Presente nas mãos de muitos devotos, dependurado em retrovisores de automóveis e até mesmo nos pescoços, como acessórios da moda, está presente o Rosário. Algumas religiões se utilizam de cordões de contas para ajudar seus fiéis na oração ou meditação. Os budistas se utilizam do Japamala em algumas meditações; os muçulmanos recitam o masbaha ou misbaha para invocar os 99 nomes de Deus, os cristãos ortodoxos conservam o komboskini ou chotki e até os anglicanos também têm o seu “Rosário”, criado no século 20, no Texas (EUA).
O Rosário Católico ou Mariano surgiu como necessidade, para que os orantes não se percam na oração meditada. As orações empreendidas desta forma eram, no seu início, uma alternativa à recitação dos salmos, pelos monges que não sabiam ler. Como os religiosos têm a obrigação de rezar os salmos, os iletrados resolveram substituir por orações do Pai-Nosso e da Ave-Maria, contemplando os mistérios da vida, morte e ressurreição de Cristo. É chamado de “Rosário” por ser como uma coroa de rosas oferecidas a Maria.
Leia MaisA devoção milenar a Nossa Senhora do RosárioInicialmente, não havia a cordinha. Contava-se nos dedos ou separando pedras ou grãos. As cordas são posteriores. Faziam-se nós nas cordas ou amarravam pedras a elas formando contas.
Não é correto afirmar que o Rosário surgiu com São Domingos de Gusmão (1170-1221), no século 13, numa aparição de Maria, que na ocasião, lhe ofereceu o Rosário como arma de combate às heresias e que, pelo seu uso, se obteria muitas conversões. Quando isso ocorreu, o Rosário já existia. Mas é inegável afirmar que, após tal aparição, houve grande impulso na propagação do objeto.
No século XV, um frade dominicano, Alano de la Roche (1428-1475), criou as Confrarias do Rosário, reunindo homens e mulheres leigos para rezar. Além de orantes, eram pregadores e missionários do Santo Rosário, propagando-o como meio de oração e meditação, o que ajudou ainda mais na divulgação da prática da recitação e oração do Rosário. Aliás, coube a Alano de la Roche dar a forma atual ao objeto e a distribuição das orações. No século seguinte, o Rosário já era bem popular e o Papa São Pio V (1504-1572) atribuiu a Nossa Senhora e às invocações de seus devotos, a partir da recitação do Rosário, a vitória na Batalha do Lepanto, ocorrida em 1571, surgindo daí a festa de Nossa Senhora do Rosário, comemorada em 7 de outubro.
O terço é um fragmentado das 150 Ave-Marias, do Rosário. Em cada grupo de 50 Ave-Marias, são contemplados os mistérios da vida de Cristo seguindo um tema geral. Por exemplo, nos Mistérios Gozosos se contemplam as alegrias, nos Dolorosos as dores, como bem designam os nomes. Tem ainda os Mistérios Gloriosos que tratam da glória de Cristo enquanto ressuscitado. Estas três meditações formavam o Rosário completo. Por isso uma parte dele passou a ser chamada de “terço”, pois contempla um terço das 150 Ave-Marias.
Tal nomenclatura permanece, mas foi acrescentada ao Rosário mais uma contemplação de mistérios em 2002, pelo Papa São João Paulo II (1920-2005), em sua Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”, passando o Rosário a formar, a partir de então, 200 Ave-Marias. Estes mistérios passaram a ser nomeados por Luminosos, pois dizem respeito aos milagres e sinais de Jesus, como luz para nossas vidas.
O Rosário ou Terço é uma catequese, a Bíblia meditada, mas que muitas vezes é subestimada pelos eruditos. Não são poucos os papas que recomendam o Rosário. Já aqui citamos São Pio V e São João Paulo II, mas o sucessor deste, Bento XVI, assim se referiu ao Rosário:
“O Rosário é uma oração bíblica, totalmente tecida pela Sagrada Escritura. É uma oração do coração, em que a repetição da ‘Ave-Maria’ orienta o pensamento e o afeto para Cristo. É oração que ajuda a meditar a Palavra de Deus e a assimilar a Comunhão Eucarística sob o modelo de Maria, que guardava, em seu coração, tudo aquilo que Jesus fazia e dizia, e sua própria presença.”
O devoto de Maria, com o Rosário nas mãos, oferece sempre a esta Mãe Clementíssima rosas de orações, buscando pela sua intercessão o conforto espiritual de que necessitam, assim como também por meio dele, adorar ao Deus Trino e Uno que está no meio de nós.
Dom João Baptista Barbosa
Monge Beneditino
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