Espiritualidade

O melhor de nós mesmos

"Maria escolheu a melhor parte e não lhe será tirada". (Lc 10,38-42)

Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Escrito por Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

31 MAI 2022 - 08H45 (Atualizada em 02 JUN 2022 - 09H24)

O melhor de nós mesmos consiste na autenticidade, sempre em construção. Autenticidade da verdade interior, onde mora o dom precioso da consciência, porta aberta para a lucidez. No balançar das tensões, a lucidez é o fiel da balança. No balancear das contingências, importa a análise dos limites, avaliação das consequências e a reflexão sobre o que propicia boas escolhas e firma o sentido de viver.

Consciência e lucidez: fonte e poço. Porque podem secar, prevaleça a arte de conhecê-los e cultivá-los. Tal arte passa pelo prazer de pensar, o gosto de meditar, o apreço por contemplar. Terreno fecundo donde brota o orar: falar com Deus também a partir de si mesmo. Precisamos de Alguém, outro que nós, maior que tudo, para nos escutar. Somos Dele imagem.

Ora se dá uma cultura que contamina milhões que desconhecem as chances do silêncio e desconhecem o empenho em delimitar um tempo para perceber o sentido de ser – sentir – existir – conviver.

Podemos nos perder nas coisas e até mesmo nos relacionamentos com os outros. Vidas aceleradas sem tempo para parar. A falta de ritmo e de compasso entre o ser e o fazer. Fechados no agora do imediato. Sem tempo certo para pausar e pensar, meditar e contemplar. E entre crentes, aceleram a recitação de orações, mas não oram. Às vezes é preciso se envergonhar de si mesmo.

Leia MaisA virtude da coragem a partir da confiança em DeusA vida como caminho para uma harmonizaçãoPensar e meditar são como uma estação. Paramos o trem da vida. Em que mesmo, leitora e leitor, em que você se detém, se demora? Seu tempo de refletir...

Perigo grande este de ser gente cansada. Cansaço até do excesso de informações que não geram nem conhecimento real, conclusivo, nem um saber lidar com o real da vida. A massa de informações satura e entorpece o gosto de refletir.

Pensar a vida. Enxergar a amplidão do humano e a importante pequenez de nossa grandeza: amados de Deus para saber amar a vida e os outros. Saber conviver. Isso mesmo: o prazer de pausar e pensar leva à meditação.

A gente medita sobre emoções impulsivas e escolhas afetivas e sobre as consequências de nossos sentimentos que permanecem e nossos laços, entre acertos e equívocos. Entre ingenuidades e descobertas.

Quem medita conhece um pouco mais do próprio centro (fonte e poço), sujeito que somos. Onde há vida, há gradação: começo, meio e fim, tipo conclusões decorrentes do pensar. Sem meditação, divagamos. Vidas desvairadas que só querem saber de pão, prazer e desconhecem a sede profunda que nos habita.

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Quem medita sente o chamado interior para harmonizar-se por dentro, ressignificando acontecimentos em vista de uma vida-canção sem fragmentos e dissonâncias contínuas.

Meditando nossas fragmentações, curamos feridas para não mais sangrar. E podemos orar: nossa vida de fé face ao Totalmente outro, mas bem perto de nós, Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado que, ressuscitado, é o Senhor Jesus, Luz do nosso viver.

Como frutuoso é perceber as teias de relações em nosso território (interior e exterior), para que a luz da consciência não permaneça ocultada pelo tumulto de emoções e notícias que não levam a conclusão nenhuma. Puro agito sufocante que conduz a linhas de fuga do real da vida: presença, aconchego, acompanhamento.

Sendo assim, pensar e meditar, contemplar e orar é exercício de confiança na bondade radical de ser – existir – conviver. Pressupõe clara disciplina de treinamento. Requer desejo, busca e experienciação. Quando luz se faz e nossa vida-canção exala sabedoria própria a cada idade, a Esperança alegre de bons caminhos se manifesta e abre horizontes a percorrer. É triste gente sem horizontes.

Leia MaisA paz desejadaUma consciência despertaTal estilo de pensar e meditar, contemplar e orar nos impede de derrapagens para uma vida banalizada. Este estilo chega até ter efeito terapêutico: cura e liberta. Que apoio. Que chance. Que boa estrutura de vida!

É possível que leitoras e leitores já se aperceberam que nossa Liturgia Católica, sacramentos celebrados e vividos de ano a ano, de Páscoa a Páscoa, é um sistema ritmado, meditativo, transformador. Fonte que dessedenta nossa sede de coerência e alegria, de entrega ao mistério que também somos.

Somos salvos de desperdiçar oportunidades e de não perder o sentido do peregrinar neste belo planeta tão desafiante. A beleza da vida nos convida a demorar.

Assim fica: quem parte da luz da sua consciência de ser, não fica acorrentado; fica livre para a fertilidade do seu viver e de uma autêntica transcendência, o que traz uma sensação de saúde, de sanidade e de santificação.

Verifiquem: é ou não importante conhecer a serenidade da consciência para tomar parte no jeito criativo como Deus nos deseja?

Escrito por
Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.
Padre Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Missionário redentorista, atua na Diocese de Juiz de Fora/ MG. Escreve sobre Psicoespiritualidade para o Portal A12.

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Por Redação A12, em Espiritualidade

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