Espiritualidade

Fratelli Tutti: O apelo do Santo de Assis

Cankin Ma 2020 (arquivo pessoal)

Escrito por Cankin Ma Lam

04 OUT 2021 - 09H40 (Atualizada em 04 OUT 2021 - 10H17)

Shutterstock

Há um tempo, me pediram para falar sobre a reconciliação. Na hora de montar os slides, foi difícil pensar em quais imagens usar. Se bem seja a reconciliação uma realidade muito concreta, às vezes fica difícil representá-la através de imagens.

Leia MaisQuem são os missionários hoje?Fiquei surpreso ao ver fluir a escolha na hora de montar o slide sobre os quatro níveis de ruptura e de reconciliação (tópico clássico ao falar do tema): com Deus, consigo mesmo, com os irmãos, com a Criação. Escolhi a imagem de Francisco de Assis. Não demorei em encontrá-lo abraçando a Cruz, a alguém que sofre ou de braços abertos perante a Criação toda.

Pois bem. É a imagem deste santo que vem de novo à tona com a nova encíclica do Papa, assinada na Basílica de Assis, tendo como título Fratelli tutti (irmãos todos), frase tomada de São Francisco (Admoestações, 6, 1: FF 155). Eis o que o Pobrezinho de Assis traz com força para o nosso olhar: a contemplação amorosa que leva a estabelecer relações novas com tudo e com todos.

Já o Papa o expressou de forma belíssima numa encíclica que também toma emprestadas palavras deste Santo no título (Laudato Si’, 10):

"Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior".

O testemunho de São Francisco é um apelo a nos relacionarmos de forma nova com o Criador e suas obras. Aliás, a reconhecer, em cada uma das suas criaturas, irmãos e irmãs se relacionando conosco. E não se trata de um chamamento abstrato, sem rosto nem forma. É um chamamento à fraternidade, ao encontro.

Reprodução Vatican News
Reprodução Vatican News

Isto ficou dramaticamente expresso pelo Papa no Momento Extraordinário de Oração em Tempo de Pandemia, no dia 27 de março de 2020, numa Praça de São Pedro vazia:

"Com a tempestade, caiu a maquiagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso 'eu', sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos".

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Na imagem do Santo de Assis, o Papa indica uma resposta à pergunta "sobre a fraternidade e a amizade social". Sempre lembrando que, em São Francisco, encontramos um contemplativo que aprendeu do Mestre como olhar para a realidade. Pois o Filho se encaminha a “entregar ao Pai todas as coisas ‘a fim de que Deus seja tudo em todos’ (1Cor 15,28)" (LS, 100).

Escrito por:
Cankin Ma 2020 (arquivo pessoal)
Cankin Ma Lam

Nascido no Equador, filho de pai chinês é apóstolo de plena disponibilidade no Sodalício de Vida Cristã. Atualmente faz caminho ao sacerdócio e estuda teologia na Universidade Católica de Petrópolis.

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Por Redação A12, em Espiritualidade

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