"Então Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão se ele pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu-lhe: “Não apenas sete vezes, mas até setenta vezes sete'" (Mt 18, 21-22)
Neste capítulo do Evangelho de São Mateus, diversos textos, principalmente as parábolas, mostram como Jesus orienta as novas comunidades, estas que fazem parte do início da nossa Igreja, para que irmãos e irmãs possam ter um convívio repleto de paz, misericórdia e acolhida.
Mas, além dessas características, Cristo é bem didático ao enfatizar que misericórdia e a justiça de Deus andam juntas.
Leia MaisVaticano faz rito penitencial após altar ser profanado: “Senhor, te pedimos perdão”Podemos pedir o perdão dos pecados das almas do Purgatório?Para isso, ele utilizou da parábola do servo que devia uma grande fortuna ao seu patrão e suplicou um prazo para pagar.
Seu chefe, tendo compaixão, perdoou toda a dívida.
Logo depois, o mesmo servo não perdoou um colega que lhe devia apenas cem moedas, agarrando-o pelo pescoço e o jogando em uma prisão. Seus outros companheiros contaram ao patrão sobre o ocorrido, que de forma imediata mudou o tratamento com o empregado cruel:
"`Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?' O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.'" (Mt 18, 33-35)
Deus misericordioso e justo
O Padre Carlinhos Melo, da Arquidiocese de Aparecida explica ao A12 a razão de Jesus ter escolhido esta parábola para detalhar a questão da misericórdia e da justiça do Senhor para conosco:
"O patrão na história é Deus; o empregado que deve uma fortuna imensa e impagável é cada um de nós. Por mais que a gente faça as coisas, não temos como pagar a Deus por todo o benefício que Ele nos dá! Porém, para com o outro empregado, que estava devendo para o colega uma pequena quantia, o colega não teve misericórdia. Deus todo dia tem misericórdia para conosco, mas infelizmente a gente não tem capacidade de perdoar pequenas coisas entre nós. Tudo gira em torno do perdão: quando Jesus fala 'setenta vezes sete' é o perdão de forma infinita. O perdão é fundamental para poder selar qualquer tipo de relacionamento!", disse.
Jesus nos conta esta parábola para que possamos, conscientemente, assumir a nossa condição de devedores e inadimplentes em relação a tudo quanto recebemos de Deus, para aplicarmos bem enquanto caminhamos aqui na terra.
Assim, nós temos a grande chance de colocar em prática o fundamento da oração que Jesus nos ensinou na oração do Pai-Nosso:
"Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido". (Mt 6,12)
Se fizermos o contrário, cairemos em nossa própria armadilha. O perdão é uma via de mão dupla que precisa ser percorrida por todos nós, sem exceção nenhuma.
Se o Senhor perdoou a nossa dívida, que era muito grande, nós também devemos procurar perdoar. A misericórdia é verdadeiramente um dom e é oferecida de tal forma que a justiça não é negada. A misericórdia “tempera” a justiça como o “sal” tempera a carne e lhe dá sabor. A misericórdia segue a justiça e a aperfeiçoa. Se não perdoamos nossos semelhantes, não podemos esperar que Deus nos perdoe.
"Pois o julgamento é sem misericórdia para quem não fez misericórdia; mas a misericórdia triunfa do juízo" (Tg 2,13).
Dessa forma, Jesus nos ensina que não podemos limitar a misericórdia de Deus a partir de números e a circunstâncias, por isso, a nossa capacidade de perdoar também deve ser ilimitada.
Padre Vinícius Ponciano também nos explica sobre esta parábola
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