Sempre me questionei sobre as razões que levam uma pessoa ao suicídio. Será que a intenção é acabar com a própria vida ou acabar com algum sofrimento? A consequência deste ato, de qualquer forma, é a mesma: a morte.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos no mundo. Estatísticas globais também dizem que, a cada suicídio consumado, há cerca de 25 tentativas de suicídio. Ou seja, nos próximos 40 segundos haverá uma morte por suicídio e outras 25 pessoas tentando acabar com sua própria vida. No Brasil, estatísticas mais recentes nos dizem que acontecem 10 mil suicídios por ano, ou seja, aproximadamente 27 por dia. Quer dizer que, a cada hora, uma pessoa comete suicídio e outras 25 pessoas tentam o feito. Que terrível!
Porém, eu não gosto de ficar nas estatísticas. Por isso, pretendo que esta sucinta reflexão nos ajude a compreender melhor este triste fenômeno, sensibilizando-nos para, assim, podermos sair ao encontro das pessoas que, buscando acabar com algum sofrimento, possam pensar e/ou tentar o suicídio.
Sabemos que este fenômeno não exclui nenhuma classe ou tipo social, profissão, religião e, em certa medida, idade. Nos últimos tempos, também tem crescido o número de médicos e sacerdotes que cometem suicídio. Só o fato de escutar ou ter que falar sobre este tema nos gera certo temor e insegurança, pois lembramos de alguém que cometeu suicídio recentemente, lembramos dos números assustadores ou até de nós mesmos, pois também podemos ter pensado nessa possibilidade.
No campo da Filosofia, alguns autores já abordaram o tema, como Albert Camus, em sua principal obra filosófica O Mito de Sísifo, em que nos apresenta uma reflexão sobre o absurdo e o suicídio. Camus diz que a vida cotidiana do homem é absurda, e que a insignificância da condição humana se traduz em angústia. Ele afirma: “só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia”. Esta aproximação, embora bastante existencialista, pode nos apresentar algumas lições.
No campo da Sociologia, temos autores que analisam a esfera das circunstâncias que conduzem o ser humano a cometer o suicídio. Um dos principais, Émile Durkheim, no seu livro O Suicídio, faz um estudo sobre a relação entre o aumento das taxas de suicídio e os níveis de baixa integração social. Ou seja, para ele, as pessoas que não têm vínculos sociais duradouros são mais propensas a cometer suicídio.
Durkheim distingue três tipos principais de suicídio. O suicídio egoísta, relacionado a uma baixa integração social; o suicídio altruísta ou filantrópico, como uma forma de sacrifício; e o suicídio anômico, relacionado a uma fraca regulação social entre as normas da sociedade e o indivíduo, como, por exemplo, a corrupção.
No campo da Psicologia também encontramos autores que se têm aprofundado sobre o tema. Um deles, Viktor Frankl – fundador da Logoterapia, que é a terceira escola vienense de psicoterapia – percebeu, pelo estudo teórico e pela auto-experiência, que somente aqueles cujas vidas possuíam algum sentido conseguiam enfrentar o sofrimento até o fim. Numa entrevista, diante da pergunta sobre por que há pessoas que sofrem mais do que outras, e se estas não poderiam duvidar sobre a possibilidade de encontrar o sentido da vida, Frankl responde: “Você não vai acreditar, mas dados estatísticos mostram que pessoas que iam morrer logo percebiam com mais clareza um sentido na vida do que as demais pessoas”. Isto é um contraste muito grande, pois pode nos mostrar o absurdo que, no fundo, é o suicídio.
Frankl nos ensina ainda mais a partir de seu best-seller, o livro Em busca do Sentido: "Nós podemos descobrir o significado da vida de três diferentes maneiras: fazendo alguma coisa que nos realiza; experimentando um valor como o amor; ou pelo sofrimento." Porém, somos conscientes de que lidar com o sofrimento não é fácil e, por isso, precisamos de ajuda. Penso que as palavras do psicólogo Aureliano Pacciola podem nos esclarecer melhor esta situação: “É aceitável que, em determinados momentos da vida, todos nós possamos ter vontade de dar fim a uma dor, uma angústia, incluindo aí o pensamento de morte. São ideias momentâneas, passageiras. A linha que separa o normal do patológico, no caso de suicídio e/ou ideação suicida, é o ato de delinear um projeto e começar a executar o projeto para o suicídio”.
Leia MaisSuicídio: Como identificar e ajudar? Quero me dirigir também às pessoas que talvez já pensaram no suicídio ou já tentaram cometê-lo. Busquem ajuda, há ferramentas profissionais para lidar com o tema! E, por mais que existam, hoje em dia, ferramentas para lidar com o problema do suicídio, é sempre necessária uma estratégia multidisciplinar e relacional, buscando pessoas prudentes para falar sobre nossas ideias, dores e sofrimentos.
Esta estratégia multidisciplinar e relacional tem de estar dentro de um entorno amplo e holístico sobre nossa própria condição humana. Somos seres em relação; por isso, o fato de passarmos por momentos de tormento, angústia, vazio existencial, não quer dizer que deixamos de ser criaturas sempre em relação com o nosso Criador, pois Ele sempre está querendo se relacionar conosco e ser a base do nosso relacionamento com outras pessoas, nossos semelhantes.
Deus busca resgatar-nos “na tempestade”; talvez, nem sempre “da tempestade”. Às vezes, Deus nos coloca em certas situações e pode se valer de nosso sofrimento e das próprias tentações para formar-nos. Ou, como diz um salmo: “Dai-nos, Deus, vosso auxilio na angústia”. A Fé tem que dar sentido e sustento para a nossa vida. Assim, poderemos enfrentar as tentações e desolações que nos fazem perder o sentido. Olhemos para cima, para os valores supremos que temos: família, amigos, Igreja, comunidade; e busquemos nos autodeterminar sempre em Deus e com Deus, nunca sozinhos.
A realidade do sofrimento e da dor é um mistério, não uma experiência sem sentido. O sofrimento é uma oportunidade de escolha para ver o rosto de Jesus. A dor sempre será contingência, pois somos seres contingentes - não perfeitos - mas buscamos a perfeição. Por isso, o sofrimento bem vivido nos revelará cada vez mais o Sentido das nossas vidas. Por último, lembremos que, na oração do “Pai Nosso”, não pedimos para não sermos tentados, e sim para não sucumbir, não cair na tentação. Pedindo assim, Ele nos dará a força para resistir.
No fundo, para buscar acabar com algum sofrimento, temos que fazê-lo colocando nosso olhar em Deus, que está por cima de nós e nos ajuda a não cair nessa tentação - uma das piores, aliás - de acabar com nossa própria vida.
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