“Permanece, assim, que nenhum homem bom deve mentir”. Assim diz Santo Agostinho em sua obra intitulada “Sobre a Mentira” (De Mendacio), mostrando de forma bem categórica o que ele pensa sobre a mentira e sobre o homem que mente.
Para deixar claro o motivo, ele segue: “Eles são assassinos de si mesmos”. Ou seja, antes de mais nada, a mentira parece ser algo que vai contra o próprio mentiroso. No dia da mentira, onde o que Agostinho diz parece estar tão distante, vale a pena refletir: Como a mentira afeta a nossa vida? Como nos assassinamos, cada vez que mentimos, um pouquinho?
Além da obra “De Mendacio”, Santo Agostinho tem outra muito parecida, que escreveu mais tarde, chamada “Contra Mendacium”, que significa “Contra a mentira”. Isso certamente mostra a preocupação do santo com esse tema.
E isso se dá porque na sua época já existiam algumas ideologias que não só não pareciam ter problemas com a mentira, como também a utilizavam sem reparo para conseguir um bem maior, inclusive no âmbito religioso.
Esses diziam mais ou menos assim: “Se da minha mentira Deus vai ser melhor conhecido, então mintamos para que Deus seja mais glorificado”. Agostinho rejeitou essa maneira de pensar com muita força.
No entanto, se olharmos para hoje em dia e para nós mesmos, muitas vezes percebemos que essa mentalidade não ficou para trás.
Quantas vezes preferimos uma mentirinha a passar por um transtorno que resultaria da verdade? Ou quando mentimos para não causar um sofrimento aos demais? Já na época de Agostinho, existiam esses dilemas e o próprio santo reconheceu alguns níveis de mentira onde a mais grave, por exemplo, é aquela que se dá por motivos religiosos.
Mentir sobre Deus é, para Agostinho, o pior dos tipos, mesmo que supostamente se queira um bem para o outro.
Ainda com relação a isso, Agostinho lembra que Jesus não ensinou as suas ovelhas a se disfarçarem de lobos, mas a suportar a dor da mordida, desfazendo o mal com o bem.
.:: Santo Agostinho em busca da verdade
A verdade é para Agostinho, e para todos nós cristãos, identificada com o próprio Jesus, que disse sobre si mesmo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. A mentira é, então, uma negação do próprio Jesus, e em circunstância nenhuma pode ser tomada como um bem em si.
Nessa perspectiva, entendemos também por que podemos dizer com razão que ela é, no sentido espiritual, um ato suicida. Porque se Jesus é a vida e nós o negamos com nossas mentirinhas (e mentironas), também estamos negando a própria vida. Vamos morrendo espiritualmente. E Santo Agostinho é, mais uma vez, categórico aqui: “Na religião divina, jamais será correto proferir uma mentira, não importa quando”.
Tomemos cuidado então, porque o que sai da nossa boca é de nossa responsabilidade. Procuremos que, por meio dela, as pessoas encontrem palavras de alegria, comunhão, amor e, sobretudo hoje, verdade. A verdadeira paz vem com a liberdade e, como nos disse Jesus, “ a verdade nos libertará”.
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