São Paulo tinha um discípulo, Timóteo, que apesar de ser jovem, foi colocado como encarregado de várias situações delicadas, como pregar para pessoas que tinham o coração duro, corrigir erros e proteger as pessoas de falsos mestres.
Como foi que Timóteo, tão jovem, já se encontrava maduro o suficiente para tais tarefas que o apóstolo lhe encomendava?
A própria escritura parece nos sugerir:
“Alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tão diligentemente tens seguido” (1Tm 4,6).
Essas palavras que se fazem vida, de onde vieram? Talvez aqui encontremos uma pista para o problema de porque as crianças de hoje parecem ainda menos interessadas em rezar que as de outras gerações.
Leia MaisO que é Missão na Igreja?Um elemento que pode contribuir para essa “falta de comunicação geracional” é a avassaladora velocidade com que a tecnologia entra em nossas casas e toma conda das nossas vidas.
Uma criança já está tão familiarizada com todos os apetrechos tecnológicos, que muitas vezes seus avós e os próprios pais não conseguem acompanhar.
Não se trata de dizer que a tecnologia é boa ou má, mas de evidenciar que muitas vezes ela toma uma dimensão em nossas famílias que não controlamos.
Não se sabe o acesso que às crianças têm a conteúdos na palma da mão. E todo esse fenômeno tem uma força que pode facilmente dificultar as relações pessoas reais (Porque virtualmente todos se “encontram”). E a fé, no meio de tudo isso, passa a um plano muito distante, mesmo que pelo WhatsApp recebamos várias mensagens bonitas, que falem de Deus.
A fé é uma resposta que se dá a um anúncio de uma Palavra que vem de Deus. Essa Palavra é Jesus Cristo, encarnado. Presente na Eucaristia e na vida concreta da vó, da mãe, do pai. Essa fé só se transmite se esse anúncio, uma vez recebido, se passa adiante. E isso parece exigir o contato físico, como diz São Paulo novamente, mas agora aos Romanos:
“A fé vem pelo ouvir as boas novas”. (Rm 10,17)
A Palavra de Deus se fez carne, pessoa, e anunciou essas boas novas. Hoje em dia, podemos escutar a Bíblia pelo celular, mas não parece ser a mesma coisa. Se essa Palavra não está encarnada, como estava na mãe e na vó de Timóteo, ela não pode dar frutos porque “não caiu na terra e morreu”.
Todos esses aparatos tecnológicos podem ajudar a que essa semente da Palavra que foi plantada (realmente, fisicamente, pessoalmente) cresça, mas não pode substituir o contato real com outros “Cristos encarnados” em nossos parentes e pessoas próximas.
Não tratamos especificamente das crianças, mas com o que foi dito, parece evidente que, se as crianças não sabem mais rezar direito, é porque todo esse processo de encarnação de Cristo, anúncio da boa nova e escuta e fé tem tido seus problemas atualmente, por conta da virtualização do mundo real.
Assim, nos colocamos ao lado do Papa Francisco, que costuma pedir, sempre que tem a oportunidade, que os jovens se sentem aos pés de seus avós, que os escutem, que descubram a riqueza de suas vidas e os valores perenes que eles encarnam. Isso tem muito mais valor do que qualquer texto que se possa ler ou curso de formação na fé que se possa fazer.
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