a santidade com que deve ser exercida:
“Recebe a mitra, e brilhe em ti o esplendor da santidade, para que, ao aparecer o príncipe dos pastores, mereças receber a coroa imperecível da glória”.
Durante as celebrações litúrgicas, o bispo usa a mitra “quando está sentado; quando faz a homilia; quando faz as saudações, as alocuções e os avisos, a não ser que logo a seguir tenha de tirar a mitra; quando abençoa solenemente o povo; quando executa gestos sacramentais; quando vai nas procissões.
Por outro lado, o bispo não a usa “nas preces introdutórias; nas orações; na oração universal; na Oração Eucarística; durante a leitura do Evangelho; nos hinos, quando estes são cantados de pé; nas procissões em que se leva o Santíssimo Sacramento, ou as relíquias da Santa Cruz do Senhor; diante do Santíssimo Sacramento exposto” (Cerimonial dos Bispos, 60).
É importante dizer, ainda, que a mitra é usada não somente pelos bispos, mas, também, pelos abades que a ela têm direito.
Dá-se o nome de solidéu – das palavras latinas soli Deo (só a Deus, isto é, só para Deus é tirado da cabeça) – ao barrete de seda ou pano leve que os bispos e alguns eclesiásticos trazem sobre a cabeça. A princípio, cobria toda a cabeça daqueles que o usavam, sendo reduzido, na época barroca, à atual forma redonda e pequena.
Ao contrário da mitra, o uso do solidéu não está limitado às celebrações litúrgicas. Porém, quando usado durante a Eucaristia, deve ser tirado ao início da Oração Eucarística e recolocado após a comunhão, bem como durante o rito da adoração à Santa Cruz, na Celebração da Paixão do Senhor.
A cor do solidéu expressa o lugar que aqueles que podem usá-lo ocupam na hierarquia eclesiástica: o Papa usa solidéu branco; os cardeais, vermelho; os bispos, violáceo; abades e clérigos, preto.
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