Espiritualidade

Não acredito no Amor

João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)

Escrito por João Antônio Johas Leão

09 MAR 2018 - 08H59 (Atualizada em 13 JUN 2024 - 11H37)

Suzanne Tucker/ shutterstock

Não acredito no Amor. Talvez possa desconfiar que exista o amor (com letra minúscula), ou até muitos amores. 

Mas um Amor único, que envolva toda a realidade, que me envolva especialmente e que me doe um sentido para a vida, para o levantar de manhã e trabalhar, esse amor não se vê por aí, afinal, tudo parece passar. Leia MaisO amor é a força necessária que nos move até DeusO Coração de Jesus: O amor não é amado

Ontem amamos; hoje já não amamos mais. Quem garante que o amor volte no futuro? E que não vá embora de novo?

É tão difícil acreditar no Amor, que hoje já não se quer ter filhos. Para quê? “Com o mundo do jeito que está” — dizem alguns — “é mais amor não colocar mais ninguém aqui para sofrer tanto”. Os filhos, afinal de contas, fogem do controle dos pais, mesmo quando são planejados e cuidados.

E se não podemos ter o Amor, pelo menos queremos ter o que podemos debaixo de nosso controle.

Os que ainda querem ter filhos, gostariam de poder escolher cor, sexo, estatura física, inteligência, supostamente para que os filhos não sofram preconceito, mas também porque eles mesmos gostariam de não ser apenas pais, mas criadores; ter o controle do filho como têm controle do liquidificador.

E essas pessoas não parecem estar totalmente fora da razão. O mundo realmente tem muita coisa que asfixia, dá vertigem, a quem tenta não viver encerrado em uma bolha protetora da realidade. Será que elas estão mesmo certas? Pensam alguns cristãos. Para não falar que são cristãos também aqueles mesmos que não querem ter filhos. Por que a insistência nas crianças?

Porque elas são a prova física de que alguns ainda acreditam que vale a pena viver nesse mundo. Um nascimento é o oposto a um suicídio. O suicídio, você pode fazer sozinho. Em um ato extremo, você se convence e proclama para o mundo: “Não dá mais. É melhor não ser, do que ser desse jeito aqui”!

Um nascimento exige o encontro entre o homem e a mulher (pelo menos é o natural). Os dois juntos dizem: “Vale a pena que uma outra geração viva isso que nós vivemos”. Claro, tanto o que suicida quanto os que procriam podem o fazer de forma precipitada. Mas o significado da ação parece ser esse mesmo.

E enquanto o suicídio é a última consequência daquele que não acredita no Amor, o nascimento não é uma prova de amor suprema. Em todo caso é um primeiro fruto de um amor, que pode ser muito forte, mas que só se completa na entrega do próprio filho de volta ao Criador.

Como assim? Está na Sagrada Escritura: “tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito, para que não morra quem nele crê, mas tenha a vida eterna.” (São João 3, 16). O Amor de verdade não está tanto na entrega de si mesmo, mas na entrega de algo que é, por assim dizer, mais do que você mesmo, seu Filho único! É quando Abraão vai sacrificar Isaac. É quando Maria está de pé junto a Cruz. E por isso é difícil de acreditar no Amor.

É claro: em Jesus, é Deus que se entrega a si mesmo. Mas Ele é o único que pode fazer isso, literalmente. É o mistério da Trindade. Nós só somos três se nos unimos em uma família. E o mais semelhante que podemos fazer é amar tanto a ponto de entregar o nosso filho único de volta a Deus.

Amamos quando deixamos que o outro seja, verdadeiramente, outro. E é só aí que nos encontramos de verdade com eles. É só aí que o amor não é possessão, mas liberdade. E esse único Amor é um verdadeiro drama para nós. Mas é esse mesmo drama que revela o único Amor verdadeiro, difícil, que nos leva até a morte para nos fazer alcançar a ressurreição.

Escrito por:
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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