O que a grande maioria das pessoas entende como Igreja Católica é apenas uma dessas igrejas, a do Rito Latino, à qual mais de 90% dos católicos em nosso planeta pertencem, e é imediatamente sujeita ao Papa. Os outros 10% fazem parte de uma realidade muito preciosa: a dos católicos orientais.
Mesmo que essa diversidade dentro da Igreja Católica possa nos confundir um pouco a princípio, isso não compromete a unidade da Igreja. Em certo sentido, é um reflexo do mistério da Trindade: Assim como Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, a Igreja Católica é entendida como “um Corpo místico de Igrejas”, do qual participam a Latina e mais 23 Orientais, chamadas de “igrejas rituais autônomas”, de acordo com o Código de Direito Canônico.
Cada igreja tem sua própria hierarquia, espiritualidade e perspectiva teológica. Os católicos orientais estão em perfeita união com Roma, pois são submissos ao Papa e professam com ele uma só doutrina, uma só fé.
De acordo com a Catholic Near East Welfare Association (CNEWA), há quase 18 milhões de fiéis orientais em todo o mundo (dados de 2016).
O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 814, resume isso bem:
“Desde a origem, no entanto, esta Igreja apresenta-se com uma grande diversidade, proveniente, ao mesmo tempo, da variedade dos dons de Deus e da multiplicidade das pessoas que os recebem. No seio da comunhão da Igreja existem legitimamente Igrejas particulares, que gozam das suas tradições próprias. A grande riqueza desta diversidade não se opõe à unidade da Igreja.”
As igrejas católicas orientais são aquelas que, na época do Grande Cisma (quando surgiu a Igreja Ortodoxa, a partir do ano 1054), permaneceram fiéis ao Papa; ou então são aquelas igrejas que, tendo um dia separadas, quiseram superar as diferenças e voltarem a se unir a Roma. Um exemplo disso, é que em 1741 no Egito, houve uma divisão na Igreja Ortodoxa Copta (de rito alexandrino copta), e alguns integrantes dessa igreja se uniram aos católicos. Por isso, hoje existem coptas ortodoxos e coptas católicos.
O Concílio Vaticano II reconheceu que todos os ritos aprovados pelas Igrejas que formam a Igreja Católica têm a mesma dignidade e direito e devem ser preservados e promovidos.
“Muito se alegra este sagrado Concílio pela frutuosa e ativa colaboração entre as Igrejas católicas Orientais e Ocidentais, e, ao mesmo tempo, declara: todas estas disposições do direito se estabelecem em função das presentes condições até quando a Igreja católica e as Igrejas Orientais separadas se encontrarem na plenitude da comunhão.
Por ora, contudo, todos os cristãos, orientais e ocidentais, são vivamente exortados a que façam fervorosas, frequentes e mesmo quotidianas orações a Deus para que, com o auxílio da Santíssima Mãe de Deus, todos sejam um. Peçam ainda que aflua a plenitude do conforto e da consolação do Espírito Paráclito a tantos cristãos de toda a Igreja que, confessando corajosamente o nome de Cristo, sofrem e se angustiam. Que nos amemos todos uns aos outros com caridade fraterna, porfiando em honrar-nos mutuamente”, disse o Papa São Paulo VI, no decreto Orientalum Ecclesiarum, de novembro de 1964.
Diferenças dos Católicos Orientais
Na hierarquia, liturgia e disciplina, as Igrejas Católicas Orientais têm diferenças com a Igreja Latina. Boa parte dos orientais usa o rito bizantino, com origem em tradições herdadas da antiga e medieval Constantinopla. Outras instituições seguem as tradições de origem alexandrina, antioquena, armênia, maronita ou caldeia. O que são as Paróquias para nós do rito latino, os orientais chamam de Eparquias.
Entre os costumes próprios dos católicos do Oriente, a maioria das crianças são batizadas por imersão (mergulhadas totalmente), e logo na sequência já recebem o Sacramento da Confirmação (Crisma). Em alguns ritos, na Eucaristia é usado o pão fermentado. Em algumas instituições do Oriente existem padres casados (na época, os orientais viviam distantes de Roma, e eram mais influenciados pelos imperadores que anulavam o celibato para o Clero Oriental, e isso foi respeitado pelo Vaticano quando as Igrejas quiseram voltar para Roma).
No Sacramento do Matrimônio, os noivos recebem uma vela durante o Rito, que simboliza a disposição espiritual do casal para receber a Cristo. Também usam uma coroa para indicar que eles estão iniciando o governo de um “novo reino”, formando uma parceria em Jesus.
Além disso, marido e esposa bebem o vinho da mesma taça de vidro. Ao beber o vinho no copo comum, o casal deve gravar em sua mente que, a partir daquele momento, eles irão compartilhar tudo na vida, e que eles devem suportar os fardos uns dos outros.
Quais sacramentos posso cumprir nas Igrejas Orientais?
Católicos do rito latino podem comungar a Eucaristia, se confessarem e receber a Unção dos Enfermos em qualquer templo católico oriental, e também participar da Santa Missa, que em algumas Igrejas é chamada de Divina Liturgia.
Entretanto, outros sacramentos, como Batismo, Ordem, Crisma e Matrimônio só podem ser recebidos por católicos latinos em Igrejas Orientais em casos excepcionais, mediante a permissão de uma autoridade competente.
Segue abaixo a lista com as 23 Igrejas Católicas Orientais:
Tradição Litúrgica Alexandrina
Rito litúrgico copta:
Igreja Católica Copta (1741)
Rito litúrgico ge’ez:
Igreja Católica Eritreia (2015)
Igreja Católica Etíope (1846)
Tradição Litúrgica de Antioquia ou Siríaca Ocidental
Igreja Maronita (esteve sempre em comunhão com a Igreja Católica, união oficial reafirmada em 1182)
Igreja Católica Siro-Malancar (1930)
Igreja Católica Siríaca (1781)
Tradição Litúrgica Armênia
Igreja Católica Armênia (1742)
Tradição Litúrgica Bizantina
Igreja Greco-Católica Ucraniana (1596)
Igreja Católica Bizantina Bielorrussa (1596)
Igreja Católica Bizantina Albanesa (1628)
Igreja Católica Bizantina Eslovaca (1646)
Igreja Católica Bizantina Húngara (1646)
Igreja Católica Bizantina Rutena (1646)
Igreja Greco-Católica Croata (1646)
Igreja Greco-Católica Romena unida com Roma (1697)
Igreja Greco-Católica Melquita (1726)
Igreja Católica Bizantina Grega (1829)
Igreja Católica Búlgara (1861)
Igreja Católica Bizantina Russa (1905)
Igreja Greco-Católica Macedônica (1918)
Igreja Católica Ítalo-Albanesa (esteve sempre em comunhão com a Igreja Católica)
Tradição Litúrgica Caldeia ou Siríaca Oriental
Igreja Católica Caldeia (1692)
Igreja Católica Siro-Malabar (1599)
.:: O programa Arquivo A, da TV Aparecida, abordou os diferentes ritos da Igreja Católica nesta reportagem de Eduardo Gois:
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