Espiritualidade

A personalização da fé

A segunda etapa da trajetória espiritual requer uma decisão pessoal e incondicional por seguir a Cristo

Padre Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R.

Escrito por Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R.

04 JUN 2021 - 06H00

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Publicamos, da vez passada, um artigo intitulado “Ser cristão: um processo que dura a vida toda”, mostrando que a vida cristã começa com o batismo. A existência cristã, segundo os mestres da espiritualidade, tem etapas, ou seja, acontece dentro de um processo, com seus altos e baixos, suas crises, e só termina na glorificação. Os autores postulam a existência das seguintes etapas: batismo, personalização da fé, interiorização da fé, crise ou noite escura, maturidade provisória, morte e glorificação.

O batismo nos mergulha no mistério pascal de Cristo. “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20), afirma São Paulo. De fato, no batismo, o Espírito Santo cria uma comunhão indelével entre o cristão e Cristo. “Vós não estais na carne, mas no espírito, se é verdade que o Espírito de Deus habita em vós, pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a Ele” (Rm 8, 9).

O batismo filializa o ser humano, fazendo-o participar da própria filiação de Jesus. Esse é o destino último do ser humano; se inscreve no mais profundo do seu ser e se concretiza com o batismo. Em Cristo, por graça do Espírito, o homem se torna “filho no Filho”. A filiação expressa a sua mais alta dignidade e sua inserção no mistério trinitário. A existência cristã tem, pois, uma dimensão trinitária. Ser cristão significa participar, por graça, da vida íntima de Deus, em Jesus, nosso “lugar” na Trindade. E quem nos comunica a graça de Cristo é o Espírito Santo.

Tinnakorn jorruang/ Shutterstock
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O batismo transforma nossa vida, mas depende de nós atuarmos a graça que recebemos. Os sacramentos de iniciação são apenas o início de uma longa trajetória espiritual.

Cristãos pelo batismo, tornamo-nos cristãos ao longo de nossa existência. É como se, depois do batismo, Jesus dissesse a cada um de nós: “torna-te aquilo que és”. Tal imperativo exige personalização da fé, considerada a segunda etapa da trajetória espiritual.

Trata-se de uma etapa obrigatória para todos: tanto para os que passam da incredulidade à fé cristã quanto para aqueles que, tendo recebido os sacramentos de iniciação, vivem na indiferença religiosa. Quantos cristãos, não vivem o seu batismo e estão longe da Igreja!

Quando um adulto batizado na infância decide continuar sendo cristão, terá que fazê-lo por livre decisão da vontade, assumindo pessoalmente sua opção por Cristo. Por outro lado, há os que vivem na Igreja de modo meramente convencional, sem aprofundar sua fé, muitas vezes aceitando doutrinas claramente opostas ao Evangelho e sem nenhum compromisso com os valores do Reino anunciados por Jesus.

Portanto, a passagem de um cristianismo herdado a um cristianismo pessoalmente assumido se revela uma etapa decisiva para nosso crescimento em Cristo. Alguns a chamam de segunda conversão. A primeira se deu no batismo, através dos que nos transmitiram a fé. A segunda brota de nossa escolha, pessoal e intransferível. Por isso mesmo se diz que todo cristão adulto é um convertido. Tal opção pessoal por Cristo se define como opção fundamental, ou seja, Jesus e seu Reino se tornam os valores supremos da nossa vida, a partir dos quais fazemos nossas escolhas e enfrentamos os desafios e as crises da nossa existência.

Escrito por:
Padre Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R.
Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R.

Missionário redentorista, Reitor do Instituto Teológico São Paulo (ITESP), em São Paulo, e professor de teologia. Também é formador dos religiosos estudantes de teologia da congregação do Santíssimo Redentor.

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