O homem é a criação predileta de Deus. Deus o ama imensamente e o convida a participar de sua vida divina. Essa dignidade é assumida pelo ser humano na medida em que ele vive em comunhão com Deus, consigo mesmo, com os demais e com o mundo criado. A ruptura dessas relações de comunhão, fruto do pecado, é que leva a uma injustiça tão grave como o tráfico de pessoas, onde se fere a dignidade da pessoa, a sua grandeza.
“Uma sociedade justa pode ser realizada somente no respeito pela dignidade transcendente da pessoa humana. [...] Em nenhum caso a pessoa humana pode ser instrumentalizada para fins alheios ao seu mesmo progresso, que pode encontrar cumprimento pleno e definitivo somente em Deus e em Seu projeto salvífico” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 132-133).
A liberdade é uma característica fundamental da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus. É através dela que o homem se orienta para o bem, busca a sua felicidade plena. Deus quis nos dar esse grandioso dom para que O busquemos espontaneamente, respondendo à essa fome interior que temos.
Essa liberdade dos filhos de Deus se realiza em plenitude em Cristo. Cristo nos liberta do jugo da lei, da escravidão do pecado e nos abre caminhos de vida plena. Ele nos faz livres para que frutifiquemos os nossos talentos no serviço de Deus e para o bem da humanidade (Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n. 41).
A liberdade como Paulo entende, na passagem bíblica que inspira o lema da Campanha da Fraternidade de 2014, é o estado em que a pessoa anda e vive no Espírito (Gl 5,5), de tal forma que produz o fruto do Espírito (cf. Gl 5, 22-23) e com alegria e gratidão faz a vontade de Deus (cf. Gl 5,14, Rm 8,4). A pessoa que é realmente livre já não atua por coação, mas serve a Deus e aos irmãos voluntariamente (cf. Rm 6,22), com alegria de coração.
A liberdade cristã visa, além do amor a Deus, o amor ao próximo. Ao inaugurar a lei da liberdade (Cf. Gl 4,7, Rm 8,14ss), Cristo inaugura também a lei do Amor (cf. Jo 15,12). “Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é plenamente realizado” (1Jo 4,11-12).
O encontro com o outro, com suas necessidades concretas, é um dos frutos da liberdade dos filhos de Deus. Quem ama e é verdadeiramente livre não é indiferente ao sofrimento do outro. Deus, primeiramente, é quem sai ao nosso encontro e nos ensina que somente no encontro com os demais nos realizamos como pessoa.
Leia MaisCF 2014: itinerário de fé e compromisso pascalCF 2014: Saiba mais sobre as rotas do tráfico de pessoas no BrasilO Papa Francisco, quando esteve no Brasil, em uma das Missas que celebrou e no encontro com o episcopado brasileiro, convidou a todos a promoverem a proximidade e viverem a “cultura do encontro”:
“O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade – uma palavra que se está escondendo nesta cultura, como se fosse um palavrão –, a solidariedade e a fraternidade são elementos que tornam a nossa civilização verdadeiramente humana.
[...]Temos de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro.
Quero vocês quase obsessivos neste aspecto! E fazê-lo sem ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”, mas guiados pela certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la (cf. Lc 24, 13-35).”
Atentar contra a liberdade viola a dignidade da pessoa humana. Por isso que o tráfico humano é grave e é uma realidade, que nós cristãos devemos sair ao encontro.
Após aprofundarmos um pouco no lema da campanha, podemos dizer que a liberdade abarca todas as dimensões da pessoa: o corpo, a mente e o espírito (cf. 1 Ts 5,23).
Peçamos a Maria que nos ajude a ser cada dia mais livres e que nos dê forças para que nos comprometamos a promover esse precioso dom a cada vez mais pessoas.
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