Na retina de meus olhos admirados aquela cena. Três meses já se passaram. A Comunidade acabara de cantar o SANTO. Estou para iniciar o rito da Consagração. Pleno silêncio. Ouço uns passinhos rápidos. Alguém atravessando o espaço central. Olho. Lá vem um pequeno, de três a quatro anos. Só.
Um olhar que brilha de interrogações. Dedinho apontando para o altar. Está para subir o degrau do presbitério. A mãe o alcança e leva-o. Fulgura na minha mente a outra Mãe e aquele outro Filho.
Meus pensamentos ondularam: - Que há entre esse pequeno descobrindo o mundo e o Mistério da Vida neste espaço de fé viva? Que será dele quando crescer?
Precisei de uns dois minutos, de olhos fechados, a reunificar-me. Prossegui a celebração. No final, tudo concluído, saindo da sacristia e pisando o amplo chão do presbitério, eis que a mãe e o menino lá se encontram.
Vem ele em minha direção, apontando para a luz vermelha do sacrário. Digo-lhe a palavra que nomeia a realidade. Parece satisfeito. Abençoo-o, traçando-lhe na testa o SINAL DA CRUZ. Parece perceber que me despeço. Faz um sinal de 'tchau' com a mãozinha. A mãe sorri suave.
Lá vou eu pela avenida, subindo o Morro da Glória até nosso Convento. Vou ruminando: - O que Deus deseja mesmo e propicia a cada pessoa ao nascer é que ela seja alguém. Um sujeito humano que dê certo.
Entendo que o Amor de Deus é também algo humano. É como se em Jesus, Deus nos dissesse: QUERO QUE SEJAS. Esse dizer de lealdade ao caminho humano ressoa fundo em mim, como uma espécie de mantra. Pensando, assim, entro em casa.
Agora, escrevendo, considero que não pode a convivência social ser a sobrevivência dos mais fortes ou poderosos. Há, creio e constato, um dinamismo interior da subjetividade, indo em direção ao Mistério da vida: da curiosidade ao entendimento; dos saberes à reverência ao Mistério da Vida. Será que aquele pequeno curioso chegará a identificar que Deus existe e ama a vida e os humanos todos, viventes neste incrível Planeta Terra?
Ah, este amor profundamente humano no qual os amorosos transcendem a si mesmos! O desejo de quem ama é que o amor dure sempre. Acaso não aponta para uma eternidade? Sei que entre nós, cristãos-católicos, não pode subsistir a concepção de um “Deus banal”, este que serve de ornamento a certas datas preferidas de tantas pessoas. Longe disso! Quem crê, ouve Deus a lhe dizer: QUERO QUE SEJAS.
Traduzo: quem ama de verdade aprenderá com a dor da não realização, pois a Terra não consegue dar-lhe a plenitude desejada. Então, apontar a vida para o além, lá onde a eternidade das plenificações existe. O destino humano de amar é participar na natureza divina que é eterna. “Seremos semelhantes a Ele”. Então, fé sem amor é engano.
Leia MaisComo amar a Deus?O melhor de nós mesmosQUERO QUE SEJAS. Esta expressão é de Santo Agostinho ao conceituar o que é o AMOR: AMO: volo ut sis. Traduzindo: - Amo, significa “quero que sejas”. Quero que dês certo.
Haverá algo melhor para acalmar nosso Desejo que repetir a outros: SEJA FELIZ! Porque, quem ama abre espaço para o outro. É convite presencial e amoroso: Realiza-te. Renova-te. Conta comigo. Sabes amar, leitora e leitor?
QUERO QUE SEJAS. Eis a alegria de Deus ante o fato de cada um existir centrado/descentrado/sobrecentrado. Centrados para nos tornarmos a pessoa boa que podemos ser. Descentrados para acolher os outros e a este Totalmente Outro que Deus é, e que Jesus, seu Enviado, no-Lo releva e dizendo que o chamemos de Pai Nosso. Daí estarmos sobrecentrados: o Senhor é nosso Deus, Pai que espera que nos reconheçamos como irmãos, dando certo e colaborando com as estruturas sociais de oportunidades para todos.
QUERO QUE SEJAS. Como nos faz bem sermos confirmados por pessoas significativas para nós: - “Bravo, realizas tuas melhores possibilidades. Assumes tua originalidade, sem alardes, pois é no cotidiano conviver que te mostras amoroso. Respeitando a todos. Sabes partilhar”.
A vida é mesmo assim. Não manter murchas as possibilidades dos talentos que cada um traz. Somos diferentes e únicos. Satisfeitos de ser nós mesmos, desconsiderando a moda de estar a se comparar com outros. Este mecanismo de comparação é a fonte de ciúmes, inveja e violência. Desamores.
QUERO QUE SEJAS. Estamos no reino da liberdade, das escolhas, do compromisso, da persistência, o que requer certa e clara disciplina: treino e aprendizados, cultivo e maturação. Capaz do amor companheiro. Parceiros de caminho. Só caminha assim quem estiver reconciliado consigo, porque limpa as raízes venenosas que existem no jardim interior da própria subjetividade.
Viver é, sim, perigoso. É luta e peleja. No horizonte do Projeto de Vida de cada um de nós encontraremos circunstâncias concretas, ora dificultosas e quase sempre facilitadoras. É não deixar a oportunidade passar. Há avanços, recomeços, pois há tropeços. Haja sempre perdão, misericórdia, compaixão.
Viver é caminhar, e caminhando o caminho se faz. Que haja discernimento nas encruzilhadas, escolhas bem selecionadas. Cada um é sujeito de seus esforços e responsável pelo cultivo de seu potencial. Pé no chão. Não se deixar subjugar por ilusões. Elas criam o vazio.
Existem a espera e a esperança. Conhece-as? Sejam suas parceiras. Medita, leitora e leitor. Medita sobre sua história de vida. Repense-a sem censuras. Transforme-se a partir de periódicos exames sobre seu percurso. Assuma seus erros.
Dar certo na vida, concretizando a bênção do Amor. “Quero que sejas” é também fruto da graça de Deus conosco. Insatisfações e certas nuvens de tristeza não sejam combustíveis de um jeito torto de levar a vida. Que ressoe jubilosamente no seu coração a voz de Deus: - Amo; QUERO QUE SEJAS. É a voz do Amor que te ama. (Cf. Mt 5,16)
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