Espiritualidade

Por que ser pobre, se a riqueza é o maior anseio da sociedade?

Escrito por João Antônio Johas Leão

11 JUN 2015 - 07H00 (Atualizada em 25 JUN 2024 - 12H03)

Melnikov Dmitriy/ shutterstock

Os religiosos e alguns leigos quando fazem os votos de obediência, pobreza e castidade têm a intenção de dar testemunho da presença do Reino de Deus no meio de nós. 

Eles são para todo o mundo um sinal concreto de que a vida em Cristo é não só possível, mas realmente a vida plena que todos almejamos viver. 

Leia MaisO que são os votos de pobreza, castidade e obediência?

Para a mentalidade mundana, no entanto, é muito difícil compreender todas essas renúncias feitas, vistas como exageradas, antinaturais, como um “perder a vida”.

Como podemos entrar um pouco mais nesse mistério da vida religiosa e entender um pouquinho melhor essa opção que alguns fazem? De maneira específica vamos dar uma olhada no voto da pobreza.

Por que ser pobre, se a riqueza talvez seja um dos maiores anseios da sociedade?

O primeiro que me parece honesto dizer é que os que pensam que a vida religiosa com seus votos é uma perda de tempo, ou inclusive da própria vida, possuem uma certa razão.

Os religiosos e leigos consagrados realmente perdem sua vida, mas no sentido que o mesmo Senhor Jesus disse no Evangelho: “… o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, esse a encontrará” (Mc 8, 35).

Todos os religiosos, de alguma maneira, levaram esse versículo muito a sério. E se acreditamos que Jesus diz a verdade, então possuem a vida verdadeira. Deixaram tudo para seguir o Senhor, e a vida que possuem é o próprio Cristo, que disse uma vez “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.

E com a frase “deixaram tudo”, entramos um pouco mais no voto da pobreza sobre o qual queremos meditar por um instante.

Uma vez um jovem que possuía muitos bens se aproximou de Jesus e lhe perguntou o que deveria fazer para conseguir a vida eterna (Esse episódio é narrado nos três Evangelhos sinópticos). Jesus responde a ele que cumpra os mandamentos; o jovem, por sua vez, diz que os cumpre desde criança.

Jesus então o chama a algo mais:
“Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me ”! Mas o jovem não o fez porque estava apegado aos vários bens que possuía.

O voto da pobreza mostra que o tesouro que nos espera é muito mais valioso do que qualquer tesouro que possamos possuir aqui na Terra.

O religioso se rendeu ao chamado de Jesus. Deixou que esse chamado vença em seu interior e decidiu dar esse “salto no abismo” confiando que Deus o amparará. Mas existe um detalhe muito interessante, o “tesouro no céu” que Jesus promete.

A pobreza não é o fim, mas é o testemunho de que no final existe um tesouro enorme esperando-nos. O voto da pobreza mostra que o tesouro que nos espera é muito mais valioso do que qualquer tesouro que possamos possuir aqui na Terra.

Mas é preciso ter claro que a recompensa não está apenas no Céu, mas começa já aqui na Terra e por isso podemos falar de uma vida plena que já começa enquanto peregrinamos rumo ao nosso destino, ao encontro com Deus.

Quando Jesus fala do reino dos céus em parábolas, Ele o compara a um tesouro que alguém encontra em um campo. Essa pessoa vende tudo o que possui para comprar a terra onde esse tesouro está escondido (Mt 13). Esse tesouro nós já o experimentamos aqui, mas por melhor que seja a experiência de possuí-lo aqui, certamente a plenitude só encontraremos no Céu.

Todos estamos chamados a viver “pobres e humildes de coração” como dizia Jesus nas Bem-aventuranças.

Por último, vale lembrar que não são apenas os religiosos que podem possuir essa vida plena. Todos somos chamados à santidade (que é o nome que damos a essa vida plena). Todos estamos chamados a viver “pobres e humildes de coração” como dizia Jesus nas Bem-aventuranças.

E se temos alguma dúvida de que ao deixar a nossa vida para seguir Jesus vamos perder alguma coisa, aí entram os religiosos com o seu testemunho de vida para afirmar que não perdemos nada do que realmente importa para a nossa felicidade e para a felicidade dos que nos rodeiam.

Demos graças a Deus pela vida religiosa, que nos ensina que é possível viver o amor até o extremo, e nos entreguemos também a Jesus que nos convida a deixar tudo por Ele, seja entregando-nos totalmente no matrimônio ao esposo e aos filhos, seja também na entrega total e sem medo de si a Ele na vida religiosa, para a qual alguns são chamados.

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