Espiritualidade

Caminho Sinodal: conhecendo a espiritualidade inaciana

Escrito por Letícia Dias

28 SET 2024 - 06H00

Zvonimir Atletic/ shutterstock.

Dando continuidade à nossa série especial acerca da preparação da Igreja Católica para o Sínodo, vamos compreender de que forma a espiritualidade inaciana exerce seu papel na construção de um diálogo sinodal e da comunhão do Povo de Deus. Leia MaisCaminho Sinodal: Conhecendo a espiritualidade dominicanaCaminho Sinodal: Conhecendo a espiritualidade salesianaCaminho Sinodal: Conhecendo a espiritualidade Franciscana

O Sínodo engloba diversas realidades, assim como diferentes ordens e congregações.

Por isso, estamos apresentando diferentes espiritualidades a cada semana, para que você possa conhecer e refletir as características de cada carisma e a sua contribuição neste processo que estamos vivendo como Igreja.

Desta vez conheceremos um pouco sobre a espiritualidade inaciana, à luz da abordagem feita pelo Sr. Jolanta Kafka, RMI, Superior Geral e Presidente da UISG e o Rev. Pe. Arturo Sosa, SJ, Superior Geral e Presidente USF.

Destacaremos aqui a importância da espiritualidade inaciana no discernimento e na vida comunitária.

Os elementos-chave do discernimento dos espíritos em comum

Um dos pilares dessa espiritualidade é o discernimento do Espírito, que São Inácio de Loyola nos ensinou a viver de forma mais profunda.

Além disso, ensina que o discernimento é um processo constante, que nos conduz a sermos fiéis a Deus e ao compromisso com os nossos irmãos. Ao seguir esse “modelo” seremos mais abertos ao agir do Espírito nas nossas vidas e na vida Igreja, de forma que possamos crescer na comunhão e no amor.

O primeiro elemento chave:

Deus comunica-se. Deus comunica-se e entra em diálogo com os seres humanos e opera na história humana [EE 15.16]. Mas opera num modo muito preciso, a partir do mistério da encarnação. Deus incarna no “profano”; entra na história e, ao mesmo tempo, esconde-se. Encontraremos Deus nas realidade humana, no sentido mais amplo possível e não fora dessa. E o que é dito por Jesus quando diz: 'Estarei convosco até ao fim dos tempos' (Mt 28, 20); ou 'onde dois ou três se reúnem em meu nome, eu estou no meio deles' (Mt 18, 20); e depois Paulo afirma: 'nada existe fora d’Ele e tudo foi feito através d’Ele' (2 Cor 5, 19; Col 1, 20). Ninguém viu Deus, mas Deus manifestou-se; incarnou, fez-se homem. Esta 'manifestação' é uma descida de Deus em direção à humanidade. Deus comunica-se, e o modo como se comunica é Jesus (Jn 1, 14–18). Ele é a referência central no discernimento dos espíritos.”

O segundo elemento chave:

Uma vida espiritual integral. Deus comunica-se, mas para acolhê-lo é necessário um ambiente. Por isso falamos do segundo elemento chave do discernimento que é uma vida espiritual. Não se pode passar por um discernimento dos espíritos sem um contexto e um clima de espiritualidade integral. Quando, ao invés, falamos de discernimento comunitário, isso comporta a existência de uma comunidade em caminho espiritual. É a dimensão que S. Inácio chama “sentir com a Igreja” [EE 352–370] que se realiza seja numa comunidade concreta, seja num âmbito da comunhão dos crentes. O cristianismo não existe senão através de uma comunidade, numa comunidade que se nutre da Palavra, sobretudo do Evangelho. Isto implica uma dimensão formativa.

S. Inácio conduz-nos constantemente ao conhecimento e interiorização da Palavra de Deus. E este conhecimento vem através da leitura assídua do Evangelho que, gradualmente, se torna numa leitura orante, contemplativa, incarnada, não só exegética [EE 2]. Além disso, nutre-se da Eucaristia, uma Eucaristia feita vida, que conduz à familiaridade constante com Jesus através da união com Ele na fé e através a assimilação dos seus sentimentos, das suas escolhas, do seu modo de viver na obediência ao Pai, na procura da sua vontade e do anúncio do Evangelho (Lc 24, 13–35). Esta comunidade é sempre inserida na comunidade grande da Igreja estendida até aos confins do mundo, abraçando toda a humanidade e toda a história. A comunhão eclesial, com a sua diversidade e com as suas diversas expressões, abraça também aqueles que não são crentes porque em todos reside a semente da verdade.”

O terceiro elemento:

O sujeito. O terceiro elemento chave é o sujeito que discerne os espíritos. É a pessoa, quando se trata de uma eleição pessoal; o sujeito fala de uma pessoa que é determinada, no seu procurar e querer, que se orienta para Deus. Uma pessoa que tem um conhecimento de si própria, consciente dos movimentos interiores, que chamamos diversos “espíritos”, normalmente expressão dos desejos, afetos e aspirações. S. Inácio convida constantemente a aprender a ler os movimentos interiores.

A espiritualidade inaciana é uma espiritualidade das moções interiores, portanto, não é uma espiritualidade das razões, mas dos afetos. Esta conduz a uma “liberdade interior”, com um processo de libertação, com um único objectivo, aquele de poder ser verdadeiramente disponíveis e indiferentes ao querer de Deus [EE.23]; verdadeiramente desejar e eleger só a vontade de Deus e a colocar os meios, tanto quanto ajudem a colocá-la em ato.

[…] Uma comunidade a caminho da liberdade para procurar e encontrar a vontade de Deus [EE. 1], capaz de ler os sinais dos tempos através dos quais se comunica o Senhor, discernir os movimentos dos espíritos para escutar, precisa de entender no seu interior e eleger o caminho indicado por Deus (como experiência do Êxodo). Não basta sentir, escutar, precisa de entender quais os movimentos do espírito que emergem na comunidade. Saber como ler estes movimentos é talvez a maior dificuldade para uma comunidade no discernimento, como o é para uma pessoa. O único caminho, no entanto, é meter em prática estes processos.”

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